segunda-feira, 5 de março de 2012

Confinamento urbano


O que eu mais temia aconteceu.

Saí do chão e estou no topo do mundo.

No mais terrível dos pesadelos.

No 12º andar de um prédio cheio de regulamentos exagerados.

De não faça isso ou aquilo.

Do ter que pedir autorização para tudo.

Do ter de parar de viver às 22 horas.

Do alto da minha varanda enxergo a grandeza do mundo.

O mar nas suas distâncias mais longínquas.

Os navios que se vão não se sabe pra onde. 

Milhares de luzinhas que se acendem e apagam como num espetáculo natalino.

Janelas que se abrem e fecham.

Carne sobre carne.

Almas sobre almas.

E observo que o confinamento se alastra.

As pessoas se escondem cada vez mais do mundo.

No chão, pessoas pequeninas, carros velozes e pequeninos... a vida.

A engenharia caótica da cidade está nua aos meus olhos.

O trânsito, o ir e vir, o conversar, o comprar... o existir.

Eu, da minha torre fortificada, vigiada e solitária estou 'livre' das mazelas das ruas.

Estou preso e 'seguro' na pior das prisões.

O aglomerado humano.

Com suas loucuras, intolerâncias e exageros comportamentais.

Com o 'não viver dos chatos', com a falsa sensação de que sou feliz porque estou imune ao mundo.

Excluído da vida.

Porque em um edifício não se vive.

Apenas se passa os dias contando os dias de morar novamente no chão.

Que é onde a vida está.

Com todas suas nuances.

Sem truques, sem regras.

Com o bom e o ruim andando lado a lado.

A segurança e o perigo dormindo na mesma cama.

Mas com a bandeira da liberdade içada no topo do coração.

Balançando ao sabor do vento.

Ao sabor da minha vontade.

Ao sabor do meu pleno e saboroso existir.

Sem dar satisfação a ninguém.

Que é como a vida deve ser.

TõeRoberto

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