segunda-feira, 2 de maio de 2011

Reminiscências

Éramos grandes naquela madrugada sem nome.
A garoa cantava firme sua canção de molhar.
Uma luz apática, quase morta,
nascia de nossos dois pares de olhos negros
de noite vazia
de noite sem o bocejo luminoso de estrelas
sem despontar de lua.

Éramos dois naquela noite vampiresca
naquela noite desprovida de expectativas.
Foi quando a carruagem passou
trazendo na boleia colorida
o fantasma de Marta
há muito tempo adormecida.

Veio-nos Guaranésia:
o pique, machucados;
o mocinho, esconderijos;
a cabra-cega, os postes.

Somos três marinheiros - agora dois!
Que vieram fazer?
- Combater!
Combate um pouquinho pra eu ver?

E combatíamos naquela noite sombria
sem elos de presente
sem necessidade de futuro
o que até aquela data
não importava pra nada.

O poeta, na noite, só amava a poesia...
amava o poema
e deliciava-se com suas perfurações terrenas
a embrenhar-se pelos corações solitários.

E depois a luz se fez
e nada se fez de nada
e nada se transformou em nada
e tudo continuou na vida
a relembrar nossas lembranças
da Guaranésia antiga
das nossas vidas antigas
naquele tempo esquecidos.

E choramos baixinho
na manhã que se fazia
como dois bichinhos perdidos
no tempo das nossas vidas.
(Cássia/mg)

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