segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A respeito das liberdades individuais


“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.” Bertolt Brecht

Ando reclamando muito em relação às restrições impostas ao cidadão pela sociedade/governo brasileiro/outros países.

Cada dia que passa vejo leis e regulamentos invadindo o meu dia a dia, me acuando, me empurrando para o exato local em que eles querem que eu esteja: em suas mãos.

Como me mudei para o 'infeliz' de um apartamento reclamo constantemente das dificuldades que tenho em me adequar - e olhe que sou bastante civilizado - às regras draconianas que, em 'nome da coletividade', os pobres moradores impõem às suas próprias vidas.

As regras, muito chatas, até que são passáveis; o problema está na intransigência e na intolerância de muitos idiotas que se escondem sobre as suas asas e se locupletam exercendo sobre o próximo o poder de repressão que elas lhes dão.

São pseudonazistas enrustidos.

E existem pessoas que concordam com isto, achando que viver enclausurado por motivos de segurança é o grande mal necessário dos tempos modernos; mas não existe isto, o que existe é uma grande propaganda - relacionada à segurança - voltada para a classe média que sempre se sentiu privilegiada e 'diferente' e acha que necessita proteger-se e proteger seus bens das mazelas das profundas diferenças sociais que levam a violência às ruas das cidades; muito mais, é certo, à periferia, bem longe das suas confortáveis casas e apartamentos.

São pessoas que concordam com tudo: com o inteiro teor da Lei Seca, com a absurda Lei Antifumo - não sou favorável a ninguém dirigir bêbado ou fumar no lugar que quiser - sou ex-fumante -, estou questionando a maneira como foram impostas ao cidadão -, com o controle das empresas sobre a utilização dos banheiros por seus empregados, com a obrigatoriedade de uma pessoa obesa pagar duas passagens nas empresas aéreas, com a proibição de empregadas domésticas usarem o elevador social dos prédios ou com qualquer outra coisa que seja feita em 'nome da coletividade'.

Coisa bem típica da classe média.

Enfastiada ela se esconde - em segurança - e se omite da sua responsabilidade pela merda da violência que ela ajudou a institucionalizar no país.

Por medo vão concordando cegamente com o domínio total da suas vidas,  pela sociedade e pelo estado, em todos os seus limites... da porta da rua até a sala da suas casas.

Como se isso fosse suficiente para aplacar a sede de controle dos donos da vida, mas não é.

Também seria bom, em nome da saúde pública e 'em nome da coletividade', fechar todos as chaminés das fábricas que poluem, e tirar todos os carros das ruas, só sendo permitido o uso de transporte coletivo.

A classe média ficaria sem carro?

Hipocrisia é o seu nome, duvido!

Também seria bom se o governo obrigasse as construtoras a melhorarem a qualidade das suas obras.

Muito bom se melhorassem em 100% o isolamento acústico dos apartamentos para evitar que cada peido que eu dou no andar de cima, o vizinho de baixo responda com outro; o chão é uma casquinha de ovo.

E entre uma regra e outra vou observando que os problemas, os fatos que levam à criação de leis restritivas pra cima do cidadão não são de minha responsabilidade.

Eu, o cidadão, não fabrico os problemas: o estado e as empresas os fabricam.

E não abrem mão de fabricá-los.

E pra encerrar este assunto chato vou dizer o seguinte:

O grande mal do Brasil não é o bandido que 'obriga' o cidadão a se enclausurar.

O grande mal do Brasil é a péssima distribuição de renda.

Da qual a classe média não costuma reclamar.

E ponto.

De resto eu quero me mudar para uma casinha.

Aquela pequenina de janelas e portas azuis.

Com um cachorrinho magro na porta.

Que apartamento não é lugar de gente morar.

Ou é?

TõeRoberto

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