terça-feira, 31 de julho de 2007

A JACA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Eu vi, aconteceu na minha frente!

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- Palco: Uma praça, Recife - meio-dia; sol cozinhando os miolos.

- Cena 1 - Camelô e o filho vendendo frutas.

- Chega um sujeito vestido todo de branco, aponta uma jaca enorme, no chão, e pergunta o preço.

- O camelô: 5 real!

- O sujeito: Tá vendo aquela clínica ali - aponta uma casa com uma placa: Fisioterapia. Daqui a uns 10 minutos tu manda o moleque levar a jaca até lá. Ah!, e manda troco pra 20 que eu não tenho trocado.

- Saiu e se dirigiu à clínica.

- Cena 2: Sol ardido, o moleque com a jaca na cabeça e vai para a clínica. Chegando lá o sujeito encontra com ele na varanda e diz:

- Sujeito: bota a jaca aí no chão, me dá o dinheiro que eu vou pegar o troco. Espera aí que já volto.

- O moleque entrega o dinheiro, o sujeito entra na clínica.

- 10 minutos depois: nada do sujeito... nem do troco.

- O moleque entra na clínica e pergunta pelo sujeito à recepcionista.

- Recepcionista: médico?, aqui não entrou médico nenhum! É horário de almoço! Tá todo mundo almoçando!

- Cena 3: Sol derretendo o asfalto, lá vem o moleque com a jaca na cabeça.

- Pai: tu voltô com a jaca? Cadê o dinheiro, moleque?

- Silêncio.

- Pai: cadê o dinheiro, infeliz!

- Silêncio.

- Pai - dando um cascudo na cabeça do moleque - ô barriga ruim tem a tua mãe! Como é que alguém vai parir uma coisa burra que nem tu?

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- Eu vi!

- E cheguei à conclusão: a miséria é autofágica!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 30 de julho de 2007

O POVO

POESIA - SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Vi ontem

na praça
o povo.

Nem velho
nem criança
nem moço.

No meio
da praça
de novo
somente
o povo
de novo.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 29 de julho de 2007

CHATOS

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- É um tempo duro!

- Pessoas têm que se multiplicar em dois, três... dez para darem conta de suas atribuições diárias.

- O dinheiro é difícil!

- Ganhar dinheiro tornou-se, lamentavelmente, numa doença.

- Ou ganha, ou morre!

- Às vezes é necessário se vender, outras vezes é necessário vender os outros.

- Pessoas se entregam à orgia do querer, do possuir a qualquer custo.

- Nunca o diabo comprou tantas almas!

- Nunca foi tão fácil dominar o rebanho!

- A vida, dia-a-dia, fica cada vez mais chata.

- A vida está quase que totalmente dominada por gente chata, gente que parece que teve muitos problemas na infância.

- Para entender o que estou falando olhe bem no rosto, nos olhos do Bush.

- Este tipo de gente está metendo o bico em tudo!

- Estão se metendo em todas as áreas das nossa vidas.

- Tem especialista no amor, saúde, viagens, negócios, beleza, tristeza, alegria, sono, leitura, sexo, em tudo o que pensarmos.

- Tudo em nome do dinheiro!

- E querem dar palpites em tudo: no nosso, cafezinho no nosso cigarrinho, na nossa cachacinha, na nossa barrinha de chocolate, na nossa farrinha, na nossa "picainha" gorda, no nosso horário de dormir, no livro que lemos, no programa de tv que assistimos.

- Até naquele pouquinho de irresponsabilidade tão inerente à raça humana eles dão "pitacos".

- Estão presentes em tudo!

- A vida agora tem manual para tudo: "como agradar aquele gato"; "como emagrecer sem fazer força"; "como "ficar com a pele bonita"; "como ficar feliz"; como se sentir amado"; "como sentir prazer"; "como não comer picanha"; "como não fumar"; "como não beber"; "como fazer sexo;" como não ser chato"; "como etc."

- E o dinheiro, em todas as suas formas, vai alienando o rebanho! E tudo parece normal!

- Antes usavam a polícia, os cães e as armas para deixar o rebanho dócil. Hoje, fabricam sonhos e os vendem através da mídia.

- O rebanho se movimenta, o sistema engorda.

- O monstro agradece!

- A vida continua.... só que bem mais chata do que antes!

- E tem gente que acha que estou falando merda!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 28 de julho de 2007

A DIGESTÃO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Bebo o encanto

do pranto.

Comoo não
do coração.

Arroto o silêncio
do tempo.

Regurgitoum rato
no chão.


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 27 de julho de 2007

TÉDIO!

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Minha filha e meu genro postiços (eu os chamo de postiços porque ela é filha de minha mulher) passaram as férias na nossa casa.

- Paulistanos da nata, são duas figuras extremamente interessantes:vivos, alegres, bem-humorados e puxando um pouquinho o saco: gente boa mesmo!

- Adoram o nordeste: história, sol, praias, paisagens, gastronomia.

- São incansáveis em relação a isto.

- Um de nossos passeios - Bahia da Traição - lugar lindíssimo: ao entrarmos na vila, meu genro postiço observou: "que tédio tem este lugar!"

- Parei, prestei atenção e concluí: que tédio tem este lugar!

- 10 horas da manhã, ninguém na rua!

- A gente passava pra lá: um moleque coçando a pereba; uma mulher, na janela, com a mão no rosto; um homem pitando um cigarro.

- A gente passava pra cá: o moleque coçando a pereba; a mulher, na janela, com a mão no rosto; o homem pitando um cigarro.

- Assim mesmo!, fora os que não faziam nada.

- Então brinquei com meu genro postiço: É!, tu em São Paulo tem uma bela vida de idiota e este povo aqui tem uma idiota de vida bela.

- Rimos!

- Foram embora; eu, com saudades, pensei:

- Por que perdemos nossa identidade com a paz?

- Por que temos que correr?

- Por que tudo tem que ser para ontem?

- Por que a paz é tão entediante?

- Não somos mais produtivos na paz do que na guerra?

- Enfim, é um assunto comprido pra se tratar aqui, mas acho que a sensação de tédio das pessoas das cidades tem tudo a ver com o monstro moderno que as escraviza: o consumismo.

- Disse Drummond: "no elevador eu penso na roça, na roça penso no elevador."

- E, parodiando o poeta maior - tanto quando estou em são Paulo ou na Bahia da Traição - só tenho uma coisa a dizer:

- "ETA VIDA BESTA, MEU DEUS!"
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 26 de julho de 2007

A HERANÇA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Um pouco do que somos está no mar:

carne, sangue, sonho, água...
peixe, pássaro, areia, alga...
mar!

Estamos mergulhados nos abismos
que se renovam e aprofundam.

É por isso que somos
necessariamente obscuros
diariamente encabulados
irrevogavelmente puros.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 25 de julho de 2007

VOCÊ!

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Pensei em você, hoje!

- Pensei em como vive, ama, dorme, se diverte!

- Em como você trabalha!

- Em como você sobrevive, se alimenta, sorri... existe!

- Pensei em você como gente, pessoa... humano!

- Pensei nos seus olhos vivos, nos seus desejos secretos, na sua alma, no seu sorriso bonito.

- Pensei na sua mulher querida, nos seus filhos saudáveis, no seu pai que é tão bacana, na sua mãe tão amada, nos seus irmãos tão amigos, nos seus amigos tão irmãos, na sua presença no mundo, no seu dia-a-dia.

- Pensei no lugar em que mora, no lugar em que trabalha, onde seus filhos estudam, no restaurante onde come, na igreja onde agradece, na comunidade em que vive.

- Pensei nas suas viagens, na sua cobertura fantástica, no seu carro de mil cavalos, no seu celular da hora, no seu relógio de ouro, nas suas roupas de marca.

- Pensei no seu som importado, no seu computador de mil gigas, na sua poupança gorda, na sua digital incrível, no seu home theater enorme, no seu dvd prateado, na sua tv de plasma, nos seus controles remotos.

- Pensei na sua existência árdua, no tempo que lhe falta para curtir tanta coisa, para ser feliz com isso.

- Pensei em como foi difícil juntar tanta coisa cara, pagar tanta coisa inútil, sobreviver à feroz ansiedade de comprar cada coisa nova que o mundo oferece aos tolos.

- Pensei no seu coração, na sua hipertensão que avança, no seu stress doloroso que lhe mata pouco a pouco.

- Pensei naquelas suas noites em que a cama é feita de espinhos.

- Pensei em como você, às vezes, fica tão deprimido, em como você, às vezes, está alegre e fica triste.

- Pensei em você, hoje!, e também pensei em mim.

- Também acontece comigo. Eu também acho que sou esperto, importante, que tenho tudo na vida.

- E daí que o emprego me mata, que as obrigações me infernizam, e daí que sustento o monstro pra ele ficar de pé!

- E daí que chupam meu sangue, que eu não tenho tempo pra nada, e daí que a empresa consome tudo o que tenho na vida!

- E daí que os meus neurônios estão se transformando em chips!

- E daí que eu sou um idiota e não enxergo isto!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 24 de julho de 2007

O RITUAL

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Uma brisa intrínseca

trisca o mormaço.

Um vento humilde
rabisca o aço.

Um trovão arisco
balança o cadafalso.

Um relâmpago vivo
ilumina o palhaço.

Uma turbulência casta
purifica o falso.

Um mergulho fundo
invade o mundo.

Um sorriso largo
ganha espaço.

O lápis caminha
e o poema nasce.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 23 de julho de 2007

EU VI

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- É inacreditável a prepotência de certas pessoinhas, filhos de certas pessoinhas cheias de dinheiro ou de autoridade, ou os dois; essa gente autoritária que ainda manda em muita coisa no Brasil.

- Pois é!

- Ontem, na rua, eu vi!
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- Cena 1: um fusquinha 68, estacionado, uma senhora simpática ao volante; 50, 55 anos.

- Cena 2: um sujeitinho antipático, bem-aparentado, carrão, ray-ban; 30, 35 anos vai estacionar.

- Cena 3: vira pra cá, vira pra lá; barbeiro, bate no carro da simpática senhora.

- Cena 4: a senhora desce do carro e vai ver o estrago.

- O sujeitinho: tá olhando o quê, coroa!

- A senhora: se tu machucou o meu "Gladstone!"

- O sujeitinho: esta lata velha tem nome?

- A senhora: tem, o teu não tem?

- O sujeitinho: ô vovó, eu é que tenho de verificar se esta lata velha não machucou a minha máquina!

- A senhora: tu amassou o meu "Gladstone" e vai ter que pagar!

- O sujeitinho: pagar?, esta lata velha não vale nem um pneu do meu carro!

- A senhora: mas vai ter que pagar!

- O sujeitinho: ô vovó, você sabe com quem está falando?

- Foi assim, juro que foi assim!

- A senhora: - falando alto, na frente dos aglomerados - sei, eu sei com quem eu estou falando! Eu sei quem tu é! Tu é um filho-da-puta metido à besta; um corno, um viado! Tu foi gerado na zona. A tua mãe é uma puta e o teu pai um gigolô, um corno manso que nem tu! A tua irmã é uma piranha, boqueteira. Aquele teu tio fazendeiro é um ladrão, um bandido. Aquele teu outro tio, juiz, é um viado igual a tu. Tua avó também é uma boqueteira, igual a tua irmã. Teu avô é um viado enrustido, igual ao teu pai! E conheço o teu namorado, aquele negão 4x4, de 1,90m, que, todos os dias, te cobre de beijos e de porradas!

- O sujeitinho: sua vaca velha!, eu vou te lhe dar um monte de pancadas!

- A senhora: tu num vai dar nada, filho de uma quenga!, eu é que vou enfiar o dedo no teu furico e vou assobiar "Saudades do Matão!".

- O sujeitinho: você vai se ferrar, sua vaca vagabunda!, você não conhece o meu pai!

- A senhora:- exibindo uma foto do sujeitinho - vou me ferrar nada, florzinha!, Eu conheço aquele chifrudo do teu pai, porque ele é meu irmão e eu sou tua tia. Fique sabendo que eu vim de muito longe pra ver aquele corno, depois de 30 anos sem ver aquele viado. Fique sabendo que já limpei muito a tua bunda, seu fedelho, e sempre tive certeza que tu ia virar viado quando crescesse.

- O sujeitinho: vermelho, verde, veadinho, pequenininho!...pessoinha!
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- Deu dó!
- Mas que eu vi, eu vi!
- E amei!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 22 de julho de 2007

O CASO DE AMOR

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

João Teodoro amava Maria Das Claras

na noite de lua.
Amava!

Silêncio:
ruído de beijos

esfregar de mãos
fogo no peito.
Amor!

Silêncio quebrado:
o frio rio

o rio frio
o corpo claro da lua:
Claras!


(Fonte: Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 21 de julho de 2007

O DECRETO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS
-
- O PRESIDENTE DO BRASIL, no uso das suas atribuições legais, decreta que, a partir desta data:

- Está definitivamente banida a corrupção no país.

- O salário de deputados e senadores fica fixado em 380,00 (trezentos e oitenta reais), por 70 (setenta) horas de trabalho semanais.

- O salário do povo brasileiro fica fixado em 24.500,00 (vinte e quatro mil e quinhentos reais), por 24 (vinte e quatro) horas de trabalho semanais.

- É permitido ao povo brasileiro o uso de carro oficial para se dirigir ao shopping, ao supermercado, ao dentista ao cinema, ao jogo de futebol e à casa da sogra nos almoços de fim de semana.

- Está vetado ao povo brasileiro o uso do jeitinho brasileiro.

- O jeitinho brasileiro só poderá ser usado por deputados e senadores, em substituição ao jeitão que sempre usaram.

- 50% (cinqüenta por cento) do lucro dos banqueiros serão destinados ao fundo de educação para erradicar o analfabetismo no país.

- Está vetada aos bancos a prática da agiotagem.

- 50% (cinqüenta por cento) do lucro dos empresários serão destinados ao fundo de criação de empregos, com o início imediato de obras de saneamento básico, recuperação de estradas, expansão da rede de água e de energia elétrica.

- Está vetado aos empresários o desvio de dinheiro das empresas para enriquecimento ilícito.

- Está vetado às empresas aéreas o atraso das suas aeronaves.

- Está terminantemente proibido, de verdade, o desmatamento.

- É considerado desmatamento o corte de uma única árvore.

- Está terminantemente proibido, de verdade, a poluição das águas.

- Está terminantemente proibida a venda indiscriminada de terras no litoral do Brasil, para estrangeiros.

- Está terminantemente proibido, de verdade, a construção de prédios em toda a orla marítima do país.

- Está terminantemente proibida, de verdade, a caça a captura de animais da fauna brasileira.

- Também proibido fica, de verdade, a retirada de qualquer espécime da flora brasileira.

- A universidade pública passa a ser um direito de todos os brasileiros.

- Todos os hospitais do país passarão a atender o povo brasileiro, independente da posição social.

- O Brasil passa a ser um país democrático.

- Revogam-se todas as disposições contrárias.

- Brasil, 21 de Julho de 2007.

- Assinado: Presidente do Brasil.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 20 de julho de 2007

O SONHO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Parou no vermelho

esperou o verde
penetrou no negro
dormiu no espaço
sonhou que era lua
acordou refletido
na poça de sangue
no meio da rua.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quinta-feira, 19 de julho de 2007

HOJE NÃO TEM MATÉRIA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Me desculpem, hoje não tem matéria!

- Não vou escrever, hoje!

- Levantei, li os jornais, as revistas, a internet, vasculhei a minha vida; nada!, tudo na mais perfeita desordem, tudo como sempre foi e será.

- Tudo tão igual desde que nasci, que chega a ser assustador essa mesmice entediante.

- O governo continua inoperante.

- Os políticos continuam uns caras-de-pau.

- A sociedade continua hipócrita.

- A igreja continua a igreja.

- Os militares continuam observando.

- Tudo continua como está.

- Como diz um amigo meu: "se melhorar, piora!"

- Nós, seres humanos, principalmente os seres humanos brasileiros, conferimos à própria história um toque de idiotice endêmica e nos achamos os tais.

- E só pra constar: IDIOTA NÃO TEM TÉDIO!

- Eu não disse que não tinha assunto?


(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quarta-feira, 18 de julho de 2007

CARTA A J.A

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Para José de Alcântara e José Alves (Dedé),
amigos e mestres (IN MEMORIAN)

Lembro-me
éramos adultos corrompidos da rua prudende de
morais
sem número
onde nós os abomináveis bruxos de uma sociedade
enclausurada
nos umbrais da imbecilidade
bebíamos revolucionariamente nossa cerveja
idealista
e onde
às vezes
num comovente espetáculo sem sentido
pernas desnutridas entrando porta adentro
negligenciavam nossas vidas
com seus negros olhinhos
suas tristes alminhas.
E tu dizias:
"ora bolas, meu caro, bem eles!"
para depois
sorridente
esconderes a amargura
e destroçares num gesto de raiva um famoso
verso do nosso amor:
"Mas o mundo rodando
nas patas do meu cavalo
e no sonho que fui sonhando
as visões se clareando
as visões se clareando
até que um dia acordei."

Cá entre nós:
as coisas não têm idade e ainda nos vêm
em tempo
como novas
para relembrar.

Madrugada velha - como dizíamos -
chovia o samba chorado
de um velho e desconhecido amigo qualquer.
Os dedos doloridos pelo batuque apontavam
a rua
mostrando a hora de desviver
(para nós)
e de viver para as centenas de caras
felizes(?)
que preenchiam o dia-a-dia dos sem
finalidades.
J.A vomitava na pizza dos poltrões
e declamava descaradamente
entre puritanas mocinhas da detestável classe média
"Seios", para nosso deleite total.
E o tempo declinava ante nossas mórbidas
façanhas
(conforme diziam "certos amigos").

Não gostaria agora que tu lesses
criticamente esta pequena asneira
que me vem aos dedos
(não penso como o dedo, datilografo).
Haverias
se te dissesse "que meu vem aos dedos"
de me corrigires detalhadamente
com teu português de "seis cervejas"
e me dirias ter eu criado algo de espantoso
fora das minhas possibilidades
(o que é meia verdade).

Se nosso sonho conjunto
mais o sonho conjunto do declamante J.A
não fossem os versos e os reversos da nossa
ansiedade alcoólica
haveríamos de congratular com mil amigos
nossa primeira vitória.
Mas e a conjuntura dos botecos em que nós do
submundo civilizado
vivíamos?
Não seria o novo rótulo de uma determinada
bebida
a que nós, o povo
chamávamos ópio nosso?

Nesses botecos sem conjuntura
(principalmente o nosso)
nada é preciso
pois além do chato futebol
e da bela e da feia mulher
tudo se transforma num magistral cemitério
de raciocínios
no meio de onde
fizemos escorrer insatisfeitos
nossas destroçadas vidas.

O que fazer? - perguntávamos entre um glute outro glut.
O que fazer?
Se nós os sábios carcomidos pela
ilegitimidade das coisas
morreremos na memória adormecida dos tolos
e as formigas da madrugada
cuidarão das nossas carcaças eternizadas.

Mas foram bons os tempos.
Não sei as coisas deixaram a graça caída
na sarjeta das evidências
ou se fomos longe demais
em nossas escaramuças noturnas.

A rua prudente de morais continua velha e malfreqüentada.
Respira-se com dificuldade o ar de suas
ruínas cansadas.
Nada de coisas sérias.
Nada de samba na noite.
Nada de vômitos descontraídos.
Tudo é solidão: suas paredes sujas
seus homens sujos
suas rotinas sujas.
Tudo é medo nos famigerados olhos de
macedinho
(personagem de uma crônica
minha no extinto Somov).
Tudo indica que caminhamos na rua prudente
de morais
para os Cem Anos De Solidão da admirável
Macondo
do nosso caro amigo Márquez.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

terça-feira, 17 de julho de 2007

O PÔR-DO-SOL

CRÔNICAS&CONTOS – SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Ontem fui ver o pôr-do-sol da praia do Jacaré, em João Pessoa/PB.

- Diante do espetáculo sem adjetivos, pensei: é por uma visão dessas que a gente fica com dó de morrer!

- Como é que a gente morre e nunca mais vê uma coisa dessas?

- Tenho minhas dúvidas quanto à presença de Deus no universo, mas diante do pôr-do-sol da praia do Jacaré, confesso: balancei.

- Fiquei pensando: vai que o Cara tá me sacaneando, fingindo que não existe só pra me tirar um sarro na hora H.

- O espetáculo é único, não há visão mais apaixonante, mais reveladora do que aquilo.

- O nó na garganta é inevitável, e pensamos: graças a Deus estamos vivos!

- Não vou contar o que tem lá pra não estragar a surpresa.

- Só vendo pra crer; vá, vale a pena!

(Fonte: Texto – Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

segunda-feira, 16 de julho de 2007

A CIDADE

POESIA – SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Com seu argumento sólido & cinzento

a cidade anda.
Cospe vidro, mija acrílico
exala fumaça, caga ferro...
espalha!

A cidade é palha: frágil feito carinho
quebra-se toda em estalos.
Expande-se a esmo sobre corpos mortos
penetra veias esclerosadas.

A cidade fala:
São ruídos roucos, palavras gastas.
Procura espaço no espaço.
Não há espaço no cansaço quente
dos metais pingentes dos seus braços.

A cidade passa:
levanta vigas, derrete aço
aperta vidas, escurece almas.
A cidade mata com suspiros fundos
delírios mudos, o pássaro.

Eu passo com meu corpo lento
os pés de piche, as mãos de pano
o peito turvo, a boca amarga
os nervos tensos, a visão escrava.

A cidade brada:
não sou nada!... nada!
Olho a praça de cimento armado
preparo os ossos... batalho!
O rato corre entre folhagens
de plástico verde desbotado.

Com seu argumento sólido & cinzento
a cidade ataca.
Cospe vidro, mija acrílico
exala fumaça, caga ferro... massacra!

A cidade baila feito fada
levanta a varinha & me empalha.
A cidade brada:
não sou nada!... nada!
Aceito, canto uma toada.
Aplausos... vaias!

Na tarde, a cidade escura
é minha mortalha.
Nada a impede ou atrapalha
de em mim colocar as suas garras.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

domingo, 15 de julho de 2007

TU NUM VALE...

CRÔNICAS&CONTOS – SOBRE NÓS&OS OUTROS

-Essa eu vi:

- Filho: empurrando carrinho com mangas e abacaxis. Dá uma bobeada, o carrinho empina... mangas e abacaxis no meio da avenida.

- E ouvi no meio da rua:

- Pai para o filho: "tu num vale uma ruma de bosta!"

- Matou a cobra e mostrou o pau!

- A expressão perfeita!
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- Perfeita pra nos dirigirmos àquele político corrupto, àquele motorista de táxi que pega o caminho mais longo, àquele médico mercenário, ao mecânico que inventa defeito no carro, ao dono da padaria que nos vende pão amanhecido, àquele sujeito dono do trânsito, ao policial que nos desacata, ao garçom que nos traz a cerveja quente, àquele peixeiro que nos vende peixe velho, àquele dono de supermercado que superfatura os preços, ao jornalista sem escrúpulos, àquela revista que exagera na denúncia sem provas concretas, ao funcionário público burocrata, ao diretor de cinema sanguinário, àquele músico oportunista, àquele poeta do sistema, ao pedreiro que levanta a parede torta, ao encanador que nos faz entrar pelo cano, ao eletricista que nos dá um choque, àquele jogador de futebol que perde o pênalti decisivo, àquele cronista lambedor de botas, àquele latifundiário que destrói o cerrado, àqueles banqueiros que aplicam taxas de juros exorbitantes, àquele comerciante desonesto, àquele padre reacionário, àqueles igrejas que cobram dízimos, àquele vizinho antipático, ao Bush, ao Tony Blair, àquele chefe militar da prisão de Guantánamo, àquele quitandeiro que nos rouba no peso, àquele escritor que só escreve merda, ao órgão público que nos faz de petecas, ao professor sem nenhum preparo, àquele dentista que nos deixa sofrer, ao laboratório que falsifica medicamentos, àquelas pessoas que roubam dinheiro da merenda escolar, à máfia dos sanguessugas, ao turista que polui o ambiente, ao dono de hotel que exagera nas diárias, àquelas pessoas que desmatam a Amazônia, àqueles pecuaristas que derrubam florestas para criar gado, àqueles que são repressores, aos assassinos, aos torturadores, aos homens que espancam mulheres, aos pedófilos, àqueles que espancam crianças, àqueles que fomentam a guerra, aos donos das indústrias bélicas, ao terrorista, àquela empresa de ônibus que não cumpre horário, àquele que fura a fila, àquele responsável pelas filas da previdência social, àqueles hospitais onde as pessoas morrem no corredor, àquelas pessoas que não vivem e não deixam viver.

- Já pensou a gente olhar bem no fundo do olho do sujeito e dizer: Tu?, "tu num vale uma ruma de bosta!"

- É a expressão máxima de nossa ira, nossa revolta, nossa justiça poética, nossa vingança e por que não da nossa satisfação pessoal.

- Pois é, "tu num vale uma ruma de bosta!"
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- E pronto!


(Fonte: Texto – Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sábado, 14 de julho de 2007

O PÁSSARO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Seu!

Sou seu!
Sou seu pássaro na gaiola!
Pra você eu canto
danço, pulo
e faço graça.
Você me alimenta e me faz cócegas
você me dá banho
e me põe lá fora.

Mas você também
tem um gato
que canta, dança
pula e que faz graça.
Você também o alimenta
e lhe faz cócegas
você lhe dá banho
e o põe lá fora.

Isso é o meu medo
e a minha desgraça
pois todas as vezes
que a gente briga
e eu não canto
não danço, não pulo
e não faço graça
você baixa a gaiola
no chão da sala
e calma e onipotente...
você chama o gato.

(Fonte: Poema – Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sexta-feira, 13 de julho de 2007

O TALENTO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

Deu na UOL, eu juro!

- Eu fiquei assim...: 0000, de boca aberta.

- "Eu não tenho talento pra ser gostosa" - disse a atriz Mel Lisboa.

- Meu Deus!, a mulher é inteligente, educada, culta; entende de televisão, de cinema, de muita coisa, mas a mulher não entende nada de mulher; tá completamente por fora do assunto mulher.

- Se ela não entende nada de mulher, com que autoridade ela podesimplesmente dizer: "Eu não tenho talento pra ser gostosa"?

- Pelo amor de Deus, mulher!, você não sabe o que tá falando.

- Aliás, você não tem a menor idéia do que tá falando!

- Charminho não é, porque sei que você não é disso.

- Média não é, porque sei que você também não é disso.

- O que seria então? A única explicação plausível é que você não entende mesmo nada de mulher.

- Pelo amor de Deus, mulher, se oriente!

- Se você não tem talento pra ser gostosa, quem tem?, a Hebe?

- Você não precisa desse negócio de talento, isto é para as outras, as mortais!

- Deixa disso, mulher!, isto depõe contra a sua e a nossa inteligência; vê se você se enxerga e coloque-se no seu devido e merecido lugar.

- Você não precisa de talento, minha filha, você é!
--------
Tá feito o nosso protesto!


(Fonte: Texto – Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 12 de julho de 2007

A 7ª PEQUENA HISTÓRIA DE UM DIA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Sem graça?
Será o dia sem graça
pra alguém que fez
o que fiz?

Dei beijos na minha amada
chorei um pouco...
sorri!

Fiz 35 poemas
fechei os olhos...
dormi!


(Fonte: Poema – Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 11 de julho de 2007

O JORNAL, NO BRASIL

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Jornais são veículos de informação importantes em qualquer sociedade do planeta.

- No Brasil não é diferente, porém a importância deles vai além da sua finalidade.

- Jornal, no Brasil, serve muito, pouco ou mais ou menos para:

01) - LER: pouco - brasileiro não gosta de ler, além de grande parte do povo ainda ser analfabeto.

02) - COLOCAR DENTRO DO SAPATO: muito - grande partedo povo ou não tem sapato ou está furado.

03) - LIMPAR VIDRAÇA: pouco - nas cidades os grandes edifícios, poluídores visuais, são feitos, na sua maioria, de vidros, mas o hábito se restringe a poucas empregadas domésticas.

04) - FORRAR FUNDO DE GAIOLA: mais ou menos - já foi mais usado nessa função, mas as novas leis ambientais restringem animais em gaiolas.

05) - EMBRULHAR ALIMENTOS (carne, peixe, frango, frutas, legumes, etc): pouco - o Brasil está mais profilático, pelo menos no quesito alimentação.

06) - LIMPAR A...: mais ou menos - com o avanço do papel higiênico, seu uso ficou restrito às áreas periféricas das cidades.

07) - FORRAR O CHÃO PARA PINTAR PAREDE: mais ou menos - com a chegada das multinacionais fabricantes de plástico, seu uso, nesta função, diminuiu consideravelmente.

08) - CAMA: muito - infelizmente, a quantidade de sem-tetosainda é muito grande no Brasil.

09) - ELEGER A UDN E O ARENÃO (antigamente) E O PSDB E O DEM (atualmente): muito - a maioria dos donos dos jornais, a família toda, ascendentes e descendentes foram educados desde criancinhas para essa função.

10) - FERRAR COM FIGURAS PÚBLICAS QUE NÃO SÃO DA SUA LINHAGEM IDEOLÓGICA: muito - só dois exemplos: João Goulart e, recentemente, Lula.

11) - ACENDER FOGO: mais ou menos - muita gente ainda não tem fogão a gás, outros dormem na rua e precisam se aquecer, além de brasileiro adorar churrasco.

12) - FAZER BANDEIRINHAS PARA FESTA JUNINA: muito - não vá dizer que não fica uma gracinha.

13) - FAZER PIPA: pouco - já foi muito usado nessa função, mas, hoje, criança gosta mesmo é de aviãozinho com controle remoto.

14) - FAZER CHAPÉU: pouco - hoje usamos bonés de grife para ficarmos dentro da moda.

15) - FAZER BARQUINHO: pouco - crianças, hoje, não mais navegam por mares nunca dantes navegados; crianças, hoje, navegam nos sites da Internet, nas ondas da globalização.

16) - ENFIAR EMBAIXO DO BRAÇO PARA FINGIR QUE É INTELECTUAL: pouco - é só uma meia dúzia de idiotas metidos a Rui Barbosa.

17) - SER PORTA-VOZ DOS BARÕES DO CAPITALISMO TUPINIQUIM: muito - eles são os barões da mídia tupiniquim.

18) - FAZER CHUVA DE PAPEL PICADO (casamentos, eleições, desfile de 7 de etembro) - pouco - hoje temos aqueles shows de luzes, que nem sei o nome.

19) - ACHAR QUE O POVO É BESTA: muito - o povo é besta mesmo, mas, pelos menos, nas eleições de 2006, o povo é quefez eles de bestas. Parabéns, povo!

20) - COLOCAR OPOSITORES NO EMBRULHO: muito - grande parte é adepta à denuncia disfarçada de matéria séria (dê uma olhada nos jornais brasileiros no ano de 2006).

21) - DEIXAR ENOJADO GENTE QUE QUER UM MUNDO MELHOR PARA OS FILHOS E OS NETOS DE TODAS AS PESSOAS - muito - não é preciso dizer os motivos.

22) - Embora eu não tenha mencionado, as revistas do Brasil também servem, até mais que os jornais, para as finalidades aqui descritas, principalmente àquelas que se referem às questões políticas.

- PERGUNTA PARA PENSAR E RESPONDER ANTES TARDE DO QUE NUNCA: a grande mídia brasileira, afinal de contas, fez ou não oposição ao regime militar?


(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

terça-feira, 10 de julho de 2007

A NOITE

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Homem de capote
lata batendo
cachorro encolhido.

No meio da noite
o estampido.

Zuuummm!...

faz o vento.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 9 de julho de 2007

A CONFISSÃO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

Eu confesso!
Amigos íntimos sabem.
Eu sou!... Sempre fui!... Eu sou!...
É difícil!
Sempre fui enrustido, vivo dentro do armário.
Tenho que assumir o que sou!
E sou!... Sempre fui!... Eu sou!...
Eu confesso!
Eu confesso!. Eu... Eu... Eu sou!...
Sempre fui!... Que vergonha!... Eu sou...
Eu sou!... Palmeirense!
Pronto, contei!


(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

domingo, 8 de julho de 2007

O SILÊNCIO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Se é noite o silêncio
grita
morde, sangra
arranca-me as tripas.

O silêncio é faca

corte, bicho
o silêncio ataca
deixa-me aflito.

O silêncio é eco

de perguntas vivas
que meus olhos matam
por mero artifício.

O silêncio entra
cala-me as vísceras
enche-me o poço
de mortal lirismo.

O silêncio é vida

que dorme e palpita
mas também é morte
que sonha delitos.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sábado, 7 de julho de 2007

CÊ MOSTRA A SUA QUE EU MOSTRO O MEU

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Minha avó diria: "que falta de vergonha!, o mundo tá mesmo perdido!"

- O meu avô: coçaria a barba, enrolaria o cigarrinho de palha e ficaria matutando... matutando!

- Mas o tempo é outro. Parece que tudo começou com a namorada de Roger Rabitt, na boate.

- Depois Sharon Stone, na delegacia. A namorada de Itamar Franco, no carnaval. Luiza Brunet ou Luma de Oliveira?, não me lembro. Aquela gringa que não sei o nome? Luana Pìovani? Ah!, Juliana Paes com certeza! Agora Britney Spears, acho que por três vezes. E muitas outras das quais não me lembro. Todas mostraram as suas. Eu e o padre também queremos mostrar o nosso.

- Assim: ceis mostra as suas que nóis mostra os nossos.

- Tá lançada a nova moda. Eu não sabia que estrela ou tem uma estrela ou uma bolinha branca. Todas que mostraram as suas quando eu olhei ou tinha uma estrela ou uma bolinha branca. Eu não aprendi isto na escola. Dizia a nossa saudosa professora de biologia: meninos têm pênis, meninas têm vagina! Ela estava errada, ensinou errado. Quando a gente cresce meninos têm pingolim e meninas, se forem estrelas, ou têm estrelas ou bolinhasbrancas.

- No mundo de verdade eu só conheço as das pobres e posso garantir que é um troço bem diferente de estrelas e de bolinhas brancas.

- Será que se eu mostrar o meu ele também vai virar estrela ou bolinha branca? Se virasse estrela até que seria bom. Até que anda precisando!

- Será que se eu mostrar o meu vai sair na Globo? Na Internet? Na Folha de São Paulo? No New York Time? No sambódromo do Rio de Janeiro? Na Playboy?

- Será que você vai gostar do meu? E do do padre, você vai gostar?

- Enfim, se elas mostram as suas, eu e o padre também queremos mostrar os nossos. Eu quero andar sem cueca! O padre também, com direito a cruzar e descruzar as pernas.

- Chame os paparazzi! O meu também quer virar estrela. O do padre também.

Confira!
http://ego.globo.com/Entretenimento/Ego/Noticias/0,,AA1369115-5877,00.html http://exclusivo.terra.com.br/interna/0,,OI1275212-EI1118,00.html


(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sexta-feira, 6 de julho de 2007

O QUE SOU

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

O QUE SOU
(Musicada por Efraim)

O que sou
é terem me cortado as asas
terem penetrado em mim
como ferro em brasa
é terem me confinado
numa casa
onde a porta de saída
é só entrada.

O que sou
é terem me roubado a vida
terem se incrustado em mim
como eterna ferida
é terem me feito andar
numa avenida
onde o horizonte
é uma guarita.

O que sou
é terem me feito espantalho
terem me sentado
numa cadeira no meio da sala
é terem me exigido silêncio
pra não assustar os pássaros
que em vôo calmo
desciam minha garganta abaixo
retornando definitivamente
a casa.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quinta-feira, 5 de julho de 2007

BOBOS&LADINOS

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- O Brasil não é um país só de muitos POBRES e poucos RICOS.

- O Brasil é, também, um país de muitos BOBOS e poucos LADINOS.

- O que diferencia um BOBO de um LADINO?

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- Vejamos 26 fatos que diferenciam 1 BOBO de 1 LADINO:

01 - O BOBO empresta dinheiro ao LADINO a, em média, 0.60% (zero vírgula sessenta por cento) ao mês - olhe o rendimento da sua caderneta de poupança.
- O LADINO empresta dinheiro ao BOBO a até 12% (doze por cento) ao mês - olhe a fatura do seu cartão de crédito ou o juros do seu cheque especial (se o BOBO emprestar dinheiro com esta taxa, não vai preso?).

02 - O BOBO, quando doente, enfrenta as filas do INSS.
- O LADINO é dono das clínicas particulares e, também, do INSS.

03 - O BOBO vive na fila do emprego.
- O LADINO é dono do emprego.

04 - O BOBO adora ônibus cheio.
- O LADINO é dono do ônibus cheio e adora carro importado.

05 - O BOBO come marmita fria (quando tem).
- O LADINO come "naquele" restaurante.

06 - O BOBO come carne de pescoço.
- O LADINO come filé mignon.

07 - O BOBO passa as férias (quando tem) no boteco da esquina.
- O LADINO vai para o Caribe.

08 - O BOBO fica sem os dentes logo cedo.
- O LADINO vive com os dentes de fora.

09 - O BOBO, quase sempre, é analfabeto ou semi - muitos até com curso superior.
- O LADINO pode não estudar, mas, por via das dúvidas, é dono da universidade.

10 - O BOBO é chave de cadeia.
- O LADINO é amigo do advogado de porta de cadeia.

11 - O BOBO é branco e negro.
- O LADINO, quase sempre, é branco.

12 - O BOBO, quando alfabetizado, lê revistas e jornais - o mundo sob a ótica do LADINO.
- O LADINO é o dono das revistas, dos jornais e da ótica do mundo.

13 - O BOBO mora na periferia e na favela.
- O LADINO mora na praia e, muitas vezes, é dono da periferia e da favela.

14 - O BOBO vibra com seu time preferido.
- O LADINO é dono do time preferido do BOBO.

15 - O BOBO limpa latrina.
- O LADINO fabrica a latrina.

16 - O BOBO trabalha na picareta.
- O LADINO é dono da picareta e do buraco.

17 - 0 BOBO é cheio de crenças e de fé.
- O LADINO espalha as crenças e a fé.

18 - O BOBO vai à igreja.
- O LADINO é dono da igreja.

19 - O BOBO acha que o LADINO se importa com ele.
- O LADINO não está nem aí.

20 - O BOBO acha que sem o LADINO, ele, o BOBO, estaria ferrado.
- O LADINO tem certeza que sem ele, o BOBO, ele, o LADINO, estaria ferrado.

21 - O BOBO é um sujeito muito bonzinho.
- O LADINO sabe disso e se entusiasma.

22 - O BOBO vota e elege o LADINO.
- O LADINO acha o maior barato.

23 - O BOBO inventou o jeitinho brasileiro - assim ele se fode sorrindo, achando que é muito esperto.
- O LADINO achou uma graça - foder com o BOBO ficou muito mais fácil.

24 - O BOBO acha que este texto está uma beleza e que vai abafar.
- O LADINO não está nem aí, não vai ler esta merda mesmo.

25 - O BOBO se acha muito esperto.
- O LADINO é muito esperto.

26 - Enfim, o BOBO, por tudo isto e muito mais, é um BOBO & o LADINO é um LADINO.


Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quarta-feira, 4 de julho de 2007

A TENTATIVA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Tenta sair, não sai.
No fundo do poço
um ai.

Tenta ser forma, não é.
Está preso em si
só isso ele é.

Tenta ser fogo, é frio.
É folha caída
no rio.

Tenta ser eu: é outro cara.
Acuado no infinito
da minha carne.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

terça-feira, 3 de julho de 2007

A LÍNGUA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Muitas pessoas reclamam da linguagem utilizada na internet.

- Reclamam sobre o uso do internetês, ao invés da linguagem normal.

- Não escrevo internetês. Nem sei. Mas vou abrir uma exceção para me sentir por dentro do assunto.
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- Digo:

- Também prefiro a linguagem kulta, mas acho q c olharmos através dos tempos vamos verifikar q:

- a língua é dinâmika, n~ é morta (nem a dos velhos é); ela vai c adequando ao seu tempo, metamorfoseando-c, kontinuamente, tomando novas formas, eskrevendo novas regras.

- Também acho q a internet, a tv & a telefonia celular forçam (forçaram) a kriação d 1 nova linguagem muito mais viva: o áudio, o vídeo, os textos kurtos - rápidos; 1 linguagem mais adequada aos novos tempos & muito mais fácil d usar (as regras da língua kulta s~ muito rígidas), porque hoje em dia:

- komunikar-c é 1 ato karo
- komunikar-c deve ser 1 ato fácil
- komunikar-c deve ser 1 ato rápido
- komunicar-c é o q a juventude faz.

- Além disso, a globalização é 1 fato konsumado (gostemos ou n~).

- Por isso, acho q kada sociedade kria sua própria simbologia (porque as línguas s~ diferentes) & entendo q tanto os países do 1º mundo, komo os subdesenvolvidos, vivem o mesmo processo d mutação na sua linguagem.

- N~ acho q isto sejam traços só d domínio kultural, na onda da globalização.

- Desvirtuar a língua mãe, d verdade, fika por konta dos grandes bancos, d grandes empresas & das agências d publicidade kom seus estrangeiramos & nomes d produtos batizados kom palavras d outras línguas.

- Acho, também, q livros, jornais, revistas & dokumentos, no momento, são realidades diferentes, mas temos q konsiderar q o internauta d hoje é quem vai, amanhã, zelar pela língua, fazer literatura, eskrever jornais, revistas & dokumentos.

- Teremos 1 intelektualidade da nova guarda.

- Vamos ver, então, komo fika a língua.


(Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

segunda-feira, 2 de julho de 2007

O MERGULHO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS


O pássaro não passa do espaço

que meu rosto ocupa na tarde.

Ele voa com suas asas pálidas
sobre a floresta de ferro e carne.

Traça uma reta, demarca um ponto

fecha o círculo, se interrompe.

Meu rosto não passa de um pássaro
que ocupa o espaço do olho da tarde.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post In João Pessoa/PB

domingo, 1 de julho de 2007

E DAÍ?, EU NÃO SOU OLIVEIRA!!!

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS


- Diante dos crimes ocorridos na semana passada em São Paulo - a morte do garçon - e no Rio de Janeiro - o espancamento da doméstica - lembrei-me de uma coisa:

- A Globo esqueceu...
- Os Jornais esqueceram...
- O Governo esqueceu...
- A Igreja esqueceu...
- Você esqueceu...
- Mas eu não esqueci!...
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- Bertold Bretch, no seu poema AGORA LÉVANME A MIM, faz referência ao desenvolvimento do nazismo antes da 2ª guerra mundial:


"Primeiro levaron aos comunistas
pero a min non me importou
porque eu non o era.

Axiña levaron a uns obreiros
pero a min non me importou
porque eu tampouco o era.

Despois detiveron aos sindicalistas
pero a min non me importou
porque eu non son sindicalista.

Logo apresaron a uns curas
pero como eu non son relixioso
tampouco me importou.

Agora lévanme a min
pero xa é tarde."

- Lembrei-me do crime horroroso ocorrido na cidade de BragançaPaulista/SP, em Dezembro de 2006, e acho que poderia acrescentar mais uma estrofe ao poema:

AGORA MATARAM A FAMÍLIA OLIVEIRA,
MAS A MIM NÃO ME IMPORTA,
EU NÃO SOU OLIVEIRA.

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- É o Brasil de hoje.

- Perdemos a nossa capacidade de nos indignarmos. Somos tolerantes com tudo, não queremos perder privilégios.

- A violência é endêmica, comum no nosso dia-a-dia, como se fosse um vício, um capítulo de novela - aguardada com ansiedade.

- Jovens se matam ou são mortos aos montes no país: e daí?, são os filhos dos outros!

- Crianças vivem nas ruas, abaixo da linha da miséria: e daí?, são crianças dos outros!

- Analfabetos: e daí?, meu filho tem uma boa escola!

- Milhares de pais de família desempregados, bêbados, pelas periferias das cidades: e daí?, eu tenho emprego!

- As favelas se proliferam: e daí?, eu tenho minha casa!

- Os salários pagos aos trabalhadores são cada vez mais miseráveis: e daí?, eu ganho bem!

- Pessoas morrem nas filas dos hospitais públicos: e daí?, eu tenho um bom convênio médico!

- Vivemos numa sociedade do EU supremo: entramos em casa, erguemos muros, eletrificamos cercas e nos escondemos do Brasil que fica do lado de fora: o Brasil dos outros, o Brasil do não sou eu.

- O crime de Bragança e os de São Paulo e Rio de Janeiro mostram claramente que se não fizermos nada, se não recuperarmos nossa capacidade de nos indignarmos, de verdade, a cada monstruosidade assistida - não de mentirinha como sempre fazemos todos nós: o povo, o artista, o banqueiro, o industrial, o comerciante, o agricultor, o latifundiário, a igreja, a mídia, os políticos e o governo, nossa hora também chegará, e os outros também dirão: e daí?, não sou eu, não é a minha família!

- Observo que nossa indignação é aquecida pela mídia: se ela esquenta o assunto, insiste, ficamos muito, mas muito indignados; se ela esfria o assunto, esquecemos rápido e esperamos tranqüilamente a próxima tragédia: com os outros, é claro!

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- E como disse um sábio aluno do ENEM:

"VAMOS DEIXAR DE SERMOS EGOÍSTAS E PENSARMOS UM POUCO MAIS EM NÓS".


(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB