terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tenho

Tenho no bolso um sonho
no instante o amor.

Tenho nos olhos um medo
na boca o falso sabor.

Tenho no corpo um desejo
nas mãos o estertor.

Tenho nos passos a certeza
no caminho o horror.

Tenho mil camas macias
tenho sexo, tenho amor.

Tenho num momento tudo
no outro momento nada.

Tenho no sorriso a vida
no chorar a dura morte.

Tenho comigo uma mulher
a fantasia concreta.

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TõeRoberto-são paulo/sp-25junho1974

sábado, 26 de setembro de 2009

A fêmea

Aposto com você!

Que você pensava: eu sou homem/ela, mulher; eu sou macho/ela, fêmea; eu posso/ela não pode!

Que você desfilava o seu perfil: macho, gostoso, bonitão... eu posso - eu faço/ela não faz.

Era assim?

Era!!!

Hoje, meu filho, quem vai pro terapeuta é você!

O posso, o faço, o mando, o desmando, o como, o não como... acabou!...

Além do mais, hoje em dia, ela também gosta da tua bundinha.

Independente, fêmea, gostosa, bonita, feia... ela pode, ela faz, ela não faz; manda, desmanda, dá, não dá.

Agora é assim!

Você é um adendo... um adorno!

A fêmea avança.

Você se encolhe com essa merdinha/merda/merdona que você tem no meio das pernas - não importa o tamanho... a insegurança é a mesma, e você tenta esconder o constrangimento... cada dia pior!

Porque ela, a fêmea, aprendeu que o seu pedacinho do céu é perfeito: insaciável, renovável, incansável, lavável, cobiçável...

Às vezes amedrontador e, por tabela, broxador.

E vamos ficando obsoletos... o nosso futuro é o esquecimento.

Ainda vamos ser peças de museu.

Porque agora, meu fio, nem pra pagar o cabeleireiro e reproduzir ela precisa de nós.

Mas ainda assim, com toda a justiça do mundo, nos resta uma saída: a maravilhosa, fantástica, libertária e humana punheta.

Saravá!!!...

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TõeRoberto

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Diadorinda Joésia

Ah, Diadorinda Joésia, pelo amor de Deus, mulhé - dá um desconto!

Você vem ao parque de diversão, sobe na roda-gigante com aquele corno do Otoniel Maurício, desce com o pescoço todo chupado e ainda vem me encher o saco porque estou de conversê com Estelofânia Mercedes?

Saia do meu pé, Diadorinda!

A partir de hoje somos um casal moderno!

Tu fode pra lá, eu fodo pra cá; se sobrar tempo a gente se encontra no café da manhã... e transa um bom dia!

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TõeRoberto

domingo, 20 de setembro de 2009

Esquecimento

Versos versados, versos vexados
talvez poetados pela vesânia
versos vesanos, versos tiranos
sem poesia, o coração chorando.

Versos cantados e transladados
pela angústia de algo passado
que urgem na era, mas inseridos
no estatuto de algo calado
parado no nada desse tudo fraseado
pela insônia de um ser precipitado
pela poesia de um verso versado
ou um verso vexado em tudo
escondido nas trevas de um poeta versuto.

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TõeRoberto-guaranésia/mg-junho1970

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Obrório

Obrório sentou-se e ficou ali olhando Bidinha.

Bonita, jovem... uma marca de nascença junto ao olho direito.

Passou a mão pelos cabelos, o dedo indicador nos lábios... um movimento lento e circular.

Pegou, com cuidado, a cabeça e colocou no colo.

Passou a mão direita na testa... depois beijou.

Bidinha parecia dormir.

Debruçou-se sobre ela e a abraçou forte, mas com ternura.

Ficou ali, na penumbra do quarto, num profundo silêncio.

Não mais se mexia.

O abraço mais longo da sua vida.

O sentimento mais visceral.

01 dia, 02 dias, 03 dias... ali!

Nem água nem comida.

Necessidades ali mesmo, do jeito que estava.

Telefone tocava, campainha tocava... nada!

04 dias!

Abraçado.

No 5º dia saiu do abraço.

Deitou-se lado a lado com Bidinha.

Fechou os olhos, balbuciou silenciosamente uma das poucas orações que conhecia.

Duas lágrimas: uma em cada olho.

Pegou a mão de Bidinha e segurou forte.

A noite começou a invadir sua alma.

Mas ainda ouviu quando, num estrondo, a porta da rua veio abaixo.

Ainda ouviu quando invadiram o quarto.

Ainda ouviu quando disseram: Que horror! Que tragédia! Bidinha sabia que isto acabaria acontecendo!

Ainda sentiu quando enfiaram a agulha no seu braço e o levantaram da cama.

Suspirou... apenas um suspiro, mais nada!

E ouviu, longe, quando alguém se apiedou da sua alma.

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TõeRoberto

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Sidolida Esfetânia

Felicidade mesmo, Sidolida Estefânia, é te ver sorrindo, feliz, olhando para os meus olhos e me dizendo em silêncio: te amo!

É ver desabrochar aquela rosa vermelha que você plantou num pequeno vaso, na janela.

Ler aquele poema dedicado a mim na noite em que nos conhecemos.

Ver você se olhando no espelho pra ter certeza que está bonita o suficiente.

É te ver flutuando quando, na ponta dos pés, me dá aquele beijo de boas-vindas.

Mas bom mesmo seria se você não fosse apenas um personagem que eu criei para preencher o vazio da minha vida fútil!

Da minha vida sem vida!

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TõeRoberto

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sonho

Na tristeza de um pensamento perdido
na cena de uma vida sem sentido
vejo um mundo sem ser vivido
pelo meu ser, por ti erguido
quando sonhava com a ilusão da vida.

Olho para meu confuso consciente
ainda inerte na profusão da mente
e tento comunicar a essa gente
a razão por que estou crente
crente na obsessão da verdade
de que uma noite serei eternidade.

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TõeRoberto-guaranésia/mg-janeiro1970

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Moleque

Hoje, 13/09/08, vasculhando uns papéis... daqueles de trocentos anos, deparei com a letra de uma música - O Moleque - que fiz com meu amigo Efraim, de São Paulo, na década de 80.

A música, dele.

A letra, minha.

Pena que eu não tenho como disponibilizar a música no Falas da Boca.

A letra:

Já fui menino, barriguinha de pilão
a cara suja, olhos vivos, pés no chão
bodoque em punho, o sanhaço no mamão
ai, meu Deus, quanta saudade
dorme no meu coração!

Quentei fogueira, rezei terço de São João
tive pereba da cabeça até o dedão
fugi da escola pra pescar peixe chorão
ai, meu Deus, quanta saudade
dorme no meu coração!

Assei batata no borralho do fogão
lidei corote na colheita do feijão
já tive medo de Saci na escuridão
ai, meu Deus, quanta saudade
dorme no meu coração!

Nadei pelado na lagoa do grotão
roubei goiaba na roça do Gué Simão
mas veio a barba, esqueci toda lição
ai, meu Deus, quanta saudade
dorme no meu coração!'

Confesso:

Tive saudades dos tempos em que eu era O Moleque da letra.

Mas isto é outra história!

Hoje, sou apenas um moleque que cresceu, não tenho mais barriguinha de pilão, porque faço exame de fezes a cada 6 meses e não ando mais de pés no chão.

Não tenho mais perebas, nem tenho fogão de lenha, nem sei mais o que é corote, não acredito em Saci, não nado mais pelado e nem roubo mais frutas no quintal de ninguém porque sou um cidadão politicamente correto.

Um chato, pode-se dizer!

Hoje, sou apenas um adulto que, cercado de toda a 'falsa felicidade' que o mundo tenta lhe proporcionar, fica com os olhos molhados ao descobrir, numa letra de música, todo o fantástico e encantado universo com o qual conviveu na infância.

E não quero dizer mais nada!

Que eu estou ficando triste!

Um abraço para meu amigo Efraim que, sinceramente, fez uma melodia maravilhosa, na qual coloquei a letra.

E pelo telefone!

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TõeRoberto

sábado, 5 de setembro de 2009

Ozilina Alberta

Ah, Ozilina Alberta, não sei mais o que faço com Oleniza Márcia!

Já disse a ela mais de 1000 vezes que sou teu... só teu!

Não adianta!

Ela me disse: te quero a qualquer custo!

Diga alguma coisa, mulher!

Faça alguma coisa, me abrace, me beije, abra as pernas, chore, grite, esperneie... mas tome uma atitude, mulher... senão eu não aguento!

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TõeRoberto

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

União

Somos um
e gostaria que fôssemos dois.
Depois nem a vida:
só dois.

Somos dois
e gostaria que fôssemos três.
Depois nem a vida:
só três.

Somos três
e gostaria que fôssemos depois.
A união da vida:
três em um.

Somos depois
e gostaria que fôssemos acordados.
A união do sonho:
um só um!

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TõeRoberto-guaranésia/mg-17abril1975