quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Donária Gabriela

Quando tivermos os nossos filhos, Donária Gabriela, eu quero colocá-los dentro de uma redoma de vidro!

Eu quero deixá-los longe do mundo!

O mundo é tão cruel!

Nossos filhos serão tão frágeis!

Olhe bem para nós dois e veja o estrago que a vida fez nos nossos olhos sem brilho!

E nem começamos a viver!

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TõeRoberto

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Solenidade

Perdemo-nos atrás da cortina do desgosto
e não nos acharam porque estavam indispostos.

Veio a noite sombria
e choramos o medo de ser vivo.
Queríamos o dia, queríamos
mas sentimo-nos passivos
e perdemos o gosto de ser livre.

Fomos ludibriados.
Todos riram, riram e riram.
Ficamos chocados
e choramos o medo de ser vivo
e perdemos o gosto de ser livre.

E choramos à moda da casa
e tivemos desgostos
e sofremos pesadelos
e ficamos indispostos
e não nos acharam
porque perderam o gosto de ser vivo
e choraram o medo de ser livre.

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TõeRoberto-guaranésia/mg-29maio1975

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Divagações

A maioria das pessoas que eu conheço se vangloria do amor, do relacionamento... da vida.

São os tais!

Têm tudo sobre controle!

A relação com o companheiro/companheira, a rebeldia dos filhos, a falta/excesso de dinheiro, o estilo de vida.

São extremamente competentes em tudo que se relaciona à convivência homem/mulher, homem/sociedade, eles/com eles mesmos.

São verdadeiras fontes de competência e equilíbrio.

O que acontece comigo?

Tudo é tão díficil!

Enxergo a maioria das pessoas infelizes..., inclusive eu, minha companheira, meus filhos, meus amigos.
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Falta um algo no relacionamento humano - principalmente familiar.
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Parece que tudo é ensaiado e todos os passos e atitudes são previsíveis.
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Parece que temos um contrato virtual onde fazemos de conta que não temos problemas.
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E temos que parecer felizes... principalmente depois que plantamos uma árvore, temos um filho e escrevemos um livro.
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E o sistema se sustenta!
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Agradece!
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Amanhece mais forte a cada segunda-feira.
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E cria fantasias, felicidades subliminares escondidas na feiura da sua beleza metafórica.
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E vamos destilando a nossa felicidade amarga nas faturas dos cartões de crédito, nos paredões do BBB, na nossa responsabilidade forçada, no faz-de-conta que tá tudo bem.
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E vamos nos locupletando nas conversas atravessadas deste grande idiota que é igualzinho a todos vocês.
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Acredita em passarinhos verdes.
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Acredita na beleza inadiável do futuro.
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Acredita que o ser humano é encantado.
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Que já encontrou o seu Shangri-La... só que não sabe como abrir a porta.
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TõeRoberto-post in férias por aí/br

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Lavínia Cristina

Eu, Lavínia Cristina, amei aquela noite que você bebeu e, sob aquele luar apaixonado, vomitou nos meus cabelos!

Amor também pode ser... nojento!

Só não foi melhor porque Pizza, Sangue de Boi e Pé de Moleque não são iguais a Escargot, Champagne La Viuve Clicquot e Trufas!

Mas também foi bom!

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TõeRoberto

sábado, 17 de outubro de 2009

Nostalgia

De olhos pelo teto afora
assim tão perto do passado agora
rebusco em tudo o quanto me recorda
a longínqua paz que residia em mim.

Recordar agora, assim tão longe agora
por essa noite tão presente assim
a paz e o amor, quantos deuses lindos
aos quais adoro e receio enfim.

Por isto agora, nesse teto afora
rebusco em tudo do que pressinto o fim
a força e o desejo de que seja breve
mas eterno enfim
todo esse momento que se apossou de mim.

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TõeRoberto-são paulo/sp-06abril1972

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Presente de aniversário

Naquele sábado Aldecira estava no seu 33º aniversário.

A programação: presença de todos os amigos a partir das 20 horas, uns salgadinhos, umas cervejinhas, uns docinhos e um bolinho, coisas que nunca faltaram nos seus aniversários.

E a garrafa de champanhe espumante que era para os brindes.

Ritual que adotara desde o seu primeiro aniversário em companhia de Gildevandro.

Uma correria daquelas: farinha, frango, ovo, leite, açúcar, leite moça, queijo, camarão, carne, trigo, manteiga, chocolate...

No meio dela Gildevandro avisou que tinha um negócio pendente na firma e teria que trabalhar até a parte da tarde.

E disse, também, que aquele aniversário teria um elemento novo.

Queria que ela o encontrasse no Babylon às 18 horas para fazer um brinde com os seus colegas da firma e para que ele desse - uma surpresa - o seu presente de aniversário.

Coisa que ele prometera aos amigos.

Aldecira deu com os ombros, Gildevandro deu-lhe um beijo na testa, virou as costas e saiu.

Muito trabalho: batedeira, liquidificador, fôrmas, assadeiras, panelas, pratos, fogão, forno, micro-ondas...

Um dia corrido, mas era seu aniversário e fazia tudo com o maior gosto... do jeito que Gildevandro gostava.

O relógio girou... 17 horas.

Terminou de fritar os últimos salgadinhos, tomou um banho correndo, começou a se produzir: primeiro, a calcinha vermelha, tara de Gildevandro; colocou o vestido azul - sem sutiã - o tesão de Gildevandro; uma borrifada de perfume no pescoço, a baba de Gildevandro; o batom vermelho - brilhante - o jantar de Gildevandro; ajeitou o cabelo para o lado, os suspiros de Gildevandro; aquele sapato de salto alto - o que empinava a bunda - o êxtase de Gildevandro.

E se sentiu gostosa... para Gildevandro.

Um último retoque no batom e saiu.

Chamou o táxi e se dirigiu ao Babylon.

No caminho pensou no homem maravilhoso que era Gildevandro: o homem, o macho, o companheiro, o amigo, o amor, o ar, as manhãs, o sol, o tesão do seu tesão, a vida da sua vida!

Sorriu!

Chegou ao Babylon, ainda de fora ouviu a voz de Gildevandro, e percebeu que o álcool já estava 1/2 alto.

Sentiu um arrepio no corpo.

Lembrou que Gildevandro, bêbado, era um tarado maravilhoso.

Entrou.

Gildevandro, bastante alcoolizado, a viu e gritou: Aldecira, Aldecira, ainda bem que você veio!

Hoje você vai conhecer a mulher da minha vida, a mulher que eu amo!

Sentiu-se 1/2 que constrangida, mas também 1/2 que lisonjeada e entendeu que o 'Presente' que ele ia lhe dar era uma declaração de amor em público.

Arrepiou de novo e dirigiu-se, sorridente, em direção a Gildevandro quando uma loira escultural, fatal, federal, animal entrou.

Passou por ela, foi até a mesa, abraçou Gildevandro, deu-lhe um beijo pornográfico na boca... daqueles de deixar qualquer um excitado no meio da multidão.

Gildevandro gritou: esta - Aldecira - é Luzineide, a mulher que eu amo!

E a beijou sem-vergonhosamente, despudoradamente, descaradamente... filho-da-putamente.

Aldecira apoiou-se na mesa, o chão lhe faltou, o coração deu um pulo tão grande que quase saiu pela boca.

Com as pernas bambas, o coração na mão, virou as costas e saiu desesperada, 1/2 que cega, 1/2 que sem respirar, 1/2 que apunhalada no mais profundo de todo o seu amor... e da sua vida.

Ainda ouviu quando Gildevandro repetiu: esta - Aldecira - é Luzineide, a mulher que eu sempre amei e amo!

(...)

A casa cheia de gente, mesa posta: quibes, empadinhas, cochinhas, esfihas, coca, guaraná, cerveja, beijinho, olho de sogra, queijadinha, bolo, a champanhe do brinde... os presentes sobre o sofá.

Atravessou, em silêncio, a sala, abraçou Aldevandro Jr e Gildecira - filhos - e chorou... sem lágrimas.

Chorou - com o vulcão da alma em chamas - um choro fino, ardido, doído; um choro de animal acuado, ferido mortalmente pela farpa dos amores tristes.

E ouviu: Aldecira faz anos, o azar é só dela...

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TõeRoberto

domingo, 11 de outubro de 2009

Nirleide Izabela

Aos poucos, Nirleide Izabela, vou quase te compreendendo.

Você é mulher de poucas palavras... muitos silêncios.

Observa o mundo de cima, com teu senso crítico, e não há nada no mundo que mude a tua postura sobre um determinado assunto.

Vivo sob o crivo dos teus pontos de vista de silêncio.

Queria que você, por um segundo, me pensasse como o teu amor; o cara com quem você dorme e paga dívidas de cartão de crédito há trocentos anos.

Segura a onda e fale alguma coisa pelo menos uma vez!

Quem sabe da tua boca sem vida possa nascer um girassol enternecido.

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TõeRoberto

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Traição

Há uma traição no ar pairando
há um punhal
o sangue
a lama
há um ser agonizando
junto à mulher e à cama.

Há um amor no ar pairando
há um ser
o sangue a lama
há uma traição agonizando
nos olhos de quem se engana.

Há um delírio na festa
a cama
há dois olhos soluçando
há um desejo assassino
no rosto de quem se ama.

A traição se fez em chama
fez-se punhal no âmago
pra lançar sangue na lama
desse peito em desencanto.

Fez-se lama o desencanto
no peito da mulher que ama
fez-se da traição um espanto
nos olhos de quem é chama
no rosto de quem se ama.

Fez-se sangue a dor alheia
deixando suor na testa
quando do delírio da cama
fez-se da traição a festa.

Fez-se de festa o desengano
fazendo de sepulcro a cama
quando não mão de quem ama
brilhou o punhal da vingança.

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TõeRoberto-são paulo/sp-20dezembro1974

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Promessa

Sem gozação!

Outro dia eu disse:

Nena, se eu tiver um derrame, ficar usando babador, sentado numa cadeira de roda, usando fralda, tomando sopa de canudinho e você me sacanear, você vai ver!

Sacanear como?

Mulher é um bicho danado, ela sabia o que estava falando e fingiu não entender.

Você sabe do que estou falando!

Não, não sei!

Sabe, quando a Nayanna está chorando, vocês fazem o quê?

Coloca a bichinha na frente da televisão!

E tenho certeza que também vão fazer isso comigo!

Indefeso, vou ficar ora na cozinha, ora no tanque, ora dormindo e quando - acordado - perderem a paciência comigo vão colocar a minha cadeira de rodas na frente da tv.

Puta que pariu!, estou sentindo na pele.

Vou assistir ao Jornal Hoje, à Ana Maria Brega, à Xuxa, ao Globo Esporte, ao Vídeo Game, ao Vale a Pena Ver de Novo, à Sessão da Tarde, à Malhação, à Novela das 19h, ao Jornal Nacional, à Novela das 21h, ao BBB, à Tela Quente, ao Jornal da Globo e ao Jô Soares... e, se ainda existir, ao Corujão.

Ou, na melhor das hipóteses, vão me deixar no canto da garagem, sozinho... babando.

Mas eu prometo: se Nena fizer isso comigo, juro que, quando eu morrer, eu volto e vou tirar a calcinha dela todas as noites.

E vou tomar o seu travesseiro.

E vou descobrir as suas orelhas.

E vou abrir e fechar a porta do guarda-roupa.

E vou ligar e desligar a tv.

E vou fazer cócegas nos seus pés.

E vou peidar embaixo do lençol.

Eternamente!!!

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TõeRoberto

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Inocência Auxiliadora

Eu, Inocência Auxiliadora, preciso parar de beber!

A TGO e a TGP estão fodas!

Litros e litros de álcool por você!

Ressacas homéricas, dias em que eu penso em me matar!

É foda!, o corno dói eu corro pro boteco.

Bebo pra esquecer, e quanto mais eu bebo mais eu me lembro e mais eu bebo.

Não sei o que devo fazer da minha vida!

Ou mando você se fuder, ou faço um transplante de fígado e continuo sofrendo e bebendo por você... sua... sua desalmada!

Bicho ruim!!!

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TõeRoberto