segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Escancarada manhã

A escancarada manhã se faz.

E saio à rua tomado de inquietante sensibilidade.

Preciso fazer algo, algo importante para não perder a imagem desta manhã.

Uma fotografia.

Um poema.

Uma melodia.

Uma crônica.

Um guardar a 7 chaves no fundo da memória.

Um sair pelo mundo contando sobre a sua beleza.

Um mergulhar no infinito da sua claridade.

Um encher o peito e se sentir feliz.

Que manhãs assim não acontecem todas as manhãs.

Às vezes uma... ou duas vezes na vida.

Pra muitos, nenhuma!

Pra mim, a primeira!

Que manhãs desta grandeza, Deus, egoisticamente, guarda só pra ele.

E só as libera quando tomado de profunda compaixão, por nós, enche a cara à noite.

E de manhã, ressacado, as deixa escapar, por descuido, pelos vãos dos dedos.

E elas amanhecem para nós.

Com todas as suas sutilezas.

E surpresas.

Graças a Deus!

TõeRoberto

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A tristeza de Anamaria

Não posso culpar Anamaria pela sua tristeza!

Anos e anos juntos e nunca um 'eu te amo!'.

Ou um simples 'gosto de você!'.

Apenas um silêncio pacífico, alguns momentos de alegria, uns afagos 1/2 tímidos nas mãos... ou nos cabelos.

Uma convivência árida, com muitas pedras, poucas águas, muitos desertos, poucas florestas, muitos nãos... poucos sins.

E Anamaria ficou triste.

Levanta-se triste, faz o café, varre a casa, despacha as crianças para a escola, lava a roupa, faz o almoço, lava a louça...

E engole tudo num único e desconfortável momento de tristeza.

E a tristeza do seu amor, antes passiva, vai tomando vida e começa a se esparramar pelos cantos da casa.

Afetou os cachorros, a samambaia da varanda, o programa de humor da televisão... o tempero da comida.

E vai enchendo a casa...

Não há como fugir, é como uma epidemia, algo contagioso que se aloja em todos os cantos da sala, dos quartos, da cozinha, dos banheiros, do chão e do teto.

Não cabe mais na casa.

Começa a sair pelos buracos das fechaduras, por debaixo das portas, pelas frestas das janelas e começa a ganhar a rua.

A tristeza de Anamaria se locupleta, se enche de maior tristeza ainda e começa a se esparramar pela cidade amanhecida.

E toma conta de tudo: da fila da previdência, dos taxistas, das repartições públicas, das escolas, dos transeuntes, dos bancários, dos médicos, das plantas, dos animais... de todos os seres vivos da cidade.

E ganha corpo, ganha vida.

E ninguém percebe o triste amor de Anamaria se alastrando pelas ruas.

Tristes caminham pelas ruas e vão ao trabalho, à procura de emprego, do dinheiro e da felicidade... em busca do amor.

E carregam nas costas a tristeza do amor de Anamaria.

Carregam na alma a minha total negação ao amor lírico, ao amor passional, ao amor de paixão... de compaixão.

E são filhos da minha ausência, do meu 'não me declarar', do meu 'não amar', são filhos do 'querer ser amada' de Anamaria.

E a tristeza avança, toma os trens, os ônibus, os caminhões, os navios e os aviões...

E se espalha...

E vai pelo mundo...

E Anamaria deitada na rede da varanda embala com uma cantiga triste a sua tristeza universalizada.

E eu 1/2 que acariciando os seus cabelos.

Num raro momento de consideração.

TõeRoberto

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Construindo o poema

Assim se faz o poema:

silêncio
papel
pena!

Uma loucura serena
uma alma das plenas.

Nada mais!

Que o resto não é poema!

TõeRoberto

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Pensando na vida

Estou aqui às 22 horas na varanda da minha casa tomando minha cervejinha, pensando na vida.

Não consigo entender por que tenho tantas coisas pra pensar na vida.

Penso todos os dias nas coisas da tal de vida.

Tô enfastiado, esgotado de tanto pensar.

Não entendo!

Você também pensa na vida?

Adianta alguma coisa?

Se adiantasse acho que eu não pensaria na vida amanhã.

Mas não tem jeito!

A primeira coisa que vou fazer depois de acordar é pensar na vida.

E a última antes de dormir!

Acho que a vida é muito egoísta, muito exibida, muito carente.

Exige que a humanidade inteira pense nela todos os dias, sem folga!

Uma pergunta:

Será que a vida é mulher?

Brincadeirinha!!!

TõeRoberto