quinta-feira, 31 de julho de 2008

O QUE SÃO...

POESIA: SUÃ/SUÃO - 7 ANOS DE SIM/NÃO

O que são 7 anos na memória?
Um eco?
Um vago?
Um vazio?
Um tédio?
Um rastro?
Ou a simples constatação do nada
a que somos submetidos
a cada idade
a cada tempo
a cada caso?

Ou seremos somente
uma lágrima afiada
uma dor embrulhada na mala
os passos caminhando ao acaso
os olhos procurando nova casa?

Seremos mesmo memória
ou tempo diluindo nossa história?

Seremos resíduos de fatos

olhos de crianças confessas
cacos de copos estilhaçados
móveis empoeirados e riscados
fundas discussões sobre o passado
sonhos, pesadelos embolorados
ou tudo é o tempo que aflora
corroendo nossos ossos, nossa carne
roçando nossos lábios
nossa pele
gritando que o minuto é passado
gritando que a ruína se alicerça
na nossa alma dilatada?

Seremos o corte da alma

ou o simples palpitar do coração
o frio imaginário das retinas
o gesto adormecido em cada mão
ou somos o acordar do que não somos
a fome de sonhar o que perdemos
o grito aprisionado no estômago
a vida que nos exige
no momento.?

O que seremos?
Crimes?
Desrespeitos?
Vis traições?
Ratos?
Sanguessugas?
Escorpiões?
Homens e mulheres que palpitam

no peito incendiado da emoção?

Ou tudo é deleite de quem vive
sonhando ser a águia ou gavião
que voam no espaço azulado
sem rumo
sem regras
sem precisão?

Ou seremos o espelho dos instantes
o canto impreciso das manhãs
o fruto que deseja ser mordido
pelo vasto itinerário das paixões?

O que seremos?

O que fomos?
O que somos?
Um riso sanguinário de atitudes

ou almas precisando de perdão?
(São Paulo/Sp-10Abril1985)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 30 de julho de 2008

O CAJU

CRÔNICAS&CONTOS: SUA ALMA, SUA PALMA

- Faltando uma semana para o casamento, Genivaldo estava mais liso que uma pedra de gelo.

- Nem a meia tinha! A moça pobre, mas o pai enjoado. Queria casar a filha no melhor estilo. Única filha, desejava ver a noiva mais bonita do mundo. Queria também um noivo apresentável.

- Genivaldo arrancava os cabelos da cabeça.

- Lirinho, seu amigo de infância, mais saído que Genivaldo lhe disse: Ô Genivaldo por que tu num aluga a roupa, home!

- Tem isso, é? - questionou Genivaldo.

- Oxente, tem sim! Eles alugam até a cueca se tu não tiver.

- Assim fez Genivaldo. Foi à loja e alugou tudo: meia, sapato, camisa, gravata, lenço, terno - o terno do seu gosto - de linho branco, impecável.

- O atendente, depois de tudo pronto, advertiu Genivaldo: Olha seu Genivaldo, eu só peço pro senhor tomar muito cuidado com este terno, porque ele é caro, muito caro - é importado!

- Preparativos do casamento, as amigas ajeitando o noivo, a irmã mais nova de Genivaldo falou com a mãe: manhê tem um cajuzão sem tamanho lá em cima do pé de caju. Pede pro Genivaldo apanhar pra mim. Tô com vontade de comer caju!

- Genivaldo gritou lá do quarto: tu tá doida, menina! Oxente, eu tô me arrumando pro casamento. Eu vou lá mexer com caju!

- Esquecido o caju, a hora do casamento chegou: Genivaldo, no terno de linho branco, camisa preta, gravata listrada de preto&branco, lenço vermelho no bolso, sapatos pretos, meias brancas; parecia um major, um homem de posses - não fosse o aluguel de tudo ter sido feito no crediário.

- Pronto, deu um beijo na mãe, outro na irmã, um abraço no pai - todos felizes e orgulhosos - e se dirigiu à porta pra chegar até o carro de Lirinho que ia levá-lo à igreja.

- Mal atravessou a porta, deu dois passos em direção ao portão - isso já embaixo do cajueiro que ficava na frente da casa - quando a tragédia abateu-se sobre ele: o caju, o cajuzão desejado pela irmã, o único caju daquele cajueiro soltou-se lá de cima e caiu bem no cocuruto da sua cabeça.

- Foi caldo de caju - nódoa pura - para todos os lados: escorreu na frente e atrás do paletó de linho branco, na camisa preta, na gravata listrada de preto&branco, na calça de linho branco, no lenço vermelho. Até na cueca chegou: o líquido escorreu pelas costas e desceu pelo desfiladeiro das nádegas.

- Ficou gelado. Lembrou-se da recomendação do dono do terno: "é caro, muito caro - é importado!"

- Não falou nada. Entrou em casa, tirou a roupa, vestiu a velha bermuda preta, a camiseta regata suada, a chinela havaiana e saiu pra rua.

- No bar do Bigode, pediu uma cachaça, virou numa talagada só e murmurou entre dentes: já que eu tô fudido, fudido e meio! Foda-se o casamento!

- Pediu outra cachaça e vapt!....

- Começou a se sentir mais leve quando um cheiro delicioso de caju começou a chegar às suas narinas.

- Pensou: que merda!!!

- E pediu outra cachaça.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 29 de julho de 2008

VIVELINA CATARINA

ELA&EU

- Ah, Vivelina Catarina, não se faça de besta comigo!

- Eu vi quando você ajeitou o vestido e abriu as pernas para mostrar a calcinha para Roberto Mauro.

- Você esqueceu que fazia isto comigo quando era casada com Saulo Antônio?

- Caralho, Vivelina, eu pensei que você tinha se curado desta tara!

- E o pior de tudo é que, depois - eu sei, você me contava - chega em casa tarada por mim da boca pra fora.

- Como fazia com seu marido - quando mostrava a calcinha pra mim, tá lembrada?
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 28 de julho de 2008

JOÃO PESSOA

CRÔNICAS&CONTOS: SUA ALMA, SUA PALMA

- Não sou daqui - nem sabem que eu existo - mas te digo uma coisa.

- Tá a fim de mudar de vida?

- Tá a fim de passar férias num lugar bacana?

- Tá a fim de conhecer um povo educado que respeita faixa de trânsito e te atende com educação?

- Tá a fim de conhecer uma culinária diferente, saborosa, preço legal?

- Um litoral maravilhoso, lindo, limpo... tudo pertinho de você?

- Uma cidade com dezenas de lugares onde rolam boa música, exposições, teatro, poesia, arte popular?

- Tá a fim de conhecer uma capital que, por um momento, parece que parou no tempo, em outro momento é uma cidade moderna e agitada?

- Uma capital onde ainda se vende gás com carroça, na rua?

- Um lugar onde você caminha tranqüilo pela praia limpa, linda, verde e segura?

- Um lugar bom para criar os teus filhos?

- João Pessoa é a cidade!

- Muitas pessoas estão vindo para cá.

- Aqui ainda existe um cheirinho de humanidade pelo ar.

- Um sol maravilhoso o ano inteiro!

- Um volume enorme de verde por pessoa!

- É umas das cidades mais verdes do mundo.

- João Pessoa é o lugar!

- Experimente!

- Fui... pra praia!...

- E vou tomar uma cerveja!...

- E comer um sovaco-de-cobra!

- Um rubacão!

- Uma agulhinha frita!

- Uma buchada de bode!

- E tomar um sol!!!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 27 de julho de 2008

DE CAVALO, NÃO!...

POESIA: SUÃ/SUÃO - 7 ANOS DE SIM/NÃO

De cavalo, não!

Nunca mais!

Nem patas
nem crinas
nem dentes!

Nem galopes frouxos
pelo túnel do tempo
nem relinchos loucos
no calor da noite!

Nem estábulos!...
Nem arreios!...
Nem freios!...
Nem cansaços longos
nem suores quentes
nem feridas feias
nem costado liso!

Nem donos
nem ordens
nem esporas finas
perfurando flancos
nem chicotes duros
retalhando a carne!

De cavalo, não!
Nunca mais!...
Estou vivo!...
(São Paulo/Sp-Fevereiro1985)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 26 de julho de 2008

TAOLA AUGUSTA

ELA&EU

- Ah, Taola Augusta, nem pense em me abandonar!

- Faça isto e eu volto a fumar, volto a beber, volto a fumar maconha, volto a comer gordura de picanha, volto a comer frango com pele, volto a falar mal de Deus, volto a sair com meus amigos, volto a chegar de madrugada, volto a comer a Izildinha, volto a jogar bola nos finais de semana, volto a jogar bilhar, volto a viajar todos os meses, volto a...

- Ah, Taola, o que você tá esperando pra me abandonar!?

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 25 de julho de 2008

OS HORMÔNIOS

CRÔNICAS&CONTOS: SUA ALMA, SUA PALMA

- Cara, estou fudido!

- Estava me olhando no espelho, corpo inteiro, e fiquei assustado.

- A minha teta esquerda tá maior que a direita.

- O meu bigode, do lado direito, tá mais grosso, mais preto do que o do lado esquerdo.

- Tá nascendo pêlo no meu peito - um pêlo ralo e preto.

- Exclamei: cruz-credo!, e a minha voz saiu diferente... meio fina.

- Me olhei bem e percebi que, depois de velho, eu cresci uns 03 cms.

- Os pêlos do lado esquerdo do saco estão caindo, os da direita estão viçosos.

- O pau, que sempre foi pequeno, tá diminuindo.

- O saco, que sempre foi durinho, tá espichado - as bolas, pesando cada vez mais, estão puxando o pau pra dentro.

- A minha coxa esquerda tá dura, a direita tá flácida - com menos pêlos que a esquerda.

- A minha perna direita, pelada - a esquerda, peluda.

- As unhas do pé esquerdo, que cortei no mesmo dia que cortei as do pé direito, estão duas vezes maiores que o direito.

- Rapaz, depois de velho estou em plena metamorfose.

- Só falta menstruar!

- Tô assustado!

- Tô me transformando em outra coisa.

- Metamorfose atrás de metamorfose.

- Calculo que até o final do ano terei penas.

- Assustado fui até a cozinha tomar um copo d'água.

- Abri a geladeira e dei de cara com um Frango da Terra, um Contra-Filé Frigoboi, um Lombo de Porco Sadia, um Chester Perdigão, um peixe de não sei quem.

- Pensei: porra!, aqui está parte dos responsáveis pelo desaparecimento do meu pau.

- Os restos mortais dos pobres animais criados com hormônios para crescerem mais rápido - e morrerem mais rápido.

- Pensei: caralho!, este troço é um perigo.

- Vou me transformar em vegetariano!

- Pensei: mais aí eu tô fudido de vez!

- E o agrotóxico?

- As centenas de tipos de cânceres?

- Pensei: puta que o pariu!, viva os hormônios, deixa o pau sumir.

- Ainda não mexeram com a língua.

- Nem com a bunda!

- Você que gosta de hormônios comprados no supermercado, compre e guarde bastante vaselina.
- Porque no futuro vai faltar.

- Os homens estão em extinção.

- A nova raça não tarda.

- E teremos sexo duplo e fuderemos a nós mesmos sem camisinha.

- Com a geladeira cheia de frangos da Sadia.

- O corpo coberto de penas.

- E a voz do Pato Donald.

- Já tô mijando sentado.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 24 de julho de 2008

DOS TEMPOS

POESIA: SUÃ/SUÃO - 7 ANOS DE SIM/NÃO

Dos tempos o pior que me restou

foi sua presença atrasada
foi tê-la, imagem viva,
perdida naquele espaço
onde eu nunca me encontrava
mas onde você estava
com seus olhinhos cansados
à espera de minha vida
sem meu rosto
sem minha mágoa
sem meu sorriso contente
por tê-la, então, encontrado
por tê-la trazido no tempo
de muitas luas passadas
por tê-la tido comigo
dentro do peito guardada
enquanto o tempo rugia
por sua ausência calada
enquanto os olhos se viam
no espelho do passado
enquanto os pontos corriam
para o encontro marcado
enquanto a vida fazia
justiça pelo atraso
de termos juntos vividos
sem nunca nos encontrarmos.
(São Paulo/Sp-Fevereiro1985)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 23 de julho de 2008

A INGENUIDADE

CRÔNICAS&CONTOS: SUA ALMA, SUA PALMA

- Sempre fui ingênuo.

- Sempre acreditei na bondade da raça humana.

- Morei em São Paulo, Olinda, Recife, Santos, Ilhéus, João Pessoa - grandes cidades - nunca tive a infelicidade de ser assaltado ou sofrer qualquer tipo de violência.

- Enxergo a sociedade como um filme.

- É como se fosse uma fantasia.

- E violência é ficção.

- Vamos dizer que fiquei folgado.

- Vítima que não fui, acredito na solidariedade humana.

- Acredito na bondade infinita do ser humano.

- Mas o mundo não é o que eu gostaria que fosse.

- Os dados da mídia desmentem o meu otimismo.

- Dizem que eu tenho que tomar cuidado... que o ser humano é um animal mau, cruel... e violento.

- Mas sou teimoso: saio pelas ruas de João Pessoa e não consigo enxergar isto.

- Acho que não está na minha índole enxergar a maldade.

- Se é que os maus trazem uma estrela na testa... ou os bons!

- Segundo a mídia, amanhã posso ser vítima como qualquer um.

- E dirão: se fodeu por excesso de otimismo!

- Acredito que é melhor se foder com otimismo do que com pessimismo.

- O sol nasce para todos.

- A chuva lava as nossas almas.

- A noite nos acalenta ou nos esconde da vida.

- Mas se for para achar de verdade que o ser humano é mau, cruel... e violento, se for pra levar meramente pelo lado do instinto - animal que sou - aí eu poderia dizer:

- Tomem cuidado comigo!

- Eu também sou mau.

- Sou tão mau quanto você.

- Sou capaz de foder qualquer um.

- Um político, um vizinho chato, o colega de trabalho, um amigo, a minha mulher e o meu filho... aquele filho-da-puta que fodeu o "Parmêra" marcando um gol aos 46 minutos do segundo tempo.

- Você não conhece a minha maldade... nem a sua.

- Ela está lá, escondidinha... só esperando ser provocada para sair.

- Mas, felizmente, não estou falando de animais, estou falando de seres humanos.

- Viver e ser humano é humano, não 'animal' como dizem hoje!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 22 de julho de 2008

NILDEZETE MARIA

ELA&EU

- Ah, Nildezete Maria, relativo mesmo é quando eu sofro por você durante um segundo e me parece que se passaram horas!

- E quando estou com você durante horas e me parece que foi apenas por um segundo!

- Ah, Nildezete, Einstein não entendia nada de relatividade!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 21 de julho de 2008

ANTONIALVO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Ela passou com sua bundinha empinada - 10 anos, 20 vezes por dia - semana de 05 dias.
.
- Antonialvo rabiscou o rabo do olho pela 52.800 vezes.
.
- Baixou a cabeça e continuou trabalhando.

- Ela passou pra ir ao banheiro com a sua bundinha empinada.
.
- Antonialvo rabichou o rabisco do olho.
.
- Baixou a continua e cabeçou trabalhando.

- Ela voltou do banheiro com a sua bundinha empinada.
.
- Antonialvo rabiscou o olhado do rabo.
.
- Baixou o trabalho e continuou cabeçando.

- Ela passou mais 17 vezes com sua bundinha empinada.
.
- Antonialvo...
.
- Baixou...

- À tarde, Antonialvo, depois de tantas idas vindas daquela bundinha empinada, estava sereno.
.
- Deixou o rabichou com o olho do continuou e cabeçou o rabo do trabalhando.

- Foi internado com 40 graus de febre, com 52.800 bundinhas empinadas girando no meio da sua cabeça.

- 90 dias de licença.

- E o médico o aconselhou mudar de emprego, onde ela não passasse 20 vezes por dia com a sua bundinha empinada.

- Dizem que Antonialvo passa bem!

- Só as consegue palavras organizar não direito!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 20 de julho de 2008

TUMULTO

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Tumulto é o meu nome e se escreve com pólvora

e se escreve nos muros da cidade adormecida.
Cheguei à cidade triste e escalei seus altos muros
com meu nome preenchidos.

Tumulto!
Cheguei agora e estou prestes a eclodir
nas bocas que comem a carne
na carne que engole a carne
nos crimes que vão explodir
nas edições dos jornais
assim que o dia surgir.

Tumulto é o meu nome e se escreve com sangue
nos olhos fundos do homem que está prestes a ruir
que está prestes a mergulhar
nas ondas do fundo mar
à procura de uma paz
que não lhe dá seu país.

O sangue preenche as páginas da história
que escrevi
os sonhos são meros fatos
nas ruínas que ergui
os homens não são mais nada
nas ruas de qualquer cidade:
Helsinque
Havana
e Paris.

O homem destrói o homem
o bicho liquida o bicho
o homem mais se aproxima
do bicho que come o lixo
do que o homem que eu vi.

Há espaço pro tumulto
por isto estou aqui
com minha febre escondida
nas aventuras do gibi.

Tumulto gera tumulto
os homens são meu frenesi
quanto mais eu toco neles
mais eles querem de mim.

Tumulto é o meu nome e se escreve com gritos

na aventura da TV
e se escreve com a fúria daqueles que são assim
meio homens, meio bichos
meio metade de lixo
escondidos pelos nichos
que na cidade incluí.

E todos estão assim
meio homens, meio bichos
meio metade de lixo
escondidos pelos nichos da cidade
que escrevi.

Na peste
a morte é perversa
a morte é atleta
a morte é bela e esbelta
e não pra dormir.

O tumulto é esta peste

sou eu que cheguei aqui
sou eu que vim dos infernos
pra minha pátria ungir
com a febre de seus homens
e seu sangue ruim e hostil.

Eu sou o tumulto, senhores
e e vim para destruir
enquanto houver silêncio
e o lixo ao homem servir
e nquanto houver conivência
e o homem ao homem servir
meu nome gravado na pedra
o homem vai explodir.

Eu sou o tumulto, senhores
venham todos até aqui
toquem meus hematomas
minhas poças de sangue
o ardil
larguem desta cidade
o pesadelo senil
e todos os homens das ruas
venham acender o pavio.
(Santos/Sp-03:30hs/Domingo)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 19 de julho de 2008

GERVÁSIA ANTÔNIA

ELA&EU
.
- Ah, Gervásia Antônia, é bem provável que, antes de o sol se pôr, eu não esteja mais aqui!

- Mas se eu for eu lhe deixo um bilhete, um poema... um romance!

- Se eu for eu lhe deixo um castelo... nem que seja de cartas!

- Ah, Gervásia, eternas saudades do seu girassol entreaberto!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 18 de julho de 2008

A GUERRA DOS MUNDOS

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Do nada:

- Eu tô sabendo!
- O quê???
- De tudo!
- Tudo o quê?
- De tudo, do começo ao fim!
- Que começo, que fim?
- O que cê anda aprontando!
- Aprontando o quê?
- Cê vai se fudê!
- Pára com isto!
- Cê nunca quer falar nada!
- Falar o quê?
- Seu puto!!!
- Porra, o que é?
- Cê sabe o que é!
- O que é?
- Cê é muito safado!
- Cê enche o saco!
- Eu só sirvo pra isto!
- Enche mesmo!
- Não tô agüentando mais!
- Agüentando o quê?
- Tudo!
- Tudo o quê?
- Nós... nós... tudo!
- Pelo amor de Deus!
- A cerveja todo dia!
- O que tem a cerveja?
- Nada, a cerveja não tem nada!
- Mas tamo brigando por quê?
- Eu não tô brigando!
- Tá brigando!!!
- Não tô!
- Mas eu tinha feito uma coisa!
- Que coisa?
- Uma coisa!
- Que coisa, não falei nada disto!
- Falou, eu ia me fuder!
- Cê tá louco!
- Cê é que tá louca!
- Tá vendo?
- Vendo o quê?
- Como você me trata!
- Trato como?
- Você... seu... seu grosso!
- Eu???!!!
- Esse seu jeito!
- Meu jeito!
- É, seu jeito!
- Pelo amor de Deus!
.
- (...)
.
- Olha, enchi, precisamos sentar e discutir a nossa relação!
- Mas estamos discutindo a nossa relação!
- Não!
- Como não?
- Não, discutir... discutir mesmo a nossa relação... do jeito que vai não dá!
- Não dá o quê!
- Porra!!!
- Chega, amanhã a gente conversa!
- É sempre assim!
- Sempre assim, o quê!
- Assim!...
- Vou dormir, tenho que levantar cedo!
- Eu também tenho!
- Então vamos dormir!
- Você nunca quer conversar!
- Estamos conversando!
- Assim, não!
- Como assim, não?
- Assim!...
- Amanhã!
- Amanhã sou eu que não quero conversar.
- Boa-noite!
- Boa-noite... no sofá!!!

- Do nada, disputando o sofá com o cachorro!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 17 de julho de 2008

ESQUECE AMADA...

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Esquece, amada!
os dentes destes poemas,
estes inúteis sacrilégios de rimar
amor e dor,
fúria e injúria,
e coisas mais
e vem comigo, em viagem sem destino,
à procura de uma rima mais astuta,
mais audaz.

Que tal patético?
Epilético?
Ou caquético?
E por que não um verbo feio,
pra chocar?

Que tal calar?
Ou desprezar?
Ou consentir?
E por que não silenciar?

Que tal, amada,

uma rima desbotada
como sorrir,
aquietar-se
ou desprezar?

E por que não fazer o poema
sem a rima,
sem seu ritmo,
seu flutuar?

Por que não deixá-lo torto,
não deixá-lo morto,
não deixá-lo como ele está?

Por que fazer o poema
se não se acha uma rima
para fazê-lo voar?

Esquece, amada!

Não há poema para rimar,
não há rima para explicar,
não há nada pra se falar,
do sentimento profundo
de nós dois,
pobres poetas,
que vasculham o alfabeto
à procura das palavras
para o poema alinhavar.

Esquece, amada!
Nada mais vou procurar,
eu tenho medo por nós,
o poema é perigoso
e pode achar uma rima
para o verbo magoar.

E se eu achar esta rima,
a rima certa, dolorosa,
a rima dura,
a rima pura,
a rima rica para rimar?

Se eu achar esta rima
na certa , amada minha,
os corações vão sangrar.
(Santos/Sp-01Janeiro1996/Parte Final/11:35hs/Segunda-Feira)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 16 de julho de 2008

A INFORMAÇÃO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Estava assistindo, outro dia, uma reportagem sobre 02 irmãos, jovens, que foram assassinados em São Paulo.

- Não quero falar do crime em si, mas de como a informação sobre crimes chega até a nossa casa.
.
- Clara, agressiva, farta, definitiva - se o crime ocorrer no mundo dos pobres.

- Se no mundo dos ricos, às vezes o buraco é mais embaixo.

- A tv é detalhista.

- Nos mostra, como se fosse um jogo de futebol ou uma corrida de fórmula 1, os detalhes do crime, por mais mórbida que seja a narrativa do repórter.

- Só não mostra as imagens - acho eu - porque a lei não permite.

- São frios, vão até a cena do crime e contam a história com a maior naturalidade possível.

- Sempre achei que assuntos deste tipo deveriam ficar restritos ao sofrimento das famílias das vítimas.

- Coisas deste tipo não deveriam render dinheiro a quem já tem rios de dinheiro.

- Esta obsessão mórbida da imprensa por violência é assustadora.

- De alguma maneira nos coloca como pessoas coniventes e omissas em relação ao fato - é como se fosse apenas um filme a que já assistimos centenas de vezes e o enredo já não nos interessa mais.

- Parece até que a imprensa tenta o tempo todo nos dizer: o Brasil é um país violento!

- Mas não precisamos da imprensa para saber disto.

- Basta andar pelas ruas das grandes cidades - periferia das pequenas também - pela zona rural - pelo sertão nordestino que ela está estampada na miséria absoluta das comunidades carentes.

- Mas nisto, de uma forma geral, a imprensa não mexe.

- Isto é como se fosse um tabu.

- Falam da violência, mas não entram fundo e seriamente nos problemas que geram a violência.

- Isto seria como aderir aos movimentos sociais que tentam minimizar os problemas brasileiros.

- Aí o bicho pega.

- Enfim, mais dois meninos mortos, massacrados - apenas duas pessoas a mais.

- É como se dissessem: "dois a mais, dois a menos - tanto faz"!

- Enquanto a mídia vai contabilizando os seus lucros e muitos jornalistas brasileiros, que se notabilizaram por cobrir o crime, vão colecionando os seus prêmios.

- A miséria conta os seus mortos!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 15 de julho de 2008

VIDILINA CONCEIÇÃO

ELA&EU

- Ah, Vidilina Conceição, sozinhos não somos nada!

- Todos os silêncios nos importunam!

- As noites nos assombram!

- Os espelhos nos espantam!...

- O amanhecer é um desalento!...

- Ah, Vidilina, sozinhos morreremos afogados na eterna noite da solidão humana!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 14 de julho de 2008

A ATITUDE

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Aos poucos Sirenildo foi engolindo a separação.

- Primeiro, jogou o veneno fora.

- Depois se livrou das lâminas de barbear - ele, 05 anos sem fazer a barba.

- Em seguida se livrou dos 05 metros de corda escondidos embaixo da cama.

- Do 38 que comprou no porto.

- Do vidro moído que vinha fabricando há tempos.

- Dos 150 comprimidos de barbitúricos.

- Da Bíblia que lia todas as noites.

- Fez a barba.

- Cortou o cabelo.

- Comprou umas roupas.

- Um par de sapatos.

- E disse: foda-se!

- Queimou o retrato de Ladyzaura, rasgou as fotografias de Sirenildo Jr e Ladynilda Maria - filhos - botou gasolina na casa e... jogou um fósforo.

- Virou as costas, deu um sorriso diferente, dobrou a esquina e simplesmente... desapareceu.

- Dizem que pra sempre!...

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 13 de julho de 2008

PORTO SEGURO II

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

A poesia, na noite,

ronda a vida
como um animal acuado.

Ouço, com medo,
em silêncio,
o seu caminhar lá fora.

O coração, história nenhuma,
contenta-se em gemer
ao ritmo do rugido da fera.

E tudo é uma história,
um sentido incrustado nos ossos,
um sono de dormir noite nenhuma,
um perder-se na noite dos tempos,
um derramar-se sem abraços
no final da grande farsa.
(Eunápolis/Ba-18021999/06:15hs)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 12 de julho de 2008

LIBERDADE AMERICANA

ELA&EU

- Ah, Liberdade Americana, viver é sempre um ato de heroísmo, amar um ato de liberdade!


- Ainda me lembro de você e sua ânsia interminável por viver e amar.


- Uma águia cruzando os ares à procura do horizonte azul do infinito.

- Uma mulher dedicada a ser viva.

- Um ser vivo dedicado a ser mulher.

- Ah, Liberdade, você me ensinou o valor da vida, a necessidade de liberdade!

- Você me libertou da minha cegueira de macho e pintou o meu horizonte de infinito!


(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

A FITA

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Casado sou há mais de 20 anos.

- Sabe como é que é!

- Alegrias, tristezas... tristezas&alegrias.

- Às vezes penso no passado.

- Aquelas coisas de homem casado.

- Aquelas lembranças boas, boas, boas, ruins... boas&boas&boas.

- O sol nasce, se põe; a lua nasce, se põe... e a vida vai rolando dentro da medida do possível.

- É a vida de um homem casado... e também de uma mulher casada!

- Outro dia fuçando numas coisas velhas - aquelas coisas do passado que você nem se lembra mais que existem - achei a fita de vídeo do meu casamento.

- Nem me lembrava mais que o meu casamento tinha sido filmado.

- E nunca assisti à danada da fita!

- Não se assiste a uma coisa dessas!

- Nem naquele momento pensei em tal coisa!

- Guardei novamente a fita.

- Alguns dias depois dei de cara com a bendita fita - ela estava no vídeo.

- Minha mulher já havia assistido - depois me lembrei - umas 50 vezes e assistiu de novo.

- Pensei: não é justo! Vou assistir pelo menos uma vez.

- Liguei o vídeo.

- A fita não tinha rodado totalmente.

- Estava na hora do beijo, depois da aliança.

- Apertei aquela setinha de voltar com a fita sendo executada.

- Qual não foi minha surpresa ao me ver desbeijando a noiva, tirando a aliança do seu dedo, saindo da igreja, dando adeus pra todo os convidados e voltando rápido para a despedida de solteiro.

- Uau!!!

- Desde então assisto à fita todos os dias.

- Mas só de trás pra frente!
.
- E o momento que eu mais gosto é quando eu desbeijo a noiva, tiro a aliança do seu dedo, saio da igreja, dou adeus aos convidados e volto pra despedida de solteiro.

- Final perfeito para o que seria uma tragédia.

- E foi!!!

- De sonho também se vive!

- E se apanha!!!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 10 de julho de 2008

PORTO SEGURO I

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

As naves balançam suas velas

no horizonte ferido
e escrevem suas poesias nas águas
e o coração dança em queda livre
o seu último tango
o seu último gemido
e olha as velas com seus olhos míopes
e sabe que os dias se foram
e a história é triste
e o sentimento tardio
e que a vida se encolhe
dentro do caramujo dos anos
inevitavelmente cinza
visivelmente paralítica.
(Eunápolis/Ba-18Fevereiro1999/06:03hs)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)

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quarta-feira, 9 de julho de 2008

O INVENTÁRIO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Abri a porta, entrei em casa, acendi a luz e, num passe de mágica, o manto da consciência adormecida saiu de cima de mim.

- Olhei em volta e vi em cada parte da casa os sinais do meu suor misturado com o meu sangue.

- Coisas que colecionei pela vida, a ferro e fogo.

- E fui inventariando:

- Sofá: R$ 1000,00 - Televisão: R$ 700,00 - Decodificador da Sky: R$ 348,00 - Rack: R$ 420,00 - Mesa de telefone: R$ 119,00 - Telefone: R$ 137,00 - Celular: R$ 411,00 - Máquina fotográfica: R$ 899,00 - Mesa de centro: R$ 80,00 - Vaso: R$ 43,00 - Jarro: R$ 17,00 - Flores sintéticas: R$ 14,00 - Estatueta: R$ 34,00 - Chapéu: R$ 90,00 - Máquina de datilografia: R$ 131,00 - Computador: R$ 1100,00 - Notebook estragado: R$ 1800,00 - Maleta do notebook: R$ 119,00 - Scanner - R$ 239,00 - Impressora: R$ 250,00 - Porta CD: R$ 59,00 - Aparelho de som: R$ 1300,00 - Mesa de som: R$ 550,00 - Caixas de som: R$ 470,00 - Violão: R$ 180,00 - Violão: R$ 700,00 - Teclado: R$ 710,00 - Suporte do teclado: R$ 62,00 - Microfone: R$ 90,00 - Fone de ouvido: R$ 13,00 - Ventilador: R$ 143,00 - Mesa do computador: R$ 230,00 - Livros: R$ 1330,00 - Mp3: R$ 240,00 - Mesa da sala: R$ 470,00 - Cesta de frutas: R$ 22,00 - Porta-retrato: R$ 45,00 - Guarda-roupa: R$ 850,00 - Colchões: R$ 345,00 - Computador: R$ 1350,00 - Estabilizador: R$ 55,00 - Mesa do computador: R$ 115,00 - Ventilador: R$ 80,00 - Guarda-roupa: R$ 632,00 - Colchões: R$ 244,00 - Porta-jóias: R$ 85,80 - Carrinho de bebê: R$ 453,00 - Ventilador: R$ 80,00 - Guarda-roupa: R$ 327,00 - Cama de Casal: R$ 580,00 - Colchão de casal: R$ - 390,00 - Ventilador: R$ 143,00 - Roupas: R$ 1300,00 - Sapatos - R$ 220,00 - Tênis: R$ 140,00 - Xampu: R$ 12,50 - Condicionador: R$ 14,30 - Cremes: R$ 92,00 - Escova de dente: R$ 18,00 - Pasta de dentes: R$ 6,20 - Armarinho do banheiro: R$ 73,00 - Box - R$ 300,00 - Chuveiro: R$ 29,00 - Remédios em uso: R$ 294,00 - Remédios sem uso: R$ 520,00 - Rede: R$ 120,00 - Cadeira de praia: R$ 40,00 - Banquinho de praia: R$ 18,00 - Mesa de varanda: 42,00 - Cadeiras de varanda: R$ 140,00 - Geladeira: R$ 2500,00 - Fogão: R$ 1500,00 - Bujão de gás: R$ 50,00 - Recipiente de água: R$ 12,00 - Bebedor de água: R$ 330,00 - Armário do bebedor de água: R$ 60,00 - Liquidificador: R$ 220,00 - Batedeira: R$ 439,00 - Espremedor de Laranja: R$ 225,00 - Processador: R$ 42,00 - Microondas: R$ 274,00 - Armário: R$ 239,00 - Panelas de inox: R$ 220,00 - Jogo de facas: R$ 101,00 - Agulha de costurar frango: R$ 2,00 - Utensílios de cozinha: 462,00 - Prateleira: R$ 45,00 - Máquina de lavar roupa: R$ 1100,00 - Transformador: R$ 110,00 - Varal suspenso: R$ 37,00 - Caixa de ferramentas: R$ 27,00 - Ferramentas: R$ 296,00 - Bicicleta - R$ 283,40 - Churrasqueira: R$ 128,30 - Churrasqueira de barro: R$ 12,00 - Espetos: R$ 28,00 - Grelha: R$ 19,00 - Diversos: R$ 847,90.

- Mentalmente fiz o balanço dos 'bens' adquiridos vida afora.

- Estava tudo ali: milhares de horas de trabalho - sangue, suor - dias sem dormir, preocupações, ansiedade, angústia - e um vazio... um vazio profundo.

- E me lembrei da chamada publicitária do Mastercard, onde, por sinal, estou sempre atolado:

- Tem coisas que só a Mastercard me dá: o meu status de idiota!!!

- Apaguei a luz e fui dormir com a estranha sensação de que eu - um homem moderno - e um burro somos separados apenas por um ínfimo detalhe:

- O burro não é eu!!!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 8 de julho de 2008

EXCELSA DOROTÉIA

ELA&EU

- Ah, Excelsa Dorotéia, quando eu falo de você acham que eu estou exagerando!

- Que não é nada disso, que estou puxando a sardinha pro meu lado.

- Que você é... mas nem tanto!

- Que parte é fantasia da minha cabeça.

- Você, Excelsa, vive entrincheirada, desde o início dos tempos, na casamata de aço do seu ciúme revolto!

- E eu, há anos, sem nenhum resultado prático, atiro bombas de paciência, transparência e fidelidade - enquanto você revida ferozmente com o fel da sua inconseqüência mórbida.
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 7 de julho de 2008

A CLASSE MÉDIA

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- A classe média é enfastiada.
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- Come tanto, bebe tanto que, num restaurante, olha o cardápio e não sabe o que comer.
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- Tá cheia de tudo.
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- E morre pela boca.
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- E carrega uma fome enrustida de não sei de quê - comida, com certeza, não é!
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- É uma fome específica - um tédio - de ter tudo em excesso.
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- Excesso de comida na geladeira e no freezer.
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- Excesso de filmes n Sky.
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- Excesso de músicas na internet.
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- Excesso de informação.
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- Excesso de carros na garagem.
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- Excesso de celulares na família.
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- Excesso de vestidos.
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- De pares de sapatos.
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- De camisas.
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- De tênis.
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- A classe média padece de excessos.

- Enchem as ruas com seus carrinhos 1000.
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- Os restaurantes com seus cartões de créditos.
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- As academias com seus corpos flácidos.
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- Os salões de beleza com o seu narcisismo mórbido.
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- Os consultórios dos terapeutas com suas neuroses e paranóias múltiplas.
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- Os shoppings com a sua voracidade.
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- As férias com a sua falsa riqueza.

- A classe média é... a classe média!

- Sustenta o sistema e se auto-sustenta através da sua postura escravagista - grandes salários, grandes responsabilidades, grandes distanciamentos de uma vida normal.
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- Grandes estresses.
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- Depressões.
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- Medo.
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- A classe média vive mergulhada no medo.
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- O emprego... o patrão é o seu 'Deus'.
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- Nele, o 'Deuspatrão' ele assenta toda a sua vida.
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- No bar, no restaurante, em casa, com os amigos, o 'Deuspatrão' é o assunto principal.

- A classe média se afoga no seu próprio excesso.
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- E mantém de pé o sistema, com toda sua estrutura:
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- A mídia reacionária.
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- Políticos que deveriam estar encarcerados.
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- Músicos que deveriam só cantar no banheiro... das suas casas.
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- Revistas e jornais que só servem para limpar a...
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- Livros de qualidade duvidosa.
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- Religiões oportunistas.
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- Programas de tv para pessoas que nasceram com QI prejudicado.

- A classe média é um saco.
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- Se afoga na sua própria merda e não sabe.
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- Constrói a sua própria forca e não sente.
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- É um animal em extinção e não percebe.

- A classe média... um babaca alegre e enfastiado que carrega uma melancia pendurada no pescoço e um espanador enfiado no rabo.
.
- E o resto é que se foda!

- Relaxa e goza, meu fio!
.
- O espanador, por enquanto, é dos pequenos!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 6 de julho de 2008

NA MADRUGADA OS ABUTRES...

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Na madrugada, os abutres farejam o esperma e o suor

exalados das prostitutas embriagadas do porto de Santos.

No ar, esperma, suor e café se misturam num cheiro azedo,
denso, maciço... sofrido!

É como uma sinfonia de cheiros
um perfume desmilingüido
atravessando a madrugada
como um longo e fino grito.
(Santos/Sp-04:11hs-Domingo)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 5 de julho de 2008

VALDENORA CELESTE

ELA&EU

- Ah, Valdenora Celeste, eu queria falar com você sobre Aleandra Lenice!

- É que... é que eu tenho o coração muito grande!

- Nele, te juro, cabem todos os amores do mundo!

- Você e Aleandra - não é justo! - estão ocupando um espaço minúsculo do meu coração sem fronteiras.

- O outro - 99,9999999999999% - desperdício!, está deserto à espera de amores possíveis.

- Por favor, Valdenora, seja cúmplice da minha incomensurável capacidade de amar!

- Eu te juro, você não vai dividir nada com os meus outros amores - vai é somar e multiplicar por 1000 a insustentável leveza do meu coração liberto.
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 4 de julho de 2008

OS 'CUMPADI'

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- A história corria à boca miúda. Anos 60 ou 70 - não importa - num vilarejo em Minas Gerais.

- Cumpadi Zé, marido de cumadi Maria - roceiro, sitiante - cumpadi de cumpadi João, marido de cumadi Maria.

- Cumpadi de beber, pitar, pescar e caçar juntos. De tocar plantio de milho, de fazer colheita de arroz, de capar porco, fazer pamonha, tocar mutirão um do outro.

- Cumpadi Zé e cumpadi João, unha e carne um com outro. Assim também cumadi Maria com cumadi Maria.

- Porém, sem mais nem menos - contam - cumpadi Zé descobriu que cumpadi João estava ciscando no seu galinheiro, estava macheando com a cumadi Maria dele - Zé.

- Nem um pio! Dali pra frente começou a discutir com Maria o futuro dos seus três filhos. Preocupação com o que vinha pela frente: guerra, morte, doença, geada, seca... com o governo.

- Convenceu Maria a vender primeiro a casa, depois uma rocinha que tinha lá pras bandas da Cachoeira, depois um terreninho no Bom Jesus, um outro pedacinho de terra perto dos Pinducas e, por último, o sítio com tudo que tinha dentro.

- Terminado o assunto dos bens, convidou, num domingo, cumpadi João, sozinho, pra almoçar em sua casa.

- Almoço farto: arroz, feijão, frango, quiabo, angu, pimenta - aquela cachacinha, boas risadas, um queijinho com goiabada de sobremesa - aquele cafezinho mineiro gostoso.

- Terminado o almoço, disse ao cumpadi João:

- Bem cumpadi, sabe cumo é qu'é! Tô sabeno qui o cumpadi faiz gosto pur minha muié, Maria.

- Cumpadi!!!

- Sacou o 38 e disse: Puis tá tudo certo! Vosmecê tire a ropa! E ocê tamém, Maria.

- Cê tá loco, Zé! O cumpadi tá aqui!

- Tire a ropa, muié! O cumpadi tá cum o zóio vidrado de tanto vê seus quartos!

- Tiradas as roupas, ele disse:

- Agora, Maria, ocê bota o braço na escadera do cumpadi e o cumpadi bota o braço no seu cangote.

- Assim fez: revólver em punho - meio-dia - a pracinha do coreto cheia de gente- cumpadi João e cumadi Maria pelados na frente - abraçados - ele atrás.

- Gente pra dar com pau!

- Deu 03 voltas na praça - cabeça erguida - atravessou a rua e bateu na porta da casa de cumpadi João.

- Cumadi Maria atendeu: quase teve um troço quando viu a cena.

- Agora cumadi Maria - disse ele - a Maria vai morá nessa casa cum vosmecê e cumpadi João. Bote os dois pra dentro, feche a porta e...

- Dali pra frente ninguém conta, mas dizem: cumpadi Zé ficou famoso pela malvadeza e cumpadi João pelas Marias.

- É o que dizem!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 3 de julho de 2008

SOBRE ONTEM À NOITE...

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Sobre ontem à noite

na interminável madrugada de silêncios
eu quero derramar o meu pesar.

Quero concluir o inventário
das quinhentas mortes que vivi
e selar com a saliva clara
tantos segredos que eu li.

Não sou tão próximo de mim mesmo
não costumo atravessar os meus limites
pois tenho medo das penumbras
que no sonho atravessei sem perceber.

Sobre ontem à noite
nada restou do meu arbítrio
ficou um gosto de cinismo
encravado nos meus dentes de metal.

Já não entendo os meus sentidos
estão próximos demais pra se pegar
os meus sentidos estão frios na escuta
de alguma coisa que virá me triturar.

Sobre ontem à noite
nada ficou de lembranças para lembrar
ficou um pouco dos silêncios das cortinas
um pouquinho do subúrbio a lamentar
um pouquinho da loucura a se espalhar.

Ficou um pouco do desejo de vingança
só um pouquinho de furor a se esgueirar
por entre os nervos dos meus olhos extravagantes
que no momento fazem tudo pra me arruinar.

Sobre ontem à noite
do inventário nada restou pra se falar
ficou tão quieto aquele momento sem beleza
ficou tão muda aquela certeza do pesar
ficou tão clara a solidão pelas tabernas
pelos prostíbulos, viadutos, porto e mar
que o silêncio tão vigoroso dos ouvidos
deitou na noite e em silêncio foi chorar.
(Santos/Sp-22:30hs/Segunda-feira)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 2 de julho de 2008

POR QUE AMAMOS AS MULHERES, SE...

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Estava pensando:

- Por que amamos tanto as mulheres, se...?

- Vocês já pensaram nisto?

- Um amigo meu dizia: "muíe é um bicho bão, mas dá um trabaio!!!"

- E dá mesmo!

- Então por que amamos este "bicho bão, que dá um trabaio!!!", se...?

- Quando a mulher é amiga - só amiga - ô coisa boa que é ter uma mulher amiga!

- É um ombro sempre disponível para os momentos mais difíceis das nossas vidas.

- Mas pense: uma noite você e a amiga bebem um pouquinho mais, a intimidade fica mais íntima e você acaba enfiando a mão lá, ou ela enfiando a mão aqui - ou os dois... e pronto!!!

- A amizade já era!

- Vira outra coisa - continua parecendo amizade, mas não é a mesma coisa.

- E se depois da enfiada de mão ela topar e você topar e o negócio for mais longe - tipo trepada mesmo - aí já não é mais amizade, nem outra coisa.

- É relacionamento.

- A conversa não é mais a mesma e você não tem mais o ombro amigo para chorar as suas dores de corno.

- E tudo que você contou pra ela - quando era amigo - sobre sua vida amorosa vai começar a te fuder agora.

- E umas repetidas 'briguinhas' vão rolar.

- E haja satisfação pra se dar!

- E haja "precisamos discutir o nosso relacionamento!".

- E haja trepada para consertar o relacionamento.

- Aí você se casa.

- Aí já não é mais amizade, nem outra coisa, nem relacionamento.

- É casamento!!!

- Uma coisa que você nunca viu na vida!!!

- Rapaz!!!

- Aí o bicho pega!

- A cervejinha da tarde com os amigos.

- O futebolzinho no sábado.

- A conversa com as outras 'minas'.

- As viagens de férias.

- A boemia.

- O controle remoto.

- Já eram!!!

- Aquela outra amizade que você arrumou para chorar as pitangas quando começou o relacionamento com a sua atual esposa já era!

- Um conselho: nem chegue perto!!!

- E haja satisfação pra se dar!

- E haja "precisamos discutir o nosso casamento!".

- E haja trepada para consertar o casamento!

- Mas mesmo assim amamos de paixão as mulheres.

- Não entendo!

- Por que elas cuidam de nós?

- Uma empregada doméstica é mais prática.

- Sexo todo dia?

- Uma puta é menos complicada.

- Companhia?

- Amigos.

- Multiplicar o DNA

- Barriga de aluguel.

- Então por que amamos de paixão as mulheres, se...?

- Acho que amamos as mulheres por um motivo muito simples: vai ser um bichinho engraçadinho e inteligente assim lá não sei onde!

- E somos machos... e elas fêmeas!!!

- E nossas cabeças de macho só as enxergam:

- Jeitosas.

- Carinhosas.

- Manhosas.

- Sensuais.

- Provocadoras.

- Oferecidas.

- Sedutoras.

- Disponíveis.

- Amigas.

- Mãe, mesmo!!!

- Por elas esquecemos todo o resto.

- Nem bem saímos de uma, corremos para a outra.

- E haja satisfação pra se dar.

- E haja "precisamos discutir o nosso relacionamento!".

- E haja trepada para consertar o relacionamento.

- Por falar nisto, hoje ainda tenho uma reunião para "precisamos discutir o 'nosso relacionamento'!".

- E tô fudido, porque hoje ela tem razão!

- Mas apesar de tudo eu não largo da minha!

- Ela também sabe surpreender!

- E ser companheira!

- E ser mulher!!!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 1 de julho de 2008

O MADE IN BRAZIL

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Parabéns pra você/nesta data querida...

- O Made In Brazil, hoje, completa um aninho de vida.

- Ainda nem começou a andar... tá gatinhando!

- Não tem nem pêlo no saco!

- Eu pensei que tentaria escrever um grande texto, mas que nada?

- Só posso dizer: genioso, trabalhoso, triste, alegre, chato, legal... gratificante, "vivendo e aprendendo a jogar/vivendo e aprendendo a jogar".

- Não tenho muito o que falar: falar bem de filho é suspeito; falar mal... só da boca pra fora.

- Mas uma coisa eu digo: faço com gosto, com dedicação e espero conseguir mantê-lo por mais um ano.

- Sempre com o apoio desta meia dúzia de gente importante que sempre tá fazendo uma visitinha por aqui.

- Made In Brazil! Made In Brazil! Made In Brazil!

- Parabéns pra você/nesta data querida...

- É pique! É pique! É pique! É hora! É hora! É hora!

- Obrigado pelo apoio!

- Obrigado pelos comentários!

- Obrigado pela teimosia!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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