terça-feira, 3 de julho de 2012

Tv, a falta de limites


Um programa denominado "Catástrofe" é anunciado exaustivamente pela tv.

A agônica chamada é assustadoramente infantil:

Tragédia mesmo é você deixar de ver.

Mas o que assusta não é o slogan.

O que assusta é a exposição das tristezas, das dores, dos sofrimentos das pessoas envolvidas em grandes ou pequenas tragédias, não importa em que lugar do mundo.

A tv escancara a morte individual, a morte coletiva.

E tudo não passa de um show, fatos reais que são transformados em notícias virtuais.

E vendem, e são aplaudidas, e ganham prêmios, e deixam pessoas famosas.

Só as vítimas ressentem.

O resto, nós, mergulhados em nosso tédio diário, aplaudimos e queremos mais.

Porque o mundo, através da mídia, perdeu a noção de realidade, a noção de ética.

E todos nós, para a mídia, não passamos de personagens coadjuvantes prontos para entrar em ação.

Nessa ou na próxima catástrofe... ou tragédia.

Que tal ficar famoso morto?

Ou desaparecido?

Ou acompanhar pela tv a exposição dos pedaços da sua família esquartejada por um doido qualquer?

O que você acha?

TõeRoberto

terça-feira, 19 de junho de 2012

Falta de novidades


Vou dizer uma coisa:

Tô de saco cheio com a completa falta de novidades.

Folheio a internet, reviro os jornais, passo pelas revistas, ouço as emissoras de rádio, leio blogs, vivo enraizado na frente da tv... e nada!

Nadinha da silva!

Tudo, mas tudo mesmo é feito de velhices revestidas com roupas novas.

É só prestar atenção.

Mudam-se os políticos, mas são os mesmos disfarçados com caras novas.

Criam-se novos programas de televisão, mas são os mesmos travestidos com uma roupagem nova.

Dinamizam-se os programas das emissoras de rádio... e o que temos de novidades?

Diagramam-se os jornais de maneira nova, prática, bonita, mas o fio da meada é sempre o mesmo.

As revistas, então, é um absurdo: a beleza embalada pela superficialidade dão um show de mesmice.

A internet, bem a internet...

E nós?

O que foi feito de nós?

O que aconteceu conosco?

Acabaram com a nossa capacidade de produzir novidades?

Só conseguimos reproduzir o que lemos e ouvimos no 'mundo maravilhoso e completamente sem novidades da informação?'.

É isso?

É só o que eu penso, o que não é novidade nenhuma.

E você, alguma novidade?

Ou na mais perfeita mesmice?

Como este blog!

TõeRoberto

terça-feira, 5 de junho de 2012

Paz

Jorge, sozinho em casa - a mulher viajando -, tomou o seu banhinho da tarde, comeu um negocinho - nunca jantava -, abriu uma Skol e sentou-se na cadeira da varanda do seu apartamento - 12º andar - e ficou, ali, afagando o cachorro, olhando a cidade, e bebericando vagarosamente aquela maravilhosa cervejinha gelada.

Esvaziou a cabeça, não pensava em nada.

Só olhava... não via nada!

A cabeça e a alma... ocas.

Ele, todo oco.

Encostou a cabeça na parede, bebericou a cervejinha, se acomodou na cadeira, passou mais uma vez o pé pelo dorso do cachorro, fechou os olhos e não sentiu nada... nem dor, nem tristeza.

Talvez um alívio.

E se foi!

Muito mais em paz do que quando nasceu.

O copo escorregou da mão...

O cachorro latiu...

Uma estrela cadente atravessou a noite de sul a norte.

Silêncio...

Paz!

TõeRoberto

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Faça guerra, não faça amor!


Em pleno século 21, numa capital com quase 1.000.000 de habitantes, caminho pelas ruas à procura de um buquê de flores para presentear o meu amor, que faz aniversário.

Ando pra cá, pra lá, o sol escaldante; nada!

Não existe nas ruas uma só flor para agradecer à pessoa amada pelo amor dedicado a mim por anos.

Nada!, é como se todos os jardins do mundo tivessem secados.

As flores não têm mais sentido num mundo de gente transformada em pedra.

Os românticos se foram, são motivos de execração pública, e quem oferece flores à pessoa amada, se for homem, pode até ser vítima de gente que não concorda com isso, porque macho que é macho mesmo não dá flores às mulheres, dá porrada.

E continuo procurando, nada!

Percebo que nas ruas de uma grande cidade é mais fácil comprar uma arma do que uma rosa.

Em todos os bairros, periféricos ou não, existem grandes jardins de fuzis, metralhadoras, revólveres, granadas, facas; todos os tipos de armas usadas, inclusive para assassinar mulheres.

E vou pensando nisto, quando deparo na vitrine de uma loja um grande buquê de flores artificiais.

Friamente lindas.

Fazer o quê?

Entro, compro, peço pra que se faça um arranjo com papéis coloridos para disfarçar a visão da natureza morta e volto feliz para casa pensando na perplexa felicidade do meu amor.

No cartão felicitando-a pelo aniversário?

Meu amor, nesta data tão importante para você, só posso dizer uma coisa:

A PARTIR DE 2012 FAÇA GUERRA, NÃO FAÇA AMOR!

Que o amor já vira crime!

TõeRoberto

quarta-feira, 28 de março de 2012

Conselho de quem tem experiência


Conselho de amigo:

Sua mulher não liga mais pra você?

Não ligue pra ela também!

Sua mulher só vive assistindo televisão?

Assista a todos os jogos de futebol da semana!

Sua mulher não gosta mais de sair com você?

Saia, deixe ela em casa!

Sua mulher não quer mais tomar banho com você?

Finja que você também não quer tomar banho com ela!

Sua mulher sempre finge que está dormindo?

Finja que está dormindo também!

Sua mulher nem te cumprimenta de manhã?

Não cumprimente ela também!

Sua mulher está agindo assim?

Você está agindo assim e ela não liga?

Fique esperto meu amigo!

Alguém está comendo a sua mulher e ela está gostando!

E está amando você não dar bola pra ela!

Afinal, quem nunca foi corno um dia?

Você?

Hum!!!

TõeRoberto

segunda-feira, 5 de março de 2012

Confinamento urbano


O que eu mais temia aconteceu.

Saí do chão e estou no topo do mundo.

No mais terrível dos pesadelos.

No 12º andar de um prédio cheio de regulamentos exagerados.

De não faça isso ou aquilo.

Do ter que pedir autorização para tudo.

Do ter de parar de viver às 22 horas.

Do alto da minha varanda enxergo a grandeza do mundo.

O mar nas suas distâncias mais longínquas.

Os navios que se vão não se sabe pra onde. 

Milhares de luzinhas que se acendem e apagam como num espetáculo natalino.

Janelas que se abrem e fecham.

Carne sobre carne.

Almas sobre almas.

E observo que o confinamento se alastra.

As pessoas se escondem cada vez mais do mundo.

No chão, pessoas pequeninas, carros velozes e pequeninos... a vida.

A engenharia caótica da cidade está nua aos meus olhos.

O trânsito, o ir e vir, o conversar, o comprar... o existir.

Eu, da minha torre fortificada, vigiada e solitária estou 'livre' das mazelas das ruas.

Estou preso e 'seguro' na pior das prisões.

O aglomerado humano.

Com suas loucuras, intolerâncias e exageros comportamentais.

Com o 'não viver dos chatos', com a falsa sensação de que sou feliz porque estou imune ao mundo.

Excluído da vida.

Porque em um edifício não se vive.

Apenas se passa os dias contando os dias de morar novamente no chão.

Que é onde a vida está.

Com todas suas nuances.

Sem truques, sem regras.

Com o bom e o ruim andando lado a lado.

A segurança e o perigo dormindo na mesma cama.

Mas com a bandeira da liberdade içada no topo do coração.

Balançando ao sabor do vento.

Ao sabor da minha vontade.

Ao sabor do meu pleno e saboroso existir.

Sem dar satisfação a ninguém.

Que é como a vida deve ser.

TõeRoberto

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A bordo da TAM


Tudo se passa no interior do avião da TAM... aquele!

Antes da hora H:

Alegria, conversa, todo mundo se ajeitando nas cadeiras... barulhos, sons de turbina.

A hora H:

Senhores passageiros....

Procedimentos de segurança...

Pousar na água...

Levantar voo....

Silêncio geral.

As 2 mãos grudadas nas laterais do banco.

O coração batucando Foi um rio que passou em minha vida.

É dada a largada!

Sinal da cruz em tudo que é banco do avião.

Eta porra!

E lá vamos nós!

Quase arrancando o encosto do banco...

O coração...

Um barulho estranho

Brom, brom, brom...

É o coração do avião.

Caralho!

O avião no ar...

O furico travado, não passa uma agulha.

A famosa mudança de marcha da TAM na subida.

De 2ª pra 1ª:

Prumpt, trumpt, vrumpt...

Torcida:

Vai... vai... vai...

Vai féladaputa!

O furico...

E foi!

Escapei!

O coração, com o coração na mão!

Batucando Fascinação.

Devagar, já calmo, olho pelo interior do avião.

Percebo um monte de gente com o cu travado.

O suor desce pelo meu rosto... e pelo de muita gente.

O motorista aprumou o bichão no ar.

Respiro fundo.

Agora é aguardar o lanchinho e a cervejinha que a TAM oferece aos passageiros!

Observo os garçons/faxineiros/chefes de cabine/comissárias e comissários de bordo... os aeromoços e aeromoças.

Interessante!

Já não se fazem mais aeromoças como antigamente.

Antes, eram lindas... muito lindas!

Eram nossos objetos de desejo.

Agora são esmirradinhas, disfarçadas de moças bonitas... só bonitas!

Acho que as lindas custam mais caro.

As empresas economizam em tudo.

Está tudo mudado dentro dos aviões.

Mesmo os aeromoços não são mais os mesmos.

Um deles usando um troço daqueles de desentortar os dentes.

Isto não existia.

Antigamente todos os aeromoços e aeromoças tinham sorrisos impecáveis.

Aqueles sorrisos 'Colgate', estão lembrados?

Demorou, mas chegaram o lanchinho e a cervejinha.

Ô lanchinho mais sem-vergonha!

Um sanduichinho merreca de queijo com requeijão e espinafre.

A cervejinha...

Sol, quente... horrível!

Que merda!

A água, quente!

Mas não importa, aqui estou!

Feliz e vivo!

Até este momento, porque tem mais 1 e 1/2 até São Paulo.

E não consigo dormir porque tenho que vigiar o avião pra ele não cair.

Um abraço!

E torça por mim.

Ainda tem a aterrissagem.

É quando o furico vai voltar a travar.

E vamos rezar tudo de novo!

Pra dobrar a coragem até a descida, pedi mais uma latinha de cerveja.

A TAM não me deu!

Ô miséria!

TõeRoberto

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ateu, graças a Deus!


Juro por Deus, sempre fui ateu!

Nunca achei possível um Ser que eu nunca vi ser proprietário deste troço monstruoso que é o universo.

E se é dono do universo por que não tem um canal de Tv, um jornal, uma revista ou uma emissora de rádio?

Não é o caso da Globo que é dona do Brasil?

Acho muito esquisito.

Muito mesmo!

Mas assim somos nós, os ateus.

Só acreditamos em coisas palpáveis.

Tanto é que eu, por exemplo, não acredito naquela atriz cubana gostosona, a Eva Mendes, já que eu jamais vou conseguir apalpá-la.

Nem numa cédula de 5.000 dólares.

E muito menos na honestidade de muitos políticos brasileiros.

Mas nós, os ateus, também somos bastante coerentes com a nossa educação cristã. 

Difícil negarmos nossa milenar cultura religiosa.

Sempre que eu subo em avião - minha mãe me ensinou -, a gente deve esquecer que é ateu.

Principalmente depois que descobri que atualmente Deus é a única 'Coisa' que segura avião no ar.

Outro dia, numa viagem pra São Paulo, tive que esquecer o meu ateísmo 10 vezes e pedir humildemente a ajuda do 'Moço'.

Não só eu, mas todos os ateus que estavam no voo.

Parece que deu certo.

Fui e voltei numa boa.

Mas ser ateu é assim mesmo.

É como quando a gente excede no limite da birita, passa mal pra caralho, e fica prometendo que nunca mais bota aquela porra na boca.

Conversa fiada!

À tarde, depois de um bom sono, a gente começa tudo de novo.

E assim vou levando a minha vida descrente.

Como um bom ateu, graças a Deus!

TõeRoberto

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Oração de morador de cortiço vertical


Valei-me Deus, Nosso Senhor do Bonfim, minha Nossa Senhora Aparecida, Virgem Maria, meu Padim Padi Ciço, Santo Agostinho, meu São Jerônimo, São Pedro, São Paulo, São José, meu Santo Antônio, São Sebastião, minha nossa Senhora dos Desenganados, Nossa Senhora dos Aflitos, todos os santos dos Desesperados, dos Agoniados, dos Arrependidos.

Socorrei-me todas os forças do planeta!

Iluminai-me toda a energia positiva do universo!

Dai-me coragem seres poderosos da luz!

Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!

Dai-me forças!

Eu não sei não andar, eu não sei flutuar, eu não sei não conversar, eu não sei não rir, eu não sei não peidar, eu não sei não cantar... eu não sei não viver.

Por favor, dai-me paciência até amanhã de manhã para que eu possa viver em paz no meio de um monte de loucos.

Dai-me sabedoria pra que eu não faça nenhuma bobagem.

Ouvi minhas preces, os meus pedidos de socorro.

Fazei com que amanhã de manhã eu arrume a minha mudancinha com todos os meus trapinhos, meus cachorrinhos, as minhas coisinhas, o meu povinho e fuja deste inferno em que vim morar:

Um cortiço vertical!

Um apartamento!

Ô coisa de corno!

Ô gente mais enxavida, mais cheia de regras.

Ô povo triste, meu Deus!

Ô coisa!

Amanhã rezo tudo de novo!

TõeRoberto

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A respeito das liberdades individuais


“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.” Bertolt Brecht

Ando reclamando muito em relação às restrições impostas ao cidadão pela sociedade/governo brasileiro/outros países.

Cada dia que passa vejo leis e regulamentos invadindo o meu dia a dia, me acuando, me empurrando para o exato local em que eles querem que eu esteja: em suas mãos.

Como me mudei para o 'infeliz' de um apartamento reclamo constantemente das dificuldades que tenho em me adequar - e olhe que sou bastante civilizado - às regras draconianas que, em 'nome da coletividade', os pobres moradores impõem às suas próprias vidas.

As regras, muito chatas, até que são passáveis; o problema está na intransigência e na intolerância de muitos idiotas que se escondem sobre as suas asas e se locupletam exercendo sobre o próximo o poder de repressão que elas lhes dão.

São pseudonazistas enrustidos.

E existem pessoas que concordam com isto, achando que viver enclausurado por motivos de segurança é o grande mal necessário dos tempos modernos; mas não existe isto, o que existe é uma grande propaganda - relacionada à segurança - voltada para a classe média que sempre se sentiu privilegiada e 'diferente' e acha que necessita proteger-se e proteger seus bens das mazelas das profundas diferenças sociais que levam a violência às ruas das cidades; muito mais, é certo, à periferia, bem longe das suas confortáveis casas e apartamentos.

São pessoas que concordam com tudo: com o inteiro teor da Lei Seca, com a absurda Lei Antifumo - não sou favorável a ninguém dirigir bêbado ou fumar no lugar que quiser - sou ex-fumante -, estou questionando a maneira como foram impostas ao cidadão -, com o controle das empresas sobre a utilização dos banheiros por seus empregados, com a obrigatoriedade de uma pessoa obesa pagar duas passagens nas empresas aéreas, com a proibição de empregadas domésticas usarem o elevador social dos prédios ou com qualquer outra coisa que seja feita em 'nome da coletividade'.

Coisa bem típica da classe média.

Enfastiada ela se esconde - em segurança - e se omite da sua responsabilidade pela merda da violência que ela ajudou a institucionalizar no país.

Por medo vão concordando cegamente com o domínio total da suas vidas,  pela sociedade e pelo estado, em todos os seus limites... da porta da rua até a sala da suas casas.

Como se isso fosse suficiente para aplacar a sede de controle dos donos da vida, mas não é.

Também seria bom, em nome da saúde pública e 'em nome da coletividade', fechar todos as chaminés das fábricas que poluem, e tirar todos os carros das ruas, só sendo permitido o uso de transporte coletivo.

A classe média ficaria sem carro?

Hipocrisia é o seu nome, duvido!

Também seria bom se o governo obrigasse as construtoras a melhorarem a qualidade das suas obras.

Muito bom se melhorassem em 100% o isolamento acústico dos apartamentos para evitar que cada peido que eu dou no andar de cima, o vizinho de baixo responda com outro; o chão é uma casquinha de ovo.

E entre uma regra e outra vou observando que os problemas, os fatos que levam à criação de leis restritivas pra cima do cidadão não são de minha responsabilidade.

Eu, o cidadão, não fabrico os problemas: o estado e as empresas os fabricam.

E não abrem mão de fabricá-los.

E pra encerrar este assunto chato vou dizer o seguinte:

O grande mal do Brasil não é o bandido que 'obriga' o cidadão a se enclausurar.

O grande mal do Brasil é a péssima distribuição de renda.

Da qual a classe média não costuma reclamar.

E ponto.

De resto eu quero me mudar para uma casinha.

Aquela pequenina de janelas e portas azuis.

Com um cachorrinho magro na porta.

Que apartamento não é lugar de gente morar.

Ou é?

TõeRoberto

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ensaio sobre o tédio


Me responda:

Por onde um cara entediado começa a falar sobre o tédio?

Estou tão entediado que estou fazendo isto por obrigação.

Pura obrigação de cronista que adora o tédio e de falar sobre ele.

E morre de tédio!

Uma merda, não é?

Merda, não; uma bosta!

Uma grande bosta!

Sempre digo:

Idiota não tem tédio!

Meu Deus, o que posso dizer?

Acho que vou deixar esta porcaria de texto pra lá e vou assistir ao Faustão.

Depois vou assistir ao Fantástico.

Ao filme da noite.

E vou dormir.

Amanhã, quando levantar, pego novamente no papel pra escrever a porra deste texto.

Cheio de tédio.

Morto de tédio.

Mas o texto vai ter que esperar.

Porque tenho que ir pra rua.

Ir ao trabalho e alimentar o meu tédio com o suor do meu rosto.

E voltar pra casa cheio de tédio.

E vou, novamente, tentar escrever este pequeno ensaio sobre o tédio.

Morrendo de tédio.

Porque é humanamente impossível viver sem tédio neste mundo cheio de gente entediante.

E cheia dos argumentadores antitédio.

Os idiotas!

TõeRoberto

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Essas mulheres!


Mulher é um bichinho gostoso, engraçado... e dissimulado.

É, mas não é; pode, mas não pode; vamos, mas não vamos; quero, mas não quero; sou, mas não sou; tô, mas não tô...

Cheias de sutilezas estão no nosso dia a dia; as nossas e as dos outros.

Sainhas curtas, decotes maravilhosos, vestidinhos colados, cabelos molhados, blusinhas transparentes, estão sempre prontas, sem 'querer estar', para o que der e vier.

Na praia, é um Deus nos acuda: biquinizinhos minúsculos, atrevidinhos... sensualíssimos!

Se vestem, por mais simples que sejam, de maneira sensual/sexual e tentam esconder o que é impossível esconder e disfarçar o que é impossível disfarçar.

E dissimulam!

Ficam incomodadas sem ficar; fingem que não é com elas, sendo; não gostam de ser o centro da atenção, gostando.

E tem um fato interessante:

As nossas, quando se arrumam e ficam lindas com certeza não é pra nós.

É para o mundo, para os olhos gananciosos do próximo.

E passamos batidos, não prestamos atenção na voracidade do próximo para com as nossas mulheres.

Porque, é óbvio, também estamos olhando, com voracidade, a mulher do próximo que se arrumou todinha pra nós.

É um jogo de sedução: seduzem sem 'querer seduzir'; se mostram sem 'querer se mostrar'; são gostosas 'sem querer ser'... maravilhosas, sendo.

E com um detalhe: se mostram todinha para o próximo e quando nos pegam olhando a do próximo é uma merda federal.

Mas mulher é assim mesmo, não tem jeito.

As nossas, simplesinhas, sãos as comuns; aquelas que não estão nas novelas, nos programas de tv, na música, nos jornais, no cinema ou no teatro; estão apenas no dia a dia das nossas casas, cuidando de nós e de nossos filhos.

E existem aquelas, com algumas exceções, que por um nome na capa da revista, uma foto no jornal, uma matéria na televisão, um comentário na internet, um papel na novela, uma pontinha num filme, a participação no BBB, uma fofoca nos bastidores estão sempre com os peitos, a bunda e tudo de fora.

Porque são essas coisas gostosas que fazem a diferença no mundo da mídia.

Fora isto são apenas mulheres comuns.

São apenas mulheres, com algumas exceções - como disse antes - que são péssimas atrizes, péssimas apresentadores de tv, péssimas cantoras; não são boas profissionais, são apenas lindas, gostosas, maravilhosas, desejadas; são feitas apenas de carne, que é o que interessa à mídia.

Não são como as nossas!

Que são lindas, maravilhosas, gostosas, desejadas, feitas de carne e de alma... e de graça!

E com uma graça!!!

Que transcende a mera exposição da imagem.

E quase joga por terra o mito da mulher-objeto.

TõeRoberto

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

SOPA Blackout Brasil


SOPA Blackout Brasil:falasdaboca.blogspot.com/

DIGA NÃO AO FIM DA INTERNET LIVRE.
Já pensou?

TõeRoberto

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Uma marca chamada Jesus


Sentado no ônibus urbano em João Pessoa, observo a paisagem.

Uma coisa me chama a atenção.

No meio das milhares de propagandas, pichações e faixas uma coisa sobressai.

O nome "Jesus" está espalhado por todos os lados.

Nos vidros dos carros - normalmente o carro é de Jesus ou dirigido por Ele.

Nas paredes das diversas igrejas - que nem sei o nome - existentes por todo o trajeto do ônibus.

Nos muros, nas paredes, nas camisetas das pessoas, nos bonés, nas capas dos cadernos escolares, nas fachadas das lojas, nos nomes de estabelecimentos comerciais, nos carrinhos dos vendedores ambulantes, na voz do homem que grita freneticamente na rua, na música do carro do vendedor de DVDs, nas palavras de quem pede a esmola, nas conversas do motorista com o cobrador, no sussurro dos passageiros, nas mãos da passageira que distribui os 'santinhos', na cabeça de quase todas as pessoas que estão dentro do ônibus.

Está também nas faixas estendidas sobre as ruas: as que anunciam a sua volta ou o final dos tempos se isto não acontecer.

Nos outdoors que propagam a sua divindade e a sua extrema necessidade na vida das pessoas.

E, segundo toda esta parafernália publicitária, só Jesus salva.

E pergunto:

Salva do quê?

Não sei do que vou ser salvo, mas uma coisa eu sei:

Percebi que Jesus hoje é uma marca... e um produto.

É como a Coca-Cola, a Pepsi, a Marlboro, a Votorantim, a Renault, a Volkswagen, a Petrobrás ou qualquer outra empresa; todas têm os seus produtos, o da marca "Jesus" é a fé.

E a marca é anunciada de uma maneira extremamente agressiva e competente pelos detentores do "direito" de explorá-la, divulgando como bem quiserem o seu produto.

A marca "Jesus" envolve milhares de empresas, milhares de igrejas, milhões de pessoas.

Valiosíssima - bilhões de dólares não a comprariam - é meio que tabu.

Não é muito inteligente colocar a figura de Jesus no antro da sujeira do sistema capitalista.

Qualquer pessoa pode sofrer represálias por estar "ferindo" a divindade personificada de Jesus, defendida com unhas e dentes pelos pseudodonos da marca.

Mas é a mais pura verdade.

Observe as ruas, os canais de televisão, as emissoras de rádio, os jornais, as revistas...

Quantas pessoas, segundo os seus próprios seguidores dizem, gritam o seu santo nome em vão.

E gritam normalmente por questões de poder, jamais por fé, porque dá pra perceber que a "fé" dessas pessoas é meramente ritualística e está ligada ao conceito da exploração política e econômica das pessoas incultas, cujas crenças religiosas são impostas por eles.

Eu particularmente entendo que a fé é um ato "puro, inteligente, sublime e iluminado" e jamais pode acontecer no meio das trevas da ignorância, propagada pelos proprietários da marca.

E Jesus está aí!

Pelo Brasil afora, vendendo que só!

Com certeza com uma senhora dor de cabeça!

Ele sabe que o seu nome está sendo usado indevidamente pelos usurpadores da sua santidade, pelos que há muito se apossaram da sua marca registrada nos anais da história do cristianismo.

E Ele sabe que não resta outra coisa a fazer.

E com urgência:

Ele precisa pegar o seu chicote e expulsar novamente os vendilhões dos templos... e são muitos!

Que exploram escandalosamente o seu sagrado produto.

E com ele fazem dinheiro.

Muito dinheiro!

Na maior cara de pau.

Sem medo de irem para o inferno.

(...)

De um ateu, muito seu amigo, 

TõeRoberto

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A cidadezinha da minha infância

Houve um tempo em minha conservadora cidadezinha, em Minas Gerais, que a vida era diferente.

Sexo, família, igreja?

Uma trilogia explosiva.

Sexo?

Muitas vezes só com um lençol furado na direção da perseguida ou com a luz apagada.

Se não fosse para concepção, o maior pecado.

Família?

Catecismo, comunhão, véu na igreja, vestido pra baixo do joelho, cristianismo à flor da pele... direita em formação.

Igreja?

A dança sóciocultural e religiosa da comunidade.

Um padre que casou a minha mãe, me batizou, me casou, batizou os meus filhos, manteve a cidade na idade da pedra, censurou todos os filmes do cinema da cidade... igualzinho ao padre do Cinema Paradiso.

Houve um tempo em que a minha cidadezinha respirava preconceito e racismo.

Filhos/filhas de "famílias tradicionais" não se casavam com filhos/filhas de operários e lavradores... ou negros.

Italianos, portugueses, espanhóis... não sei de onde vinha a ideia tão horrorosa.

Hoje?

Acho que os filhos estão tomando mais juízo e a cidade aparentemente floresce do seu atraso secular.

As famílias se misturam.

E prosperam socialmente e economicamente ... um pouco culturalmente.

Religiosamente e politicamente parece que ainda é cedo demais para exigir.

Que estas coisas no Brasil realmente ainda estão na idade da pedra.

E lá não é diferente.

TõeRoberto

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A respeito das rosas


Outro dia olhando um jardineiro, já velho, que cuidava de uma rosa vermelha com um cuidado excessivo em um pequeno jardim, me perguntei:

Como pode um ser humano, em pleno século XXI, o século da parafernália digital/eletrônica, perder tanto tempo com uma coisa tão efêmera como uma rosa?

E pensei:

Que pequenez de alma!

Que insignificância um homem se propõe a ter!

E pensei na minha casa.

4 computadores... 4!!!

Com eles vejo todas as flores do mundo num instante.

Cultivo o jardim que eu quiser... virtual, é certo.

Enquanto aquele jardineiro não sai da mesmice do nascimento daquela ou de outra rosa.

Um ser humano preso aos moldes dos tempos em que existiam almas.

Que existiam flores.

Essas coisas passadas.

Presas na memória dos sensíveis que já fomos.

Fico assustado.

Graças a Deus é apenas um insignificante jardineiro.

Que, com certeza, não ameaça a minha visão tacanha de modernidade.

Nem me obriga a revolver a terra.

À procura dos últimos resquícios da vida sobre ela.

À procura de uma rosa vermelha.

Aquela que ele cultivava com natural humanidade.

TõeRoberto