sexta-feira, 31 de agosto de 2007

O CORAÇÃO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Coração


cor
ação

corda
ação

cor da
ação

cala
não!


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A PELEJA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Vamos chamar os personagens de Zé Adriano e D. Chica.

- Ele, cambista; ela, proprietária do prostíbulo.

- Ele, com algum tipo de paralisia no braço e na perna direitos; ela uma negra volumosa, com um par de seios enormes.

- Zé Adriano, comensal do prostíbulo, era muito querido pelas meninas, pelo tamanho e pela virilidade do seu membro.

- D. Chica, famosa pela sua voluptuosidade e pela pergunta: com peito ou sem peito? Com, os peitos ficavam onde estavam; sem, eram jogados nas costas.

- Viviam sempre juntos e, no entanto, Zé Adriano e D. Chica nunca se cruzaram.

- Corria, à boca miúda, que D.Chica não agüentaria Zé Adriano numa maratona sexual.

- Chiquinho bilheteiro, baixinho, fã de D. Chica, não gostava dessa conversa e resolveu pôr um fim no assunto: organizou uma peleja sexual entre os dois.

- Foram 3 dias e 3 noites na cama: sem beber, sem comer e sem dormir: nada!, o assunto continuava pendente.

- Num lance de gênio, Chiquinho bilheteiro apareceu no prostíbulo com um prego de uns 20 cm e um pedaço de peroba-rosa e entregou a Zé Adriano.

- Zé Adriano, usando o membro como martelo, diante do espanto geral dos presentes, enfiou 15 cm do prego na peroba.

- D. Chica levantou a saia, subiu em cima do pedaço de madeira, ficou de cócoras e, diante do ooooooooooh! da platéia, extraiu o prego usando apenas o seu instrumento de trabalho.

- Zé Adriano, cabisbaixo, estendeu a mão a D.Chica e jogou a toalha.

- É o que me consta. Os fatos estão guardados no museu da minha memória.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O SILÊNCIO LATIDO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Cadê meu travesseiro?
A noite chegou

o amor me aperta.

Sossega, amor!
Não quero brincar de sofrer.

Amor durão
travesso
velho!
Amor eterno!

O silêncio do amor é doído.

Na rua,
o cachorro late sua velha canção.

Eu penso
silenciosamente penso
no latido que ouço!...


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 28 de agosto de 2007

PERNAMBUCO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Eu amo Pernambuco!

- Sua culinária: chambaril, arrumadinho, mão-de-vaca, carne de sol com macaxeira, queijo de coalho, saúna, agulha branca, cuscuz, queijo de coalho, moqueca de siri-mole, moqueca de arraia, bode, mungunzá, tapioca, canjica, pamonha goiamum.

- Suas frutas: serigüela, cajá, sapoti, pitomba, umbu, jaca, umbu-cajá, maracujá, pitanga, banana, caju, jambo, jenipapo.

- Sua música: Geraldo Azevedo, Jorge de Altinho, Alceu Valença, Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado, Chico Science, Nando Cordel, Luiz Gonzaga, Dominguinhos.

- Seus ritmos: frevo, maracatu, afoxé, coco, caboclinho, manguebeat, forró pé-de-serra.

- Suas praias: Ponta de Pedra, Itamaracá, Maria Farinha, Janga, Pau Amarelo, Olinda, Boa Viagem, Gaibu, Calhetas, Porto de Galinhas, Serramby, Barra de Sirinhaém, Tamandaré, São José da Coroa Grande.

- Seus poetas: João Cabral de Melo Neto, Ascenso Ferreira, Carlos Pena Filho, Joaquim Cardozo, Manuel Bandeira.

- Seu carnaval: Pitombeiras, Elefante, Galo da madrugada, Bacalhau do Batata, as Virgens de Olinda, o Homem da Meia-Noite.

- Sua língua: pão de caixa, bureau, grafite, liga, massa, oxente, mainha, sacudo, minino, Ricife, arretado.

- Seus teatros, o seu cinema, seus artistas plásticos.

- Seus rios, suas pontes, suas igrejas, seu casario antigo.

- Sua gente engraçada. Suas histórias.

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- Eu tive a felicidade de morar em Olinda e trabalhar no Recife.
- No meu primeiro contato com a cidade do Recife aconteceu-me algo engraçado:

- Com fome, eu e Nena sentamos num bar e pedimos uma cerveja e dois cachorros-quentes.

- Veio a cerveja e logo em seguida dois sanduíches enormes de pão com carne moída e molho de tomate.

- Reclamei!

- Eu: acho que houve algum engano, eu pedi cachorro-quente!

- Garçom: Pois num é, home?

- Eu: Aquele que vem com pão e salsicha!

- Garçom: Ah, é hot-dog! O senhor queria um hot-dog!

- Calei a boca e comemos o cachoro-quente mais gostoso do mundo.

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- Lá, vivi e aprendi muitas outras coisas de sua cultura ímpar.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O POÇO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Voltemos um pouco a nós!

Não fiquemos esquecidos no poço.
No fundo poço do medo, no fundo poço do ódio,
no fundo poço do asco, no fundo poço da morte.

No poço! No poço! No poço!
Do fundo do calabouço, no poço vil das palavras,
no seco poço dos olhos, no negro poço da alma,
no estéril poço do corpo.

No poço! No fundo! No fundo do poço!
No poço dos sacrilégios, no amargo poço do tédio,
no estreito poço do ego.

No poço! No poço! No poço!
No sujo poço dos vermes, no poço das tentativas
surdas, cegas, fugidias de sermos sulcos de terra,
não sulcos de sangue e pedra,
não urros de estranha fera,
caída, suada, ferida no fundo sujo do poço
do fundo do calabouço de nossa suposta vida,
de nosso perdido vulto, de nosso calado grito.

No fundo!, no vago fundo do poço,
do mudo fundo do poço, no cego fundo do poço,
do poço sempre terrível
que espalha, retrata e pinta
o rosto inerte, opaco daquilo que somos agora,
daquilo que fomos outrora,
sentados no frio do poço,
do fundo do calabouço de nossa própria armadilha,
de nossa mesma agonia de sermos, todos os dias,
um medo, um ódio, um asco,
o olho vivo do poço, o escuro do calabouço
do nosso poço que é poço,
do fundo poço do poço do poço - poço do poço!,
essência de nossas bocas desenho de nossas línguas,
orgulho de nossas vísceras
que é tudo lama do poço:
paredes, águas e o limo.
Que é tudo frio do poço: o sangue, o suor e a linfa.
Que é tudo morto no poço: o grito!... o silêncio!... a vida!


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 26 de agosto de 2007

O ESPELHO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Estive pensando: o que seria de nós se não existisse o espelho?

- O espelho não serve só para pentearmos os cabelos, escovarmos os dentes e fazermos a barba, entre outras coisas.

- É, também, a nossa consciência.

- Humor, dor, perspectiva, preocupação, tristeza, choro, riso, euforia, decepção, raiva, ira, alegria: está tudo lá.

- No espelho podemos chamar a nossa atenção. Podemos nos punir. Podemos ter uma conversa franca com a gente mesmo. É o único momento que ficamos cara a cara com esse ser complexo e único: o nós!

- O espelho é, além de tudo, o nosso crítico mais feroz.

- Quantas vezes você cometeu algum ato infame e depois ficou morrendo de vergonha na frente do espelho?

- Quantas vezes você mostrou língua para você mesmo?

- E o dedo?

- Vai me dizer que você nunca se chamou de babaca na frente do espelho?

- Nunca dançou pelado e riu de você mesmo?

- Nunca ficou com a cara lambida?

- E a autocrítica: Tô gordo! Tô velho! Tô feio! Tô acabado!

- O espelho expõe a nossa vaidade.

- Perdemos horas e horas na frente do espelho corrigindo as nossas imagens distorcidas.

- O espelho, redundantemente, é o reflexo de nós mesmos.
- O espelho acompanha o nosso envelhecimento, é um diário das mudanças dos nossos rostos.

- É muito paciente, nos envelhece devagar e sem sustos.

- Reflete, dia após dia, como se fosse um conta-gotas, as mudanças: uma ruga no rosto, hoje. Um cabelo branco, amanhã. Uma barba branca, depois de amanhã.

- O espelho é mágico.

- Em um só cabe a humanidade inteira e com uma verdade incontestável: ele não deixa resíduos dos rostos nele refletidos, o que o torna muito seguro para nele refletirmos, escondidos, a nossa solidão irrefletida.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 25 de agosto de 2007

O 1º CANTO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Não serei eu na certa aquele que estancará

teu sangue
nem terá o nome universalizado
estátua em praça pública
o nome batizando rua.

Não serei eu também aquele que dominará os mares
com caravelas de aço, canhões atômicos
na proa
nem serei eu tampouco aquele que trairá e te fará
caminhar na prancha
rumo aos dentes vorazes do tubarão.

Acima de tudo sei que não serei nada mas
que serei eu
quem haverão de consagrar numa história de criança
à beira da fogueira dos meus avós
à beira do berço dos meus netos
porque aquilo que anda, pensa, respira, vive
e é individual
tem o seu valor metafísico no seu modo de ser
sem ser
no seu modo de não ser e ser.

E eu sei que sou alguma coisa que sempre existirá
e se fará existir apesar de todas as reinantes
contradições
e se fará conhecer apesar de todo o angustiante
anonimato
e se fará ressuscitar dessa antiga morte
no fundo das cavernas do medo
porque acima de todos os materialismos existo eu
acima de todo o desafio dos meus bichos inimigos
existo eu
acima de todos existo eu
e eu acontecerei para o mundo
mesmo não sendo nada acontecerei
porque o meu valor é algo inatingível
o meu mistério é o fim de todas as procuras
o meu lirismo é o supremo porvir da criatura.

E eu acontecerei
com toda a força que me negaram
com toda a chance que me roubaram
com toda a imbecilidade que me cerca
porque eu não sou lindo diante do espelho
mas sou bonito pelas noites de meditação
por isto sou e trago em mim
como a mais antiga herança
como a mais antiga vingança
como a mais antiga marca de fogo
na pele do animal.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O PORCO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- O porco já foi um animal de extrema importância na economia doméstica de muitos povos, inclusive dos brasileiros.

- As pessoas do interior engordavam o seu porquinho em chiqueiros feitos no fundo dos quintais das casas.

- Engordar o porco era um ritual coletivo: todos os vizinhos participavam.

- Um pouco de milho daqui, umas verduras murchas de acolá, um resto de comida dali e... depois de meses: o dia do porco!

- Matar o porco era um ritual digno de registro.

- Muitas pessoas se envolviam e se locomoviam para participar do grande evento: homens, mulheres, crianças e o grande astro - o carrasco!

- Escolhido a dedo, detentor de técnica apurada, ele sangrava o porco sem que o animal soltasse um grunhido sequer.

- Existia um respeito para com o abate do animal.

- Sangrado, os homens faziam a sua parte: sapecavam, pelavam e abriam o bicho; o resto era com as mulheres.

- Elas destrinchavam o porco e separavam cada parte do animal para ser usada adequadamente.

- Durante todo o dia: lingüiças, torresmos, carnes fritas, chouriços doces e salgados, pururucas e tachos de misturas negras, ferventes, na confecção do sabão.

- Os homens riam, bebiam cachaça, comiam torresmos, pinicavam a viola, cantavam e, acima de tudo, jogavam o truco.

- Os meninos levavam, de porta em porta, um pedaço de carne ou toucinho, uma lingüiça, um prato de torresmos ou um chouriço para os vizinhos que ajudaram a engordar o porco.

- Gordura e carnes, já prontas, eram guardadas em latas de vinte litros para aguardar a engorda e o dia do próximo porco.

- A lata e a gordura eram a geladeira da época.

- Uma época de comportamento humanitário.

- Tudo se foi: a criação de porcos, o respeito pelos animais e o comportamento humanitário.

- Um dia, os grandes frigoríficos chegaram e impuseram leis restringindo este tipo de atividade doméstica.

- Hoje, o porco se encontra congelado nas prateleiras dos supermercados.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O SOLUÇO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Um soluço vejo, soluço claro

um soluço frio, mudo, seco
um soluço calmo que, talvez, na certa
será pelo mundo, será pelas plantas
uma dor qualquer no fundo da alma
um gato doente, leite derramado
um dente que dói, sapato rasgadou
ma mãe aflita, um fogão sem gás
uma goteira densa, a roupa apertada
mancha na parede, um pneu furado
um grito na noite, um sonho acabado
uma barata tonta passeando a casa
um rato que rói um queijo no prato
um resíduo velho, um rosto apagado
uma angústia fina, sub-reptícia
uma mágoa viva, um desprezo rápido
um feroz desejo, um tostão que falta
um esmalte fosco, um desenho errado
um soluço visto, um soluço claro
um soluço frio refletindo imagens
de sons que conflitam carnes e ossos
de águas que roçam o sangue, os poros
um soluço vindo do andar na rua
do estar bem cedo sem itinerário
sem perspectiva de qualquer afago
de subir escada de ônibus ou carro
de sentir-se vivo por mero acaso
de sentir-se vivo sem qualquer respaldo
para as coisas vistas, as coisas passáveis
pelos seis sentidos, pelos mil reparos
que não foram feitos no estragar da alma
e que agora cedo, com um nó nas formas
torna-se branca água, não potável
e escorre manso por qualquer das faces
que transitam as ruas feito espantalhos
e que soluçam calmas todos seus pesares
de estarem sós ou acompanhadas
pelos seus contínuos gritos de desforra
sem verem que a vida chora
pelos seus soluços que não marcam hora
e podem escorrer na noite, na aurora
ou podem explodir a qualquer momento
como este que veio e escorreu agora.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 22 de agosto de 2007

PARA REFLETIR

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Há tempos, observo: a maioria das pessoas não gosta de assunto de gente politizada.

- Pensam acreditar numa conversa fiada que existe por aí que não existe mais direita nem esquerda.

- Não existe? Você pensa igual ao Bush?

- Acreditam, ainda, que a relação comercial, por exemplo, entre o Brasil e os Estados Unidos é saudável e não existe exploração imperialista (tem gente que tem vergonha de usar esta palavra).

- Por que insistem na Alca?

- Ah, imperialista também é uma palavra que querem fazer desaparecer!

- Os grandes países capitalistas, exploradores dos paises subdesenvolvidos, querem nos fazer acreditar que o que existe é um mundo globalizado, negócios sem fronteiras, com oportunidades para todo mundo.

- Mentirinha!

- Passam através da mídia essa falsa sensação de que a sociedade só funciona assim. Que não existe outro meio de organização e que o capitalismo nos faz melhores, porque nos tornamos verdadeiros atletas para vencer todos os grandes obstáculos que nos levam ao sucesso.

- E a sua saúde onde fica?

- Concordem ou não comigo:

- As pessoas, hoje, vivem de futilidades: saem para almoçar, só falam dos seus empregos; começam a namorar, só falam de suas carreiras; chegam em casa, só falam dos seus negócios; saem para jantar... negócios; entram na universidade, dinheiro... negócios! Sexo, vício e superação estão em alta.

- O Pierre Cardin que viu no shopping, o celular da motorola, o carro da honda, o perfume francês, a digital da sony, aquele par de sapatos prada, a manicura, o spa, o cd do U2, a academia, o restaurante especial, aquele apartamento em Copacabana.

- A classe média baixa e os menos pobres (se é que isto existe) também vivem da mesma maneira, só trazem os assuntos e os sonhos de consumo para dentro das suas realidades.

- Não que ter coisas, pensar em ter coisas não seja importante, mas quando este comportamento é regra para a maioria das pessoas da sociedade e ter coisas é só o que importa, os prejuízos vão se acumulando no balanço da vida nacional: a cultura está um farrapo, a miséria se disfarça atrás dos programas de distribuição de esmolas do governo, a educação é uma vergonha internacional, a saúde uma mancha na consciência de todos nós e o problema fundiário é o que vemos todos os dias na tv.

- Observei que, na maioria dos casos, as pessoas que não gostam de conversar assuntos de gente politizada não gosta não por ser despolitizada, mas sim por serem egoístas.

- Acreditam que devem ficar quietas no seu cantinho, com todos os seus privilégios assegurados.

- Mexer com assuntos tão polêmicos pode, pensam elas, trazer prejuízos para suas vidas tranqüilas.

- Entretanto, esquecem que tudo isso acontece também dentro das suas casas e que, mais cedo ou mais tarde, alguém da sua família acabará pagando, com juros, essa imensa dívida social.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 21 de agosto de 2007

O PEDIDO II

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Não rabisquem meu nome pelos muros

nem desenhem meu rosto nas fachadas
nada fiz pelos homens e seus filhos
nem cumpri o ritual dos iluminados.

Eu só quero que me matem e me esqueçam
numa rua qualquer desta cidade
onde um bêbado, uma noite, me encontre
e me eternize ao soltar sua gargalhada.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 20 de agosto de 2007

ÁRVORE DA FERRADURA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- A Árvore da Ferradura faz parte do meu imaginário.

- É coisa perdida nos longes da minha infância.

- Casos de assombração: uma ferradura fixada numa árvore; um mineiro dado a histórias e... pronto: a Árvore da Ferradura tornou-se a residência do diabo.

- Por ela muitas noites eu passei, junto com meu pai e minha mãe, a caminho de casa, na roça.

- Todas as vezes o mesmo assombro, o mesmo medo, o mesmo susto.

- Anos depois, dediquei a ela um pequeno texto.

- Assim:

O diabo aparecia embaixo da Árvore da Ferradura. Houve gente que viu e ficou branca de medo, tal a feiúra do bicho.
Os olhos de fogo, garras pontiagudas, chifres enormes.E dentes muito brancos, compridos, que pingavam sangue.
Era lá na Árvore da Ferradura que todas as sextas-Feiras, à meia-noite, o danado aparecia.
Constâncio vinha da cidade no seu cavalo magro,Trotão; sexta-feira, já perto da meia-noite.
Cabeça vazia, bêbada, cantarolava alegremente sem qualquer preocupação.
A Árvore da Ferradura já perto. O cavalo refugou e quis voltar. A espora sangrou as virilhas sem dó. O diabo no barranco, estancado.
Constâncio, mão na cintura, trinta e oito na mão, o grito:

- Lá vai fogo! O diabo está quieto.- Lá vai fogo!

O estampido encheu a noite. O diabo emborcou-se, com a mão na barriga e, sem um gemido sequer, rolou mansamente do barranco na figura do compadre Gumercindo, muito dado a histórias de assombração.

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- Hoje, há muito tempo, a usina de açúcar e álcool arrancou, do imaginário dos mais velhos, a Árvore da Ferradura, suas histórias e a cruz do compadre Gumercindo.

- O diabo foi obrigado a transferir a sua residência para outra freguesia.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 19 de agosto de 2007

QUEM DIRIA!

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Depois de grande, quem diria!

dei de quedar-me silencioso
feito guarda de vigia.

Dei de sentar-me junto à janela
ou de rosto para o teto
e ficar assim meio estúrdio
meio quieto
feito um gato que espera
o sol num meio-dia de inverno.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 18 de agosto de 2007

QUE NÃO VOLTAM MAIS

CRÔNICAS&CONTOS - SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Lendo Cem Anos de Solidão me veio à memória meu antigo professor de matemática.

- Não entendi o porquê, mas acho que por ser muito parecido com personagens do realismo mágico, da literatura latino-americana.

- Dr. João!

- Figura classuda, sisudo, justo, cabelos prateados, seu eterno terno de linho cinza-claro e seu humor irrepreensível.

- "Seu Medeiros! - profetizava - o sr. nunca vai ser nada na vida!", ao entregar a minha prova, sempre de notinhas baixas.

- Que vergonha!

- "Seu Torquato - irônico - guarde o membrinho para brincar em casa!" Para o menino Torquato que mexia no piu-piu lá no fundo da sala.

- "Quem foi?" - se passando por bravo - depois de levar uma bolada de papel grudado com cuspe bem no meio das costas. O menino Gueigue saindo da sala de mansinho.

- "Ah, seu Salomão, não ameace o seu Medeiros para que ele lhe passe cola! Ele também não sabe!"

- "Hoje, para fazer a prova, podem colar. Abram os livros!"

- Ô tristeza! Era notinha baixa na certa.

- O terno sempre cheio de picão. Andávamos com os bolsos cheios e ele era nossa vítima preferida. Via e fingia que não via.

- Uma figura para se lembrar.

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- Os alto-falantes do pátio do colégio:

"Siempre que te pregunto/que cuando, como e donde/tu siempre me respondes/quizás, quizás, quizás..."

- Havia, naquela época, um romance no ar.

- Em março de 64, o romance e a música saem do ar.

- Os coturnos e o toque de recolher entram nos pátios e nos alto-falantes das escolas.

- Carregava isto comigo, precisava contar.

- Só para relembrar aquele tempo que - espero - não volta nunca mais!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 17 de agosto de 2007

A PERGUNTA II

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Conta pra mim uma coisa

eu quero saber por quê
60 dias no ano
você me trai com O.B?


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

OS CHATOS II

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Ontem, estava vendo um filme e veio-me à cabeça o poema O Sobrevivente, do livro Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1930.

- Assim:

"Impossível compor um poema a essa altura da evolução
da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja -
de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as
necessidades mais simples.

Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoraram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)"
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- Por que me lembrei do poema?

- Alguns dias atrás escrevi sobre os chatos que estão mandando em nossas vidas.

- Pois bem, no filme mencionado, um general, testa-de-ferro dos chatos, diz o seguinte:

- Neste país não se fuma, não se bebe, não se sonha acordado; não se consome drogas, carne vermelha, açúcar; não se faz sexo (a não ser que seja casado), não se dorme tarde, levanta-se cedo e se trabalha para produzir bens de consumo em escala mundial, para atendermos às necessidades alimentares e tecnológicas dos povos e para, com alegria, participarmos do crescimento e do enriquecimento da nossa nação. Fazemos isto porque somos patriotas e demoramos séculos para chegar a tal nível de civilização.

- Eu acho que Drummond conhecia bem os chatos e já sabia, 70 anos atrás, que eles um dia seriam os donos do mundo.

- Olhe a sua volta: há sempre um chato por perto, com uma nova lei embaixo do braço.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O ACONTECIMENTO V

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Vergo-me sob o peso dos compromissos.


Este meu corpo, vara seminua
range, estala, trinca... balança!

As pessoas querem mais e mais!

As pessoas querem-me par, simbiose
querem minha metade presa
às suas pequenas memórias.

Eu luto, mas o corpo verga
o peso aumenta, as pernas tremem
e as pessoas querem mais e mais!

As pessoas são tantas!
Os compromissos tantos!
Eu sou tão frágil... definho!

As pessoas querem mais e mais!

O corpo range, estala,
trinca... balança
e eu definho mais e mais!


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 14 de agosto de 2007

O CIO DAS CADELAS

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Tenho 03 poodles: 01 macho e 02 fêmeas e, no momento, um primo distante deles passando temporada conosco.

- Você já viu um poodle macho no mesmo ambiente de 01 fêmea no cio? E 02 poodles machos no mesmo ambiente de 02 fêmeas no cio?

- E com um detalhe: não vão poder cruzar.

- Dá dó!

- É uma zona!: macho chora, fêmea chora... e ninguém dorme em casa.

- Um macho mija, chora. O outro mija em cima, chora. Não comem nem bebem água.

- O cheiro do cio, para os machos, deve ser insuportável porque eles uivam, plantam bananeiras, fingem de mortos, ficam em pé, conversam com você... imploram!. Eles pedem pra você deixar, você vê nos olhos deles!

- É de cortar o coração e de deixar qualquer um louco.

- A coisa é tão feia que eles se agarram entre si: macho com macho, fêmea com fêmea.

- Brinco com minha mulher: já pensou se os homens sentissem o cheiro das mulheres com uma intensidade dessas?

- Seria engraçado andar na rua: aquele monte de macho, de quatro, cheirando os traseiros das mulheres.

- As que estavam no cio gostando, as que não estavam dando bolsadas nos safados.

- E um detalhe: não ia ter poste suficiente para todo mundo.

- Quando olho o performance sexual dos meus poodles penso: como estamos ficando civilizados e estamos perdendo o nosso instinto de animal.

- Estamos sendo preparados para procriar sem sexo.

- Fala que isto não é uma merda!

(Fonte: texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O SACRIFÍCIO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Deduzi em mim o animal sagrado

a fria ara
o punhal de prata.

À noite
ao som das minhas vísceras
meu negro demônio
entoa cantigas
serenas e implícitas.


Basta-me dormir
cessam-se os hinos
então meu demônio
arteiro menino
na calada da noite
inicia o sacrifício.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

domingo, 12 de agosto de 2007

HIPERTENSOS

CRÔNICAS&CONTOS- SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Bom dia, amigos hipertensos!

- Tenho o prazer de lhes comunicar que, a partir de hoje, passo a fazer parte deste seleto clube de preocupados: os hipertensos.

- Médico: Não pode fumar. Não pode beber. Não pode comer sal. Não pode comer gordura. Não pode comer açúcar. Não pode ficar nervoso. Não pode f...!

- Eu: Trabalhar pode?

- Médico: Trabalho não mata ninguém!

- Revoltado, logo no meu primeiro dia, resolvi lançar a proposta para a criação de uma comunidade, cuja finalidade é preservar o estilo de vida dos hipertensos amantes da vida: A COMUNIDADE DOS HIPERTENSOS REBELDES.

- Higroton com conhaque dreher. Ancoron com cerveja.

- Tiazida com lingüiça de porco. Drenol com charuto cubano.

- Natrilix com cafezinho mineiro. Lasix com picanha.

- A comunidade terá algumas atividades mensais:

- Troca de bulas de medicamentos. Campeonatos de "máximas e mínimas."

- Relatos dos melhores "piripaques" da semana. Relatos do "meu maior susto."

- Experiências em ambulatórios hospitalares. O seguro da viúva.

- No último domingo de cada mês a comunidade comemora "O DIA DO QUE SE FODA!", com a realização de um grande churrasco regado a muita cerveja, vinho, uísque cachaça, café, cigarro, charuto, carne de porco, picanha bem gorda, bacon, tudo salgado do jeito que fica bem gostoso.

- Na primeira segunda-feira de cada mês os membros não se comunicarão e dedicarão o dia aos "piripaques", às grandes máximas e mínimas, aos sustos, e às internações hospitalares.

- A COMUNIDADE DOS HIPERTENSOS REBELDES conta com a sua adesão.
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- Como dizia Alberto José Alves, antigo dono do Mappin de São Paulo: "um homem para ter vida longa precisa de uma doença que o controle."

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 11 de agosto de 2007

A 1ª PEQUENA HISTÓRIA DE UM ACONTECIMENTO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Era um verão calmo

e os homens verde-amarelos
eram calmos como o verão calmo.

Na fazenda do cel. tinoco os homens comiam
dia sim dia não dia sim dia não
o feijão preto da tulha preta do coração preto
do cel. tinoco.

Pássaros negros, digo, pretos
esvoaçavam no ventre preto da mãe dos pretos/brancos
e comiam as frutas pretas fecundadas na noite.

Era um verão calmo na fazenda do cel. tinoco
que com sua tv preto&branco ligada
noite adentro
fazia malvadezas misteriosas no pantanal
da vida.


(Fonte - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 10 de agosto de 2007

CINEMA PARADISO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Um cineasta de sucesso retorna à sua cidade natal quando é avisado da morte de um grande amigo de seu passado, que o ajudou a se apaixonar pelo cinema.

- A partir desse enredo simples, o personagem volta à sua infância e nos mostra um filme onde você chora, ri, reflete, ama, se apieda, fica irado, apaixonado e... com uma sensação de vazio.

- Dirigido por Giusuppe Tornatore, estrelado por Philippe Noiret, Salvatore Cascio, Jacques Perrin, entre outros; com música de Ennio Morricone, produção italiana, lançado em 1988, Cinema Paradiso é um verdadeiro hino de amor à 7ª arte.

- O Cinema Paradiso também faz parte da minha vida. Eu também tive o meu Cinema Paradiso.

- O meu Cinema tem muita influência dos italianos (até fizeram filmes na minha cidade).

- A sala de projeção do Cinema Paradiso é exatamente igual à do meu Cinema.

- O projetor preto (fico pensando se não é da mesma marca); os cartazes dos filmes colados nas paredes da escada e da sala; as contínuas interrupções do filme; o projecionista. Tudo igual!

- Até a censura dos filmes do Cinema Paradiso era igual à do meu Cinema: feita pelo padre da cidade.

- No meu Cinema os únicos filmes livres eram os do tipo Mazaroppi, Marcelino Pão e Vinho e Paixão de Cristo.

- O resto, na sua maioria, tinha censura.

- O padre do Cinema Paradiso tinha problemas com beijos: cortava todas as cenas, não existiam beijos nos filmes do Cinema Paradiso.

- O do meu Cinema não cortava só beijos: cortava pernas, seios, diálogos, lutas, tiros, entre outras coisas. Os filmes do meu Cinema também eram mutilados pela censura.

- Hoje, lembrei-me do filme e da censura. Da censura do filme e à que fomos submetidos por mais de duas décadas.

- Comparei as duas e cheguei à conclusão: todo tipo de censura é abominável, mas aquela do Cinema Paradiso e do meu Cinema chegava a ser lúdica, inocente... engraçada; mas insensatas e absurdas como todas as censuras.

- Assista ao filme, você vai se apaixonar.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 9 de agosto de 2007

AS PALAVRAS

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Uma a uma as palavras vinham na boca dos mortos

e calmas e silenciosas infernizavam a noite
com seus cortantes conflitos.

Ganhavam asas e sobrevoavam a taciturna angústia
dos que lá se encontravam.

Os mortos falavam: e dos olhos, cabelos
nariz, pele, boca, ouvido
as palavras saltavam
e forjavam na noite fria
os sonhos daqueles mortos
que em profundo silêncio,
nas mãos uma taça vazia,
erguendo um brinde à vida
palavras geladas bebiam.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 8 de agosto de 2007

TALICOISA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Meu saudoso amigo Dedé era um personagem peculiar.

- No auge dos seus cinqüenta anos era uma criança.

- Comunista da velha-guarda ou melhor Stanilista da velha-guarda, era pessoa extremamente culta: rabiscava o esperanto, o francês e um inglês bastante razoável.

- Após uma boa rodada de boa cerveja ficava muito engraçado.

- Subia na mesa dos bares, recitava poemas, fazia discursos políticos inflamados e descia o pau nas elites.

- Isso em pleno regime militar!

- Pessoa de grande coração e humor ele era.

- Levantava muito cedo e gostava de tomar o seu café no bar da rodoviária. Era um grande fumante.

- Nessas caminhadas de casa até a rodoviária, arrumou um amigo: um vira-lata.

- Ia com ele até a rodoviária, sentava aos seus pés e ficava aguardando que ele terminasse o café para levá-lo em casa.

- O vira-lata também tomava o seu café da manhã. Todos os dias ele ganhava um pastel de carne.

- Encurtando: não sei por que cargas-d'água, o vira-lataacabou sendo batizado de Tal-e-coisa...Tal-i-coisa e acabou virando Talicoisa.

- Dedé percebeu que Talicoisa tinha uma peculiaridade: adorava enterros. Morresse quem morresse, lá estava Talicoisa acompanhando o morto. Era sempre o último, depois das pessoas.

- Saía da porta da casa do morto e o acompanhava até o portão do cemitério. Fosse quem fosse!: Rico ou pobre! Negro ou branco! Gordo ou magro! Fizesse chuva ou fizesse sol!

- Essa amizade de Dedé e Talicoisa durou muito tempo, até que também se foi o meu amigo Dedé.

- No velório, em sua casa, Talicoisa, como sempre, ficou deitado do lado de fora esperando o enterro sair.

- O enterro saiu: só que desta vez, para espanto geral, Talicoisa não se moveu. Onde estava ficou. O enterro saiu: deitado estava, deitado ficou. Não acompanhou o enterro do seu amigo.

- Enquanto viveu, foi o único enterro da cidade que Talicoisa não acompanhou.

- Isto faz parte da minha memória. Achei bom contar.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 7 de agosto de 2007

O PÁSSARO DÉBIL

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Explode o grito

do meu pássaro débil
em patéticas cantigas
ao luar.

Bethoveanos dedos
procuram nebulosas formas
da Jobiniana melodia
que aos homens afoga
com suas Águas de Março.

De nada somos feitos:
eu e meu pássaro debilóide.
- Quem foi Freud?
O homem que compunha psicoses
ou o cantor da liberdade?

Não o sabe meu pássaro.
Se soubesse
mudo permaneceria o bico.
Escorado é o mundo
em palavras sem sentido.
Loucos somos
e nossa loucura é iníqua.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 6 de agosto de 2007

REPRESSÃO, LAZER E ARTE

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Eu vi! Tá na memória!

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- Palco: Rua Direita, São Paulo, 04:30 da manhã; garoinha paulista, fina - fria!

- Cena I: Rua deserta, molhada; as luzes refletidas no chão - silêncio!

- Eu, solitário, apreensivo, caminhando para o metrô; somente o som seco dos meus passos, na rua.

- Ta! Tac! Tac! Tac!: o som dos passos na noite.

- Cena II: No sentido oposto; cena inusitada.

- No espanto do momento pensei em máquina fotográfica; mas, hoje, cheguei à conclusão: a melhor foto é a que fica na memória; podemos mudá-la, pela vida afora, de acordo com nossa conveniência. Ela, na nossa memória, não envelhece nunca, como acontece com as fotos da kodak.

- No sentido oposto vi dois policiais conduzindo um bêbado: cada um deles segurando firmemente um dos braços do coitado.

- O policial da esquerda segurava o braço esquerdo do personagem com a mão direita e levava na mão esquerda... acreditem!, uma garrafa de cachaça Tatuzinho.

- O policial da direita segurava o braço direito do personagem com a mão esquerda e levava na mão direita... acreditem!, um Violão.

- Cruzei com a cena surrealista em silêncio - eram tempos difíceis! - e quase que, absurdamente, só por ser poeta, aplaudi, já que o momento me deixou com a sensibilidade à flor da pele.

- Na rua: tac! tac! tac! tac! tac! tac!

- Repressão, lazer e arte se fundiam no reflexo molhado da melancolia da Rua Direita e suas luzes indiferentes.

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- Eu vi!

- E me deu uma saudade danada de Chaplin!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

domingo, 5 de agosto de 2007

À NOITE

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

À noite violentamos nossos sonhos

acariciamos e esfolamos nossos vôos
fragmentamos em poeira nossos olhos
entupimos com detritos nossas bocas
mergulhamos no profundo do que somos
no espaço acinzentado do cansaço
na esquecida ruína desse medo
na pegajosa baba desse asco.

À noite buscamos trilhas esquecidas
cuspimos violentos velhas faces
mordemos com veneno as palavras
trucidamos com navalhas nossas carnes
ensangüentamos sem remorsos nossos cílios
voamos meio cegos nos olhares
e caímos feito pedras deslocadas
nas ruínas onde estamos mergulhados.

À noite somos vampiros embriagados
amamos e odiamos a humanidade
vivemos e matamos a cada abraço
para depois como morcegos asquerosos
voarmos saciados para casa.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 4 de agosto de 2007

A ERA BUSH

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Andei dando uma olhada na internet, em blogs e outros espaços ocupados por todo tipo de pessoas, e constatei algo impressionante.

- O antiamericanismo, cultuado na figura do Bush, é um sentimento forte entre grande número de pessoas, principalmente entre os jovens.

- Interessante isto, porque, no Brasil, pra quem não está muito por dentro das artimanhas do imperialismo yankee, a presença americana é bastante subliminar, aparentemente pacífica e de não interferência.

- Aqui, quase tudo que vem de lá ou tem ligação com lá é cultuado ou usado, de uma maneira ou de outra, por todos nós, gostemos ou não dos gringos.

- Coisas como windows, antivírus, cds, desodorantes, jogos, sabonetes, filmes, roupas, músicas, máquinas, equipamentos eletrônicos, programas de tv e muitas outras coisas estão presentes no dia-a-dia de todos nós, sejamos politizados ou não.

- Aqui, os gringos não atiram mísseis, nem bombas; atiram coca-cola e pepsi geladas; o Brad Pitt, a Nicole Kidman, a microsoft e dezenas de roqueiros, só para exemplificar.

- Embora tudo seja aparentemente tão light, o ódio é claro.

- A era Bush arranhou definitivamente a já toda arranhada imagem dos americanos no mundo.

- Imaginem nestes paises do oriente médio onde os gringos atiram mísseis, bombas; envenenam as águas, administram a fome; torturam, estupram e matam as mulheres, as crianças e os civis de uma forma generalizada.

- Para essas pessoas, como será o sentimento antiamericano?

- Entendo que é mortalmente mortal!

- A sociedade moderna caminha no fio da navalha.

- O antiamericanismo, na figura de Bush, deixou seqüelas graves para o mundo, como o acontecimento de 11 de setembro.

- Qualquer dia, alguém muito revoltado se vê diante daquele famoso botão vermelho da nossa infância e aperta o danado.

- O que sobrar de nós inicia uma nova civilização.

- E o Bush não vai estar nem aí!
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(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O ACONTECIMENTO XXII

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

De nós desprendeu-se um lodo negro

um veneno violeta
um lamaçal
uma penúria refletida no escuro
dos nossos olhos
esmiuçando o pantanal.

Feito dois bichos
escondidos na penumbra
de um momento já pintado no olhar
nos abraçamos, um ao outro
amedrontados
com os negros olhos
refletidos no luar.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 2 de agosto de 2007

COMUNICAÇÃO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- O assunto é polêmico!

- Pense!

- Tanto eu como você vimos falar de inclusão digital, acesso à informação... democratização da informação, etc...

- Do que se trata, realmente?

- Ontem à noite, sem ter o que fazer, estive em 02 shoppings centers e... confesso, fiquei assustado!

- No 1º: + ou - 50 terminais, com 50 pessoas sentadas, acessando o MSN ou o ORKUT. Gente esperando!

- No 2º: + ou - 30 terminais, com 30 pessoas sentadas, acessando o MSN ou o ORKUT. Gente esperando!

- Pergunto: isto é inclusão digital?, é acesso à informação?, é democratização da informação?

- Isto é isto mesmo ou é outra coisa? Ou será que sou um babaca e não entendo o babado da hora.

- A mim me parece linha de montagem, filme futurista; clonagem.

- Sabe aqueles filmes onde todas as pessoas são iguais,se vestem iguais, comem iguais, pensam iguais, trabalham para o mesmo patrão e não reclamam nunca?

- Estou sendo exagerado? Pode ser, mas é o que eu sinto.

- Eu, particularmente, não consigo entender o comportamento desse rebanho assustadoramente igual.

- É normal, ou tem gente por detrás disto?

- Isto tá certo? Meus filhos são iguais!

- Eu eduquei meus filhos para isto?

- Eu estou ficando velho, ultrapassado?

- Aliás, para mim comunicar-me ainda é uma coisa de pele, de toques, de cheiros, de sons... de olhares.

- E pra você, como é?

- Comente!, o assunto é intrigante.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O DESCANSO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Porque hoje é sábado não falarei do meu tédio de hoje.


Falarei, sim, do meu tédio de segunda e terça-feira
do meu tédio de quarta e quinta-feira
ou, talvez, do meu tédio de sexta-feira.

Passarei o sábado falando do meu tédio útil da semana
esquecendo este meu tédio inútil do sábado.

No domingo eu ficarei calado e sonolento.

Não pensarei em nada, não sofrerei por nada
e calmo e entediado morrerei de tédio no silêncio da tarde.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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