segunda-feira, 28 de março de 2011

Confissões incômodas

Vou confessar uma coisa:

Tenho vergonha de sair na rua.

De andar por aí, caminhar pela praia, pelas praças, pelo cento da cidade.

Uma multidão de pessoas excluídas 'vivem' esparramadas por todos os cantos.

Embaixo das marquises, nas varandas, nos bancos, nos cantos, sob as árvores, sob os viadutos, sob as pontes, na cobertura das barracas, ao relento... invisíveis.

Crianças, adultos, velhos, craqueiros, bêbados, doentes, cheiradores de cola, pequenos ladrões, pequenas prostitutas... gente desprovida de tudo, até da minha atenção; eu que sou metido a comunista, socialista, anarquista, e sei mais lá o quê.

É uma merda!

O peso da consciência bate pesado.

E me pergunto:

Será que bate pesado o suficiente, já que eu não faço porra nenhuma pra mudar isto?

Acho que não!

Acho que sou apenas mais um filho da puta que tem vergonha de andar nas ruas só da boca pra fora.

Como todos os outros filhos da puta que eu tanto critico...

E não gosto.

Por serem tão filhos da puta quanto eu.

Embora eu não o seja, pelo menos na minha cabeça de esquerdista de merda.

Que pensa que só pensar resolve os problemas do mundo.

E tira o peso da consciência.

E justifica tudo!

O cacete!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Acordares

Hoje acordei 1/2 que azedo, 1/2 que estragado para o mundo.

Não tô com saco pra nada!

Praia, futebol, música, culinária, arte, tv, internet, amor, sexo... nada!

Cada coisa se apresenta mais chata que a outra.

Nunca aconteceu com você?

Esses dias em que a gente acorda e parece que a alma, na madrugada, saiu e foi dar uma voltinha por aí deixando a gente vazio... oco por dentro.

Aqueles dias em que a gente está sem ritmo, sem saber onde colocar as mãos, sem querer conversa com quem quer que seja, sem querer saber do mundo... da própria cara.

Pois é, acordei assim!

Mas acho que até a tarde minha alma volta do seu passeio solitário.

Ou, no máximo, na próxima madrugada!

Cansada e frustrada com o que vivenciou por aí no dia de hoje, ela volta pra casa.

Com o rabo no meio das pernas.

Acabrunhada.

E amanhã, como todos os dias, devo amanhecer mais doce.

Mais conivente com a chatice do mundo.

E com a minha!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Escrever não dói

Parar, sentar, pegar um papel, uma caneta e pôr-se a pensar.

Pensar no que escrever naquela folha de papel em branco.

É um bom exercício, uma boa maneira de você repensar o mundo, a vida... a sua vida.

À procura do assunto você viaja por todos os espaços.

Você pensa em emprego, desemprego, salário, filhos, casa própria, poluição, corrupção, guerras, fome, doenças, esportes, imagens, lugares, tragédias, religião, aquecimento global, violência, esperança, alegria, tristeza, cinema, literatura, teatro, universidade, carreira, preconceito, trânsito, amigos, amor, sexo... etc etc etc.

E você escreve.

E fica conhecendo mais você, sua posição sobre os assuntos relevantes e sobre os irrelevantes.

Se você é de esquerda, direita, conservador, preconceituoso, alegre, triste, solto, amarrado...

E não importa se o texto fica bom ou ruim!

Chato, legal.

Aproveitável ou não.

Escrever é legal.

É também entretenimento.

E você convive mais com você.

Experimente!

É de graça e não dói!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Caça aos obesos

Bertolt Bretch, no seu poema AGORA LÉVANME A MIM, faz referência ao desenvolvimento do nazismo antes da 2ª guerra mundial:

"Primeiro levaron aos comunistas
pero a min non me importou
porque eu non o era.

Axiña levaron a uns obreiros
pero a min non me importou
porque eu tampouco o era.

Despois detiveron aos sindicalistas
pero a min non me importou
porque eu non son sindicalista.

Logo apresaron a uns curas
pero como eu non son relixioso
tampouco me importou.

Agora lévanme a min
pero xa é tarde."

Já utilizei este poema de Bertolt Bretch para escrever um tema sobre a violência no Brasil.

Agora quero utilizá-lo sobre um assunto que está num crescendo assustador no mundo todo:

O patrulhamento ostensivo das pessoas.

Não importa o que seja!

Fugiu do padrão - não sei quem foi que criou o tal 'padrão' - a pessoa tá ferrada.

Se você bebe, fuma, vai ao banheiro da empresa de vez em quando, sai pra almoçar, fala palavrão, tira férias, gosta de comer gordura, gosta de doce, gosta de ler, adora dormir tarde, tem mais de 2 filhos, gosta de vagabundar de vez em quando, gosta de muito sexo, tem pressão alta, problemas de colesterol, é diabético, se você é gordo... cuidado!

Tem gente de olho em você!

Há pouco tempo atacaram os fumantes em são Paulo, e em diversos lugares do mundo.

Agora estão atacando os obesos... e é pra valer.

Acompanhe:

Os quilos a mais já custam mais caro em várias companhias aéreas internacionais (algumas com voos no Brasil), nas quais passageiros muito acima do peso podem ter de pagar por duas poltronas em voos cheios.

No Estado do Alabama (EUA), o governo cobrará, a partir de 2011, US$ 25 por mês dos funcionários obesos que não se cuidarem. Antes do "imposto de gordura", o governo já cobrava US$ 25 de fumantes.

Na Inglaterra, um condado motivou protestos ao passar a cobrar, neste ano, 50% a mais para enterrar corpos "maiores". A regra começou a vigorar em março. Em vez da tarifa normal de 129 libras (R$ 415), o sepultamento de obesos custa 194 libras (R$ 625).

A United Airlines cita reclamações de "cerca de 700 passageiros em 2008" que viajaram "espremidos" para justificar a criação, há duas semanas, da cobrança de poltrona extra para obesos em voos lotados.

Outras oito companhias americanas já faziam a cobrança (hipocritamente não cobram se o voo estiver vazio). Algumas, como a Continental e a Delta, operam no Brasil, onde as regras também valem, assim como a United.

Assustador, não é?

Isto não está parecendo aquele negócio da tal 'raça pura'?

Os governos, as pessoas apertam o cerco.

E vamos vivendo no fio da navalha.

A cada dia o nosso espaço, o nosso modo de viver fica mais restrito.

E temos que dar satisfação de tudo: do que comemos, do que bebemos, do que lemos, do que amamos, do que pensamos, de como cuidamos de nossas vidas... de nossos corpos.

E fique esperto:

Se você - dentro do tal 'padrão' que estão criando para as pessoas - é feio, alto, baixo, magrelo, careca, fanho, paraplégico, surdo, mudo, branquelo, negro, amarelo, vermelho, índio, puta, mendigo, gay, narigudo, barbudo, dentuço, tem pernas tortas, é gordo, entre outros, você pode ser excluído da sociedade.

Alguém muito próximo de você te observa e faz anotações.

E logo saberão da sua existência.

E da minha!!!