segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

A PASSAGEM

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Bruscamente abriram-se as cortinas

e fizeram escorrer pelo chão a luminosidade
dos falsos ideais
das mentiras
das promessas
das austeridades.

E saímos da sala contando anedotas

e fomos brincar na rua
lá fora
como se fôssemos dois idiotas
a contemplar desesperadamente a aurora.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

domingo, 30 de dezembro de 2007

O DIAGNÓSTICO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Você já ficou doente? Uma gripe? Uma virose? Uma infecção intestinal? Uma outra coisa qualquer?

- Não/sim?

- Até aí tudo bem!

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- Mas uma pergunta: você já recebeu ou viu alguém receber um diagnóstico da "coisa"?

- Sentiu ou viu como a pessoa fica?

- As luzes se apagam. Os sons desaparecem. Os odores se vão. As mãos tremem, A boca gagueja, As pernas formigam. Os braços se perdem. A respiração acelera. O estômago revira. A temperatura enlouquece. O chão se vai... o vazio é enorme. A sensação de perda é assustadora. Toda a vida passa a sua frente em míseros 10 segundos.

- Disse o médico: "Hum, vamos ver! Foi o que pensei, temos aqui a "coisa": Carcinoma Basocelular!".

- Esse foi o meu diagnóstico anos atrás.

- Gelei, um fantasma correu as mãos frias pela minha pele, da cabeça aos pés.

- Fitei os olhos anuviados no meu carrasco e:

-Vivo ou morro! Esta foi a minha pergunta: curta, seca, objetiva: uma pergunta que resumia toda a minha vida em míseros 10 segundos.

- Com toda a calma do mundo: "Não, não é por aí! A "coisa" tem jeito! Primeiro vamos fazer um tratamento sem traumas: radioterapia. Não deu jeito vamos mais longe: vamos tirar um pedaço da sua bunda e pregar na sua cara, no lugar da "coisa".

- Tudo isso na maior tranqüilidade. Também gosto de humor negro. Cagando de medo, pensei mas não falei: aí, doutor, vou ficar com cara de bunda!

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- Resultado: passei os meus cagaços, as minhas insônias, as minhas crises contínuas de perda... a minha mísera agonia, a cada 10 segundos. Dez anos depois aqui estou.

- Não tenho um pedaço da bunda na cara, fui os dos que tiveram sorte com o tratamento sem traumas...

- Só posso dizer uma coisa: a "coisa" é a "coisa" , mas uma boa dose de humor na adversidade sempre é uma alternativa extra.

- Não pensei na "coisa" como a minha morte. Pensei nela como um motivo a mais para viver! E vivi!

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- Infelizmente, a vida tem dessas coisas.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sábado, 29 de dezembro de 2007

A PERGUNTA III

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS
Para Stefan Mantu (Piga), pelo vôo melódico.


Por que?
Por que não deitar e dormir tranqüilo
olhando uma estrela
que brilha no infinito.

Por que não dormir tranqüilo
pensando que aquele brilho
são os olhos de quem amamos
velando nosso destino.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O MEU AMIGO OTTO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Ou Ottomizio!...

- 64 anos, teimoso, pressão sob pressão... fico imPRESSIONADO!

- O danado é criança! Arteiro, sem-vergonha, bem-humorado, pronto para o que a vida oferecer.

- Sempre disposto pro que der e vier.

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- Lhe disse: você não está na terceira idade!

- "Tenho 64 anos!"

- Pra entrar na terceira idade o sujeito tem que ter juízo, e isto você não tem!

- Risos.

- Verdade seja dita: tem gente que teima em não envelhecer. Meu amigo Otto é um! Falta-lhe juízo para envelhecer.

- Sua cachacinha, seu uisquinho, sua cervejinha, gordurinha de picanha... uma esposa jovem - adepto total a todos os prazeres da vida.

- É um batalhador/ralador, mas ao mesmo tempo um bom vivant.

- Aplausos para o meu amigo Otto!

- A vida é generosa para quem vive com todas as sensações à que tem direito.

- Sejamos Ottos, na vida! Nada de juízo! Nada de achar que prazer é um direito dos jovens.

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- Ave, Otto! A sua falta de juízo nos leva a viver melhor.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O ESPETÁCULO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

No esgoto
o verme coxo
pega a carne
solta o arroto.

Mergulha a pata
busca outro naco
sua figura
é o espetáculo.

À sua volta
aglomerados
estão outros vermes
esfomeados.

Mergulha a pata
acha outro naco
enfia na boca
ouve os aplausos.

Bebe da porca
água do esgoto
dá o sorriso
solta o arroto.

Há um delírio
de festa no ar
os vermes se agitam
a vomitar.

O verme artista
vê a comida
atira-se com ímpeto
para a carniça.

Come com gosto
o estranho manjar
os vermes se põem
a gargalhar.

Levanta-se lerdo
com dó no olhar
um dia com tudo
no outro a faltar.

Mas está satisfeito
não quer mais comer
tem muito espaço
pra percorrer.

Vira as costas
o verme coxo
arrasta-se calmo
pra outros esgotos.

Os vermes que ficam
aglomerados
estão sorridentes
e empanturrados.

Movem-se calmos
cada um pro seu lado
e vão à procura
de outro espetáculo.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O FÃ

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Visão de mundo é algo particular.

- Ouvi duas frases interessantes esta semana:

- 01) - "Quando eu morava no Brasil...".
- 02) - "Quando eu me mudei do Brasil...".

- O autor das frases: um carioca.

- Como entendi:

- 01) - Quando eu morava no Sudeste...
- 02) - Quando eu me mudei do Sudeste...

- As frases me foram ditas na cidade paraibana de Monteiro, a 300 kms de João Pessoa.

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- Primeira vez na cidade: encantamento total. O óbvio está na cara.

- Aquilo que a Globo mostra para o mundo, o Brasil, geograficamente localizado no Sudeste, não tem nada a ver com o que aqui vi.

- Ou aqui não é o Brasil ou o Sudeste não é o Brasil.

- São duas coisas completamente diferentes.

- Aqui temos uma cidade de músicos, poetas, que têm uma linguagem própria, um ideário comum, um amor de encantamento pelas suas raízes.

- Aqui temos um povo que ama... que canta a sua terra.

- Um canto visceral, profundo, doído que explode do fundo da alma e canta, com paixão desmedida, a sua terra, a sua gente, as suas origens.

- O Brasil sem vísceras, mostrado pela mídia dourada do Sul, não tem nada a ver com o que aqui vi.

- A diferença de "quando eu morava no Brasil..." e "quando eu me mudei do Brasil..." encontrei aqui na arte da gente sensível e libertária de Monteiro.

- Uma arte ainda intocada pelo toque de Midas dos barões da cultura, que aculturaram a nossa música, a nossa poesia, o nosso carnaval, o nosso folclore e as manifestações artísticas e culturais puras e simples das diversas comunidades espalhadas pelo Brasil afora.

- Uma cidade como Monteiro, bem pensada por quem de direito, alçaria vôos altos pelo mundo inteiro, simplesmente apresentando de maneira simples e objetiva o seu produto mais significativo: a arte de sua gente.

- Turismo limpo, inteligente e seguro para o mundo e o reconhecimento da arte impoluta e maravilhosa de seu povo.

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- Parabéns, Monteiro!!!

- Acabou de ganhar mais um fã!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

AS SENTENÇAS

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Meu uivo preenche a noite

gela o asfalto
estremece os cães.

Lá fora
na medonha cidade
os homens sentenciam ordens
calares de boca...
silêncio!

Só dentro de mim
- não sabem! -
o impossível silêncio
sobre nulas sentenças
triste e poderoso ecoa
sem se incomodar.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

É NATAL!

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- O natal é a festa da hipocrisia absoluta.

- É a data onde as pessoas sozinhas ou em grupos, se superam na sua individualidade.

- As diferenças se acentuam; os olhos das crianças pobres ficam maiores, seus desejos se multiplicam e fica bem visível o tamanho da boca do abismo que separa as classes sociais.

- E tudo é muito natural!

- Tudo transcorre na mais absoluta paz!

- Os políticos comemoram suas vitórias.

- Os corruptos contam seus metais.

- A igreja pensa que cumpre sua parte.

- A classe média se enche de álcool e colesterol.

- Os supermercados engordam suas barrigas gordas.

- Os pobres ficam com o resto da grande festa da hipocrisia.

- O símbolo da festa, para a maioria dos crentes, fica em segundo plano.

- O grande espetáculo é a ostentação.

- As esmolas se multiplicam!

- As pessoas ficam mais generosas no seu egoísmo e purgam seus pecados distribuindo migalhas aos mais necessitados.

- O espetáculo é infame!

- Os jornais, as revistas, as rádios e as tevês aplaudem.

- Organizam a coleta da esmola em grande estilo: atores, empresários, políticos, músicos, apresentadores, cronistas, jornalistas cumprem seu papel da maneira mais vergonhosa, da maneira mais explícita.

- E tudo acontece diante dos olhos do Brasil, um dos países do mundo de índole mais perversa, mais dissimulada e mais desavergonhada no que se refere à distribuição de renda.

- Jingle bell! Jingle bell! Jingle bell! - É assim que escreve?

(Fonte: Texto -Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

domingo, 23 de dezembro de 2007

A PERGUNTA ( O AMOR?)

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Existe o amor? ou o amor é um mito
ou o amor é um quisto
um fogo, um bicho
que arregaça a carne e arranca as tripas?
Ou o amor é um crime, um tiro, um grito
numa rua escura, no fim de uma trilha?

Existe o amor? ou o amor é um vício
ou o amor é um circo
no palco um arrepio
que o palhaço sente na hora do riso?
Ou o amor é o frio da neve, no rio
que encontra o mar no fim do caminho?

Existe o amor? ou o amor é turista
que chega, pergunta, viaja, conquista
e compra sem juros, sem prazo, sem vista
depois faz as malas, parte, desiste
não deixando rumo, nem nome, nem pista?
Ou o amor é nada, é estático, fixo
fruta polpuda jogada no lixo
cheio de cortes, manchas, bichos
que o pobre apanha, cheira, apincha
bem longe de todos os seus cupinchas?

Existe o amor? ou o amor não existe
ou é sonho, água, bruxa, feitiço
brilho de olhos de astro, artista?
Ou é dor de dentes, de rim, de ouvido
réu condenado, carrasco, martírio
ou é um instante movido a pilhas?

Existe o amor? ou o amor não existe
ou é selo, carta, mistério, magia
ave ferida, sem vôo, caída
no mangue, no brejo, no mar da Bahia?
Ou é um cavalo montado, ferrado
que galopa no espaço da noite e do dia
soltando um fogo verde-azulado
pelo couro, as patas, a boca e as crinas?

Existe o amor? ou o amor não existe
ou é cor, é fantasma, flechada, ardil
cilada armada com o riso sutil
que leva o cão a fugir do canil?
Ou é telegrama de gente que viu
a morte, a vida defronte o fuzil?
O amor é eterno ou é mortal e efêmero
como um homem hostil?
Ou o amor é cantiga de noite de frio
que aquece os ossos, dá força e dá brio?

Existe o amor? ou o amor não existe
ou é sono, anseio, fome, delícia
grito de guerra, fúria, carícia?
Ou o amor é um cego, no meio da pista
tentando escapar do risco de vida?
Ou o amor é peteca que dança
nas mãos e nos olhos de João e Maria?
Ou o amor é sevícia, tortura, ferida
preso nos porões do escuro da vista?

Existe o amor? ou o amor não existe
ou é sangue, carne, suor, combustível
fita de chita comprada em butique?
Ou o amor é uma flor muito rara e bonita
nascida da lua e de um sopro de vida?

Existe o amor? ou o amor não existe
ou é homem, mulher, criança, rixa?
Ou é simplesmente o cheio e o vazio?
O amor?


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)

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sábado, 22 de dezembro de 2007

AS SAUDADES

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Coisa estranha: quando, por um motivo ou outro, a morte me ronda - tipo quando tive um câncer - eu sinto saudades... muitas saudades.

- Umas saudades intensas, doídas - mil espinhos arrancados do fundo da alma.

- Digo: morrer é sentir saudades... muitas saudades.

- Saudades de um tempo que se foi, saudades de um amor inatingível, um lugar inimaginável, um amigo inacessível, um sabor inigualável, uma música impenetrável, uma tarde inesquecível... saudades de um tempo que viria.

- Acho que os mortos sofrem pela ausência de suas presenças sólidas na síntese da vida.

- Estão, mas não estão.

- São, mas não são.

- Falta-lhes a essência do existir concretamente.

- Vagam pelas tardes e sentem saudades... muitas saudades do ruído do vento em seus cabelos.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O SINAL DA ROSA II

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Violáceos olhos
no firmamento
possível porta
sentido pleno.

Ao olho atente
leve semblante
fino desenho
sonho de infância.

Sonho criança
vida pequena
lágrimas verdes
face serena.

Vida em silêncio
perfil do tempo
sinal das marcas
doce veneno.

Sinal das horas
frio lamento
longa viagem
abismo intenso.

Frio destino
espera lenta
ausência nua
quedas amenas.

Violáceas sombras
imagens densas
olhos cansados
passar do tempo.

Denso resíduo
vis elementos
vida ungida
com mil dilemas.

Resíduos vivos
ato solene
colhidas flores
dura sentença.

Violáceos olhos
flores pequenas
ara dos templos
finda presença.

Cai sem palavras
pétala tensa
no fundo espaço
do esquecimento.


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O PINTO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Sem preconceitos, quero falar do pinto.

- Bráulio, Antônio Carlos, 12 e 1/2, vara, pissa, brachola, fumo, cacete, pau-barbudo, caralho, fálus, manjuba, pau, bilolo, pistola, bilau, pino, grande, piu-piu, nervo, badalo, mastruço, pênis, rola, fuso, pinguelo, cabeção, sarrafo, espada, carequinha, pinta, pé-de-mesa, camandro, mango, ganso, piroca, passarinho, barbarroxa, peru, pila, minhoca, zezinho, piça, manzape, pica, catatau, lingüiça, pene, bimba, cambão, tora, catso, pito, estrovenga, ferro, judas, jeba, piciroca, membro, lascão, nabo, peia, pingulim, badalhoco, picirica, pingola, pua, trolha, falo... pinto! Etc, etc, etc.

- Enormes, grandes, médios, pequenos, minúsculos... não importa: pinto é pinto!

- O pinto, mesmo num país de direita, quase sempre se posiciona à esquerda, no seu habitat natural: a cueca.

- Às vezes se sai um grande guerreiro, vence batalhas seguidas sem baixar a cabeça.

- Outras vezes, medíocre, se encolhe, baixa a cabeça, foge da briga, se esconde entre os panos e nos deixa mergulhados na mais absoluta vergonha.

- Os ociosos, ainda sem trabalho com carteira assinada, vivem na mão. De banheiro em banheiro fazem o seu trabalho de sobrevivência.

- Nas mãos das crianças é um inocente: e passarinho é o seu nome.

- Nas mãos dos adolescentes é um brinquedo glamouroso: sempre em pé - cabeça erguida - posição de sentido - é um sargento sempre pronto para a batalha.

- Nas mãos dos de meia-idade têm altos e baixos e demonstram as suas preocupações com o futuro.

- Nas mãos dos anciãos é um abnegado: mas sempre à espera de um milagre.

- O pinto é divertido: é diversão garantida, mesmo quando nos deixa na mão.

- Mas não brinque com o pinto!

- Ele tem duas cabeças: nas horas das decisões difíceis, não consegue decidir com qual das cabeças pensa.

- Quase sempre pensa com a cabeça errada.

- Os resultados são imprevisíveis: maridos traídos, doenças, crianças, preocupações: "Que merda que eu fiz!". "Tô ferrado!". "Minha mãe me mata!". "O corno me mata!". "Minha mulher me capa!". "Vou ser pai!". "Tô com AIDS!". "Meu Deus!". "Meu Deus!". "Meu Deus!".

- Mas, apesar de tudo, o pinto é nosso!

- E dele não abrimos mão.

- Mesmo depois de fazer "aquela arte" ele continua sendo o nosso orgulho.

- O pinto é o orgulho nacional: mesmo quando ele dorme, a gente chora... e elas riem.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A NOITE II

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Um cão
cachorro louco
ladra pra lua
uma consolo.

Um gato
felino arisco
mia pra D'Alva
um aviso.

Uma coruja
pássaro sinistro
pia pro Halley
um armistício.

Um homem
animal aflito
fala pro universo
um grito.


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A EDUCAÇÃO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS
.
- Sinceramente!

- Estou em dúvidas: não sei se educo os meus filhos ou se me reeduco!

- Ô coisinha difícil é lidar com adolescentes!

- O choque é inevitável:

- Eles se acham modernos demais x eu que me acho politizado demais.

- Ouvem merda, eu chio: acho que as minhas merdas são melhores que as deles.

- Não estudam, eu fico possesso: acho que eu era diferente, não precisava estudar.

- Resmungam, eu resmungo: acho que meu pai/mãe eram mais chatos do que eu sou como pai.

- Não querem trabalhar, pego no pé: eu que sempre achei que ter patrão é um pé no saco.

- Dão uns tapinhas num cigarrinho/cervejinha, aconselho moderação: eu que fumei durante 44 anos e bebo cerveja pra cacete.

- Saem de casa, somem: fico reclamando, eu, que casado, fui boêmio por trocentos anos.

- Afundam a cara na internet, faço comparações: eu que era viciado em filmes e matava aulas para ir ao cinema.

- Enfim, não sei o que faço!

- Me reeducar significa negar tudo o que puseram na minha cabeça.

- O que vai sobrar para educar meus filhos?

- Uma cabeça vazia?

- Talvez seja a melhor opção para lidar com adolescentes.

- "Cabeça cheia" sempre foi sinônimo de atitudes afoitas, impensadas, com conseqüências imprevisíveis.

- O ditado, bastante inconseqüente, diz: "quando não puder com o seu inimigo, alie-se a ele!"

- No momento, a minha melhor opção!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A CASA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

O espaço:

claro finito.

O sonho:
escuro conflito.

A parede:

imagem céu.

O sonho:
real bordel.

O piso:
frágil encantamento.

O sonho:
duro tormento.

O teto:
mórbida alegoria.

O sonho:
renúncia fria.

O todo:
falso concreto.

O sonho:
útil objeto.


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

domingo, 16 de dezembro de 2007

A DEDADA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Caros amigos: há anos venho adiando assunto tão constrangedor.

- Mas chegou a hora!

- Você que tem mais de 45 pode me ajudar, e muito, com o seu testemunho vivo.

- Por favor, puxe pela memória, não minta, seja você mesmo e responda, de coração, à pergunta abaixo:

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- Pergunta: Quando você levou a dedada, você:

01)- É muito macho pra caralho e disse: Isto fica entre nós dois, doutor. Quando é que eu volto?
02)- É muito sensível e disse: Ai!!!
03)- É assexuado e disse: Não senti nada!
04)- É ex-gay e disse: Huuuuuuummmmmmm!!!!!!!
05)- É urologista e disse: Aqui se faz, aqui se paga!
06)- É gaúcho e disse: Não disse nada, você ficou quietinho... curtindo.
07)- É gay e disse: Já!!!
08)- É otimista e disse: É só um segundo! É só um segundo! É só um segundo!...
09)- É pessimista e disse: Isto vai durar uma eternidaaaaaade!!!
10)- É muito macho pra caralho, reincidente, e disse: Isto fica entre nós dois, doutor. Quando é que eu volto?
11)- É Cubano e disse: Yo soy un hombre sincero.
12)- É muito calmo e disse: Não tenha pressa, doutor!
13)- É preocupado e disse: Posso dar uma olhada no dedo, doutor?
14)- É enrustido e disse: Nunca imaginei uma coisa dessas!
15)- É todo fresquinho e disse: Vai doer, doutor?
16)- É baiano do Sul da Bahia e disse: Eita, porra! Afunda, meu rei!
17)- É corintiano e deu, ao médico, de presente, uma luva alvinegra. No indicador escrito: É Campeão!!!... É Campeão!!!...É Campeão!!!...
18)- É curioso e disse: Alguém já elogiou o seu trabalho, doutor?
19)- É desconfiado e disse: O que você vai fazer com esse dedo, doutor?
20)- É realista pra cacete e disse: Não sei porque os homens não gostam de fazer isso! É tão normal!
21)- É mineiro e disse: Uai! que trem atrapaiado, sô!
22)- É muito moderninho pro meu gosto e disse: É um barato!. Nada que eu não faria de novo!
23)- É o cara que leva a sério a saúde e disse: Fui porque fui obrigado.
24)- O médico era um gato e você pediu o telefone dele.
25)- Viu o médico passando vaselina no dedo e disse: Profissão interessante essa sua, né doutor?
26)- É paulista e disse: o doutor já é cliente do Bradesco?
27)- Faz isto desde os 18 anos e nunca se arrependeu.
28)- É economista e disse: Não tinha como tirar o líquido do bruto.
29)- É ganancioso e disse: Pensei que fosse bem maior!
30)- Adora contar suas aventuras sexuais e disse pra todo mundo: É preciso ser macho pra fazer um negócio desses. O mês que vem eu vou de novo!
31)- É humorista e disse: KKKK! Este seu dedo é duro pra caralho, hem doutor!
32)- Foi escondidinho e disse: Domingo, vou à igreja confessar os meus pecados e me livrar dos maus pensamentos.
33)- Gostou e não quer me contar.
34)- Pediu para o médico colocar uma musiquinha da Adriana Calcanhoto.

- Me ajude, por favor! Afinal de contas, você é um cara que eu admiro muito, opção sexual à parte.

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- Socorro! Segunda-feira é o meu dia!

- Segurar na outra mão do médico, ajuda?

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sábado, 15 de dezembro de 2007

A INVASÃO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Por mais que eu lute o outro me invade.
O outro é duro, eu sou duro, é o combate.
O outro avança, eu me defendo, eu me debato.

Ela usa tudo: armas duras, penetrantes.
Usa meus sonhos, meus fracassos, meus espaços.
Usa meu tempo, meus desejos, meu cansaço.

O outro é duro, eu sou duro, a luta é sorte.
A luta é dura, a luta é louca, a luta é morte.

Vejo perigo: eu sou duro, eu sou forte.
Mas o outro avança com resignação e suporte.

Eu recuo: há o perigo de haver cortes.
Trago comigo coisas frágeis, que eu gosto.

Pôr em perigo o que é frágil pra ser forte
corre-se o risco de perder-se o que importa
de estar-se vivo por perdão, misericórdia.

Fujo da luta: vou arrastando e defendendo o que eu gosto.
O que eu sinto, o que eu sou, o que importa.
Vou com minhas flores, minhas fontes, os meus pássaros.

O outro é duro, eu sou duro, mas não importa.
Devo fugir e defender o que eu gosto.
O outro avança, eu recuo, o tempo corre.

Vou recuando e vou sentido às duras penas
que defender o que é frágil, os meus pertences
é uma lei que eu mesmo fiz com elementos
que não são frases, nem palavras, nem poemas.
São meus pedaços, meus resquícios, minha poeira.
São os anseios do que é vivo, do que pensa.

Recuo e sinto em meu corpo a violência.
Sou como Praga, suas ruas, sua gente.
Sou como a carne e a memória de Allende.
Como a mim mesmo nos dias mais decadentes.

Sinto com fúria, com dor, com insistência
que o tempo encurta, só um segundo resta.

E nada me salva desta!

A não ser o que o mundo acorde
e volte a ser sol e festa
e que pela pequena fresta
de luz que me forma a testa
venha à tona de minh'alma a tela
das coisas que vivi, as coisas belas
e o esboço do que fui, pela janela
entre por mim nessa batalha
e sem seqüelas
me salve do invasor que me persegue
me acua, me ameaça, me esmigalha
com a perseverança e sagacidade de uma canalha.

Mas tudo é inútil:
no mundo não há sol, nem festas
e as coisas que eu fui já não existem
estão há muito tempo mortas
enterradas pelos campos da memória
esquecidas no escuro das idades
arquivadas nos museus da minha história.

O outro avança, eu recuo, passos lentos.
O outro avança muito firme, consciente
e com seu olhar muito duro, persistente
quer me prender no labirinto do seu tempo
e me encurrala no abismo de mim mesmo.

O outro é duro, eu sou duro, estou aflito.
Sinto perder meu poder, meu equilíbrio.
Há coisas frágeis que me importam em perigo.

Sinto escorrer lento, vago, destruído

no espaço escuro e infinito do abismo
o perfume calmo, penetrante e sublime
de uma flor que escapou dos meus sentidos.
Junto com ela se atira em desatino
por sobre as pedras incrustadas no infinito
toda uma fonte azulada, muito linda
que se atirou para fugir do mau destino.

O outro ri com meu riso, meu cinismo.
As minhas coisas, todas frágeis, vão caindo
uma a uma no infinito do abismo
que sou eu mesmo, minha vida, meus instintos.

E me entristece não ter forças nos sentidos

para segurar pelos meus bosques de menino
o meu pássaro mais querido
que cai num eco na amplitude do abismo
e se debate sem uma chance, em desatino
pra não ir junto com seu canto pro infinito.

O outro avança: eu recuo, estou caindo.
Atrás de mim, enorme boca, o abismo.
Um pouco do que sou ganha o infinito
sem protesto, sem vida, sem um grito.

O outro é duro, me empurra pro abismo.
O meu abismo, o meu eu, meu infinito.

O outro avança: eu recuo, estou caindo.
Mas antes que eu perca os meus sentidos
e já no espaço a caminho do abismo
sinto em meu eu que não sou eu, é o infinito
um arrepio com o que vejo me assumindo:
à minha frente, muito sério e muito limpo
está o outro que sou eu, o meu destino.


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

AS CINZAS

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Sabe esse negócio de: "Quando eu morrer em quero isso." "Quero aquilo." "Quero ser enterrado." "Quero ser cremado."?

- Acho que o "quero ser cremado" é o campeão entre a classe média metropolitana. O interiorano quer "o quero ser enterrado", pra família não esquecer de levar flores no aniversário, comparecer em peso no dia de finados.

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- Nena quer ser cremada.

- E quer que eu a coloque num vaso, adubando uma planta que ela ainda não decidiu qual é.

- Argumentei:

- Num vaso? Eu te coloco num vaso, lá fora. À noite começa a chover, eu fico com remorso de estar quentinho, na cama, e você na chuva, no frio da noite.

- Nena: coloque o vaso dentro de casa!

- Eu: Aí eu fico com medo! Já pensou dormir todas as noites com um morto na sala?

- Nena: mas sou eu!!!

- Eu: Morta!!! Morto é morto! Não importa se é a mãe, o pai, o filho, o irmão, o melhor amigo, o marido... a mulher!

- Sou mineiro, caralho! Fui criado, desde o útero, ouvindo histórias de assombração.

- No meu imaginário, fantasmas me observam dormir!

- Fantasmas de gente que nem conheço!

- Já pensou a Nena, se o vaso ficar na sala? Não vai perder a oportunidade de tirar uma casquinha, à noite. Principalmente quando ela perceber aquela morena de fechar o comércio e a igreja que eu acabei de colocar na minha cama.

- Deus me livre! A planta vai secar e, no vaso, vai nascer um pé de urtiga!

- Nada de vasos! Vamos jogar as cinzas ao vento. Renascer, para quem acredita, deve ser sempre uma grande surpresa.

- A que paragens o vento nos levará?

- Espero que a Nena renasça na forma de uma bela mangueira, a fruta de sua paixão, ou na forma da Whitney Houston que ela acha uma mulher muito atraente e charmosa.

- Eu também!

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- Vamos aguardar os próximos 50 anos pra ver o que vai ser feito da Nena.
- Isso quando ela morrer! A bichinha tá com uma saúde de ferro.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in Praia de Pipa/RN

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A BRINCADEIRA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

A menina e seu avô brincam com o mar.


Estrelas-do-mar
peixes
mariscos
e outros seres
à volta deles
cantam o hino nacional.

A menina e seu avô brincam com o mar.

De resto
tudo é silêncio
que o mar exige para brincar.


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)
Post in Praia de Pipa/RN

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A TERAPIA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Minha amiga Tânia fez um comentário a respeito da violência verbal no trânsito.

- Deu-me o mote:

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- "Fio de uma rapariga!". "Vaca!". "Prostituta!". "Viado!". "Quenga!"."Filho-da-puta!". "Piranha!". "Boiola"."Puta!". "Bicha". "Corno!". "Cadela!". "Barbeiro!"."Navalha!". "Oh!, com o dedo".

- Quem nunca ouviu estes adjetivos no trânsito?

- E quem nunca pensou - nem gritou - que atire a primeira pedra.

- O trânsito é o caos: é o antro da verborragia chula, aquelas palavras que o sujeito não pronuncia em casa.

- A violência é endêmica. Dependendo do caso a coisa chega aos tapas, facadas... tiros!

- É o ser humano exercitando seu lado negro, sua alma malsã, seu instinto belicoso.

- No Japão - dizem - empresas mantêm um boneco, caricatura do chefe, para que os empregados, durante o dia, descarreguem as suas iras, as suas raivas... as suas frustrações.

- No Brasil, criou-se o trânsito - ambiente propício para a terapia coletiva: ele combate as frustrações, a falta de dinheiro, as dores de corno, o excesso de trabalho, a falta de emprego, as iras, as raivas, as mazelas coletivas... o sentimento de se andar sempre correndo e não se chegar a lugar nenhum.

- O trânsito é um grande manicômio comandado por luzes, sinais, buzinas... palavras mal-humoradas.

- Um conselho: mesmo de carro, fique longe do trânsito.

- Não "dirija" no "trânsito", não entre na alma do "trânsito", simplesmente dirija - senão:
- "Fio de uma rapariga!". "Vaca!". "Prostituta!". "Viado!". "Quenga!"."Filho-da-puta!". "Piranha!". "Boiola"."Puta!". "Bicha". "Corno!". "Cadela!". "Barbeiro!"."Navalha!". "Oh!, com o dedo".

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- Mas que dá vontade, dá!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O ÊXTASE

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Promíscuas espirais

de cata-ventos
eróticas
excitantes
excelentes
depuradas perspectivas
de semblante
no difícil frenesi
do movimento.


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

ADALGISA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Fechei os olhos, contei até 10; abri, procurei - Ela se fora.

- A Skol, quadrada. O cigarro, engasgado. O chão, sumido. De resto, um guardanapo sujo de batom.

- A boca Dela, um esboço da sua boca.

- Dobrei o guardanapo, guardei. Comecei a sofrer.

- Todos os sofrimentos do mundo: rejeição, solidão, angústia, abandono, carência, ciúme, desespero, agonia, tristeza... dor de corno!

- Nem acabara de sofrer, Adalgisa entrou no bar.

- Olhou-me, mexeu as sobrancelhas, um sorriso no canto direito da boca e... pronto!

- Homem é um bicho excomungado de sem-vergonha.

- A Skol, redonda. O cigarro... O chão...

- Dela, só guardanapo... sua boca.

- A boca de Adalgisa casou direitinho com a boca Dela.

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- Hoje, eu como as duas!...

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

domingo, 9 de dezembro de 2007

OS OLHOS

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Enormes feito um herói são os seus olhos
quando avançam para mim
e saltam sobre o muro dos sonhos
que eu, por amor, construí
e nadam na represa da vida
que eu, por você, ergui
e entram na casa de brilhos
que eu, em segredo, poli
e tomam conta dos meus olhos
que eu tanto, enfim, escondi
e lambem, com seus desejos
minha alma de marfim.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sábado, 8 de dezembro de 2007

OS ANDRÓIDES

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- O sistema capitalista está criando a sociedade de um homem só.

- O homem de um emprego só, uma comida só, uma música só, um lazer só, um pensamento só... um homem só, mergulhado nos sonhos implantados pelos donos do poder.

- Andróides não são mais uma ficção: circulam nas ruas das cidades, na maior normalidade, conectados ao sistema por fios invisíveis, ondas eletrônicas... desejos uníssonos.

- O sistema está criando um ser sem pés, rodas; sem cérebro, chips; sem vontades, ordens; sem poesia, metas; sem senso crítico... amém!

- Um ser feio, sem essência humanitária, sobrecarregado de monetarismo e de fria individualidade.

- Um ser gerado e montado para o sucesso: o sucesso do sistema que eles alimentam e adoram - O Deus absoluto dos seus estímulos eletrônicos vazios.

- Algum filósofo famoso, não sei se Aristóteles, Platão, Sócrates ou outro dizia algo mais ou menos assim:

- "Para as crianças, nos berços, antes de dormirem, deve-se cantar sempre uma única canção de ninar, para que elas não aprendam e não sintam a possibilidade de mudar".

- O sistema aplica esta filosofia há anos.

- Em menos de um século os Andróides não terão mais sexo, causa de muitas das mazelas dos seres humanos produtivos.

- Seremos seres hermafroditas, presos à linguagem de algum software com I.A.

- Bem-vindos, Andróides Andróginos!

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- Até lá, graças a Deus, estarei morto!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A NOITE VI

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

À noite
(repentinamente)
um grito
(aniquilamento)
esvai-se
(peremptoriamente)
nos braços
do incansável vento.


(Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O BANHEIRO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Ouça:

- Esta semana fui ao banheiro do Shopping tirar "água do joelho" quando deparei (ouvi) a cena. O telefone de um sujeito que estava no box do banheiro tocou.

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- Assunto:

- "Juvenal!... quem tá falando? Ednalva? Oxente! Tu já chegaste? Hoje? E o Ednaldo operou aquele troço no saco? Como chama? Eu hem? Por que ele fez isso, Ednalva. O home é doido! Mãe perguntou por tu, ontem. E aí? Que tu vai fazer hoje á noite, mulhé! Deixa disso! (barulho de gases e baque na água). Tô cum saudade de tu! Vai me dizer que tu num gosta daquele meu chameguinho no cangote. Fale bobagem mulhé!, tu me ama e num sabe! Tu vai sair com quem? Com o corno do Severino? Mas mulhé!, Severino é frango, todo mundo sabe! (todo mundo curioso no banheiro). Eu... com ciúmes, deixa de ser besta, mulhé! Ô Ednaldinha, vamos lá!, tô com saudade! Vamos no bar do Ceará tomar umas e esquentá as coxas e depois... (barulho de gases e baque na água). Tu tá fazendo cu doce mulhé. Tu num é disso! Oxente!, tu tá me deixando arretado! O quê??? Vê como fala comigo, mulhé! Sua quenga! Piniqueira safada! Fia de uma rapariga! Do que tu me chamou, Ednalva? Corno? Corno é o baitola do teu pai! (O banheiro cheio de gente, ouvindo). Sabe de uma coisa Ednalva, sua cadela! Eu tô cagando um monte pra tu. Cagando, ouviu? Tô cagando pra tu! Tá escutando? (Um grande som de gases e um baque bem grande na água)."

- Silêncio. Barulho de papel, descarga, fivela da calça.

- Sujeito: resmungando - "Piranha! Ela vai ver quem é corno! Vaca! Severino!..."

- Barulho do trinco da porta. Um monte de gente tentando sair de uma só vez do banheiro.

- O sujeito saiu do box, não lavou as mãos, olhou os dentes, penteou os cabelos e ainda resmungou:

- "Corno!... Severino!... Quenga!..."

- Mas gostei de ver: que ele cagou um monte pra Ednalva, ele cagou. Uma rara qualidade nos homens de hoje!

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- Invenção minha? Te juro que não é!!!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A CONSEQÜÊNCIA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Decepado o pescoço
da alma
o corpo funciona
feito máquina
que tem
uma peça quebrada.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O MÉDICO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS
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- Sabe cumé! Segunda idade e 1/2, fui ao médico ontem.

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- Na sala, deitado:

- "Aposentado?" "Faz o quê?" "Fuma?" "Bebe?" "Exercício Físico?" "Não trabalha com nada"?
- Fiquei olhando aquele sujeito me escutando por dentro, colocando aquele troço no meu braço... e se dizendo preocupado com minha vida.

- Pensei: este sujeito é doido. Se eu sou aposentado por que ele tá perguntando o que eu faço. Não faço nada! Sou aposentado, cacete! Ele tá querendo o quê? Que eu arrume um emprego?

- Dito e feito!

- O sujeito me disse na bucha: "o senhor precisa arrumar uma atividade."

- Questionei: defina atividade.

- Uma coisa para o senhor ocupar o seu tempo. Para não ficar ocioso durante o dia.

- Pensei de novo: o sujeito é doido mesmo!"

- Perguntei ao infeliz: o senhor conhece o Made In Brazil?

- "Made In Brazil?"

- Sim, Made In Brazil! O senhor não tem idéia do tamanho da boca do danado. Eu trabalho dia e noite para alimentá-lo. Ele come mais que os meus 05 filhos juntos.

- E o senhor ainda acha que eu não faço nada?

- O sujeito virou-se para o computador: "qual o endereço?"

- Madeinbrazil...

- Abriu, rolou pra cá, rolou pra lá, olhou para mim e... "o senhor precisa parar de trabalhar. Precisa tirar umas férias, com urgência."

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- E tem gente que acha que não faço nada!

- Uma mãozinha na consciência vai bem!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A CAMINHADA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Aqui estou, final de sonho
olhando nos olhos de quem não fui.

Fosse mais moço, forte cavalo
soltava a alma e galopava
pro fundo azul do insondável espaço.

Mas não quero nada, nada de nada!
Senão mirar-me no embaçado espelho
da minha própria face
senão cortar-me na afiada faca
da minha mágoa.

Aqui estou, aqui me vou
feito um danado
arrastando o fardo
da minha herança.


(Fonte: Poesia - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 2 de dezembro de 2007

A SURDA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- A história é de Minas.

- Acho que por mais insignificante que seja o ser humano, alguma coisa dele fica no espaço ou... na memória de alguém.

- Ficou na minha ou não estaria escrevendo sobre isso.

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- Madalena:

- Madalena - só Madalena - era o nome da personagem.

- Surda, falava pouquíssimo, além de não falar coisa com coisa.

- O eterno pano na cabeça, a cabeça sempre baixa.

- Em menino, e adulto também, convivi muito com ela e sei pouquíssimo de sua vida. Era daquelas pessoas que passam pela vida despercebidas. Estão ali, mas é como se não estivessem. Teimam em não existir para o mundo.

- Nunca soube como seus patrões a conseguiram. Morava num quartinho no fundo da casa... despercebida.

- Como louca era vista na cidade.

- Andava pelas ruas resmungando. As crianças tinham medo de Madalena.

- A personagem é profunda e eu sou muito raso, muito superficial para traçar um perfil mais adequado, mais justo para Madalena.

- Só sei que ela ficou na minha memória apenas por uma frase que repetia a cada vez que passava por alguém, inclusive por mim, e que eu vivo repetindo pela vida afora:

- "Cê num sabe o qui ti espera nu fim da vida!"

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- Madalena se foi. Ficou eterna comigo.

- Agora vocês também já sabem:

- "Cê num sabe o qui ti espera nu fim da vida!"

- Assustador, não???

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sábado, 1 de dezembro de 2007

O VÔO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Muita asa

pouco espaço

muita meta
pouco arco

muito alto
pouca raça

muito vôo
pouca graça

muito sonho
pouca sala

muito homem
pouco pássaro.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

OS TAIS

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Corporativismo é uma palavra forte no Brasil: grupos organizados que não querem perder privilégios.

- Os empregados das Estatais foram duramente combatidos no governo FHC, com o apoio da imprensa, e perderam muitos dos seus privilégios.

- O Corporativismo é uma coisa normal no Brasil: só que muitas entidades, instituições, grupos não se autonomeiam corporativistas, por motivos óbvios.

- Embora muitos grupos ou categorias não contarem com privilégios, ou poucos, mesmo assim são corporativistas, pelo simples fato de estarem unidos em torno de uma profissão, meio de vida ou sobrevivência.

- O Senado, Câmara dos Deputados, OAB, Igreja, Banqueiros, Bancários, Empresários, Comerciantes, Pecuaristas, Agricultores, Pescadores, Jogadores de Futebol, Empregados de Prefeituras, do Governo Federal, do Estado, Taxistas, Químicos, Médicos, Engenheiros, Arquitetos, Professores e muitos outros grupos ou categorias, unidos em torno de um sindicato, associação ou outra forma de organização são todos corporativistas.

- A imprensa também é.

- Jornalistas, colunistas, comentaristas empregados da grande mídia brasileira: TVs, rádios, Jornais, Revistas, Provedores formam uma casta e dali não saem de maneira nenhuma.

- Muitas dessas pessoas são de alto nível, mas, como qualquer corporativista, não querem perder seus privilégios e acabam ficando nas suas... muitas vezes em silêncio.

- Pessoas que se arvoram a ser grandes formadores de opinião, que trabalham em grandes empresas, muitas vezes, para não perderem seus privilégios, fecham os olhos para as mazelas do mau jornalismo.

- É o caso, por exemplo, da revista Veja que nas eleições de 2006 não se comportou adequadamente como uma empresa séria e andou, em muitas oportunidades, enfiando os pés pelas mãos praticando um péssimo exemplo de jornalismo.

- E ficou por isso mesmo. Os seus colunistas calaram a boca e, por motivos óbvios, não bateram de frente com o patrão.

- Poderia aqui citar os nomes de alguns expoentes da grande mídia que se beneficiam do seu cargo sempre eterno de formadores de opinião, mas que não costumam opinar contra o patrão quando este não se comporta de maneira ética perante a sociedade.

- São os Tais!

- Eles são os avalistas dos acontecimentos nacionais. O assunto passou por eles, a coisa é séria. Pode confiar... e dormir tranqüilo ou não!

- Que privilégio pode ser maior do que este?

- Nem um salário de R$50.000,00!!!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

OS AMANTES III

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Séria feita uma missa

você me olha nos olhos.

E dos seus olhos
saem salmos
sermões
e perdões
para os meus
e os seus pecados.

Depois você pisca
e sorri
e dos seus olhos
o beija-flor voa
e vem pousar
no meu nariz.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O BLOG MIB

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Outro dia alguém me interpelou: "vocês, blogueiros, têm um trabalho danado para atualizar o blog todos os dias e, ao nível de leitores, nada de retorno."

- Respondi: escrevo um blog para ocupar um espaço que eu tenho. O espaço é meu e quero ocupá-lo. É um espaço para mim, até agora, democrático e quero exercer o meu potencial de escritor virtual que me tornei.

- "Mas... e os leitores?"

- Leitores? Nunca vou ter grande número de leitores, mas tenho uma meia dúzia de teimosos que se alternam e estão sempre dando as caras.

- "Mas... só isso?"

- Só isso? Eu tenho muitos livros de poesias e de contos e estou aproveitando para publicá-los. O importante é colocar as idéias no mundo.

- Aproveito também para fazer as minhas crônicas e meus comentários diários, minhas piadinhas, meus pratos favoritos e para me projetar como pessoa intelectualmente ativa nos meios de comunicação.

- "Um escritor que não se importa se é lido ou não?"

- Eu me importo! Eu sou lido! Como já disse, eu tenho a minha meia dúzia de leitores cativos e só por isso acho que já vale a pena.

- O interpelante não ficou muito convencido, mas deixou pra lá e me disse que vai começar a ler o blog.

- Já valeu a pena! Mais um leitor, agora são 07!

-------

- Aos meus leitores, um grande abraço e os meus agradecimentos por estarem sempre por perto.

- Vocês me dão motivação para continuar.

- E vou... até onde agüentar!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O COTIDIANO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Uma caverna patética
de susto e mistério.

Uma avenida infinita
de trânsito finito.

Uma casa habitada
por demônios e fadas.

Um cometa cadente
fatal e ardente.

Um espaço ocupado
pelo universo enjaulado.

Por isso, só isso
que é a fera feitiço
o verme ajoelhou-se
e apertou o gatilho.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)

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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O BAILE

KONSIDERAÇÕES SOBRE... SEU NEGUINHO

- A memória é algo formidável.

- Esconde tesouros, crimes, vergonhas, coragens... todo nosso passado.

- Na rua, hoje, a música:

"Abre a janela, querida
venha ver o luar cor de prata
venha ouvir o som desse meu pinho
na canção de uma serenata..."

- Antiga, Pedro Bento e Zé da Estrada.

- Meu pai - "Seu Neguinho" - a amava.

- Junto à lembrança de Seu Neguinho veio os bailes da Gonçalvina - "Gonçarvina" para os mineiros.

- A Casa do "João da Gonçarvina", aos sábados, era o point dos boêmios, músicos, mulherengos, farristas e dançarinos.

- Uma casa humilde, uma família humilde, um baile. Não era prostíbulo, era só um baile!

- Eu, criança, me lembro!

- Na madrugada silenciosa do interior a música viajava serena.

- 03 da manhã acordava: o som do cavaquinho e a voz de Seu Neguinho flutuavam no vento da noite.

- A música:

- "Abre a janela, querida
venha ver..."

- A minha mãe, irrequieta.

- Somente aos sábados: um único momento de paz e alegria para pessoas que carregam o mundo nas costas.

-------

- Seu Neguinho se foi: não era mulherengo. Apenas um homem solitário e sensível.

- Analfabeto nas letras e letrado na sensibilidade.

- Um poeta da noite!

- Tomava suas cachaças, tocava seu cavaquinho e cantava suas canções para suportar o mundo e o seu trabalho duro.

- Fui entendê-lo há pouco tempo. Fiquei com vergonha da minha demorada ignorância.

- Era um homem e seu universo limitado e voraz. Um homem de peles!...

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- "Sei que dormes sonhando com outro
desprezando quem é o teu amor
quem tu amas de ti nem se lembra
quem te quer você não dá valor..."

- Uma lágrima!...

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 25 de novembro de 2007

O PESADELO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Fada e duende

na alma do dente
habitam a gruta
covardemente.

A varinha mágica
é uma serpente
que pica
injeta o veneno.

O delírio do dente
invade a carne
rapidamente.

Enquanto o grito

viaja
o duende e a fada
dão risadas
e preparam a serpente
pra mais uma picada.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 24 de novembro de 2007

O FLAUTISTA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS
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- Por que não me sinto à vontade no Shopping Center?

- Por que olho toda aquela massa colorida e barulhenta se movimentando e me sinto estranho?

- Por que me sinto agoniado num espaço cheio de facilidades, climatizado, limpo e seguro?

- Sou um bicho-do-mato?

- Tô fora do conceito de modernidade?

- Sou um idiota?

- Tô velho?

- Sou um sujeito chato que não concorda com nada, critica tudo?

- Não sei!...

- Mas de uma coisa eu sei: quando me sento, peço uma cervejinha e olho aquela massa colorida e barulhenta se movimentando rápida e voraz, me vem à cabeça um só personagem: O Flautista de Hamelin, tocando sua Flauta Mágica e levando dezenas de ratos a se afogar no Rio Weser.

- O Shopping Center é a Cidade de Hamelin.

- O Consumismo é O Flautista de Hamelin.

- O desejo desesperado de possuir, o som da sua Flauta Mágica.

- O Rio Weser, salvo algum milagre, o desfecho da história contemporânea.

- Salvem os ratos!

- E as crianças também!!!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O OFÍCIO

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Esse é o ofício do mar:
dar vidas tirar vidas
não dormir
não acordar
cobrar do intruso moreno
o preço dos que se
distraem.

Avançar
recuar
esbranquiçar
esverdear
agitar
acalmar
sonhar na praia o peixe
para a criança brincar.

Esse é o ofício do mar:
dar
e tirar
não dormir
não acordar
não odiar
e não amar.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O APRENDIZ

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Aguardando atendimento na farmácia, passei os olhos pelas prateleiras, caixas, atendentes e me lembrei do tempo em que eu era aprendiz... aprendiz de farmácia!

-------

- Seu João Biela era o nome do farmacêutico. A Farmácia: Sant'Anna. Minas Gerais.

- Ô tempo difícil! 10, 12 anos, pequeno, frágil, miúdo.

- Os pedidos de remédios chegavam pela saudosa Mogiana. Lá no outro topo da cidade.

- Explico: tô aqui no topo da cidade; ele é alto. A estação de trem é no outro topo; isso é, tenho que sair daqui empurrando um velho carrinho de madeira, descer uma senhora ladeira, subir uma longa subida, chegar à estação, pegar uma caixa de remédio, pesada pra burro, colocar no carrinho e fazer o caminho inverso.

- Ô fraqueza!, embaixo daquele sol escaldante.

- E o catálogo?... Meus Deus!!!

- O catálogo era um livro do "arco-da-velha", com todos os nomes de remédios do mundo.

- O nome do remédio e, na frente, os preços escritos a lápis.

- Abria a caixa grande, abria as caixas menores, conferia o pedido e começava um trampo que é muito comum no inferno: apagar aqueles valores escritos a lápis por mais de 10 anos, num papel todo puído, e anotar os novos valores dos remédios. E eram centenas!

- Arghhhh!!!

- Os vidros roxos eram mais interessantes. Com eles me transformei em Merlim e fiz muitas bruxarias: pomada de óleo de fígado de bacalhau, xaropes para tosse, ungüentos para feridas, poções para manchas na pele, alívio para infecções, unheiros, ferimentos e inchaços.

- A química nas mãos das pessoas comuns, dos leigos.

- O melhor do aprendizado: aprender a aplicar injeções nos braços de Maria, a senhora mulata, a empregada da família.

- Era a cobaia dos aprendizes. E dava risadas!

-------

- Não me tornei um farmacêutico, mas aprendi coisas e valores que trago comigo até hoje.

- Por exemplo: farmácias, hoje, são um perigo para a saúde pública.

- Tome muito cuidado com elas!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A REDE

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Malhas

cordas
balanço
corpo nu
noite funda
dia branco
mar azul.

Calor
brisa
sal
diamante
instante.

Rede:
uma mulher sonha
no balanço.

Lá fora
o sol moreno
é um estranho.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

terça-feira, 20 de novembro de 2007

A EREÇÃO

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Um sujeito nos EUA recebeu uma indenização de US$400.000 de uma empresa.

- Motivo: fez um implante no pênis para ter uma ereção duradoura e teve: ficou 10 anos de pau duro!

- Dizia o sujeito: "não posso usar short, nadar, abraçar meus amigos, dormir de bruços... ir à igreja."

- Vira esse trem pra lá, meu fio!

- Mas que sujeito estressado!

- Eu ficaria contente com 01 ereção de 10 minutos, imagine 01 de 10 anos.

- Já pensou o sucesso com as amigas... e com os amigos?

- Você sempre lembrado:

- Maridão falhou: os 02 pensam em você.

- Namorado não compareceu: ela pensa em você.

- O sujeito ficou só na primeira: os 02 pensam em você.

- O rei das fantasias secretas das amigas... conforto secreto dos amigos.

- Cobiçado por mulheres e gays, invejado pelos homens.

- Que beleza! Já pensou dar uma de 24 horas... sem sair de cima! Uau!!!

- Não anotei o nome da empresa milagrosa, semana que vem viajo para os EUA.

- Eu quero uma ereção duradoura... a coitada da patroa também!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

OS AMANTES II

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Os amantes definham-se na cama.


Engolem-se, assim, feito ostras assustadas.

Dão-se com os dentes
palavras
unhas.

Arranham-se com vísceras enciumadas.

Fantasmas rondam

a agonia dos seus gestos
dão gargalhadas
do seu inútil sacrilégio.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 18 de novembro de 2007

A DOENÇA

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Esta é curta... mas boa!

- Palco: ano 1978; consultório Dr. Jades - psicólogo - 09:30 da manhã; Belo Horizonte.
- Personagens: Eu; Dr. Jades, o psicólogo.

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- A história:

- Estava fazendo exames médicos para admissão em emprego. Último exame: psicólogo.

- Sentado - 09:30 da manhã - na recepção do consultório do psicólogo.

- Secretária: Sr. TõeRoberto pode entrar.

- Entrei:

- Bom-dia!
- Bom-dia! Sr. TõeRoberto?
- Sim.
- Hum!... Vamos ver! Fumante?
- Sim.
- Bebida?
- Cerveja.
- Diabetes?
- Não.
- Hepatite?
- Sim.
- Pai e mãe vivos?
- A mãe.
- Pai morreu do quê?
- Congestão Vascocapilar.
- Hum!!!...
- Eu - vermelho, corrigindo: Congestão Cardiovascular.

- O filho-da-mãe riu: eu vi pelos seus olhos. E pensou também:

- "Congestão Vascocapilar? Que diabos é isto? O pai era vascaíno, o Vasco perdeu para o Flamengo, e ele, desesperado, arrancou os cabelos e morreu? (Ih! Ih!, Ih!)"

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- Aconteceu, e eu sei que o tal de Dr. Jades, se vivo, ainda hoje conta a história... e ri!

- E era pra não rir?

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 17 de novembro de 2007

A AUSÊNCIA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Agora é como um não acordar
um cair sem fundo
doce pesadelo
de estar aqui
mas um não estar.

É como se o corpo
elemento claro
fosse o segundo
do relampejar
onde a luz se acende
viva e vermelha
depois se vai
sem poder voltar.


(Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 16 de novembro de 2007

OS CORAÇÕES

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Quando Ariovaldo morreu, o médico ficou perplexo: ele não tinha 01 coração, tinha 02 corações vermelhos... enormes.

- Não tinha cérebro: no lugar, o 2º coração.

- O médico, na autópsia, descobriu coisas intrigantes a respeito de Ariovaldo.

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- Por exemplo:

- Viu que com o coração nº 01, o normal, Ariovaldo sobrevivia: com ele o sangue circulava, ele respirava... mantinha-se vivo.

- Com o 2º coração, o que nasceu no lugar do cérebro, Ariovaldo torcia para o Flamengo - era Flamenguista, o coração rubro-negro - suspirava, curtia os filhos, amava a mulher, os amigos; ajudava os velhinhos a atravessar as ruas, dava esmolas, alimentava e cuidava de 50 gatos e cães vira-latas.

- Com ele agradecia a Deus por tudo que tinha, deixava transparecer sua pureza, seu despojamento, a honestidade da sua alma imaculada e virgem.

- Protegia baratas, aranhas, moscas, escorpiões, dava o finalzinho do sorvete de casquinha para uma criança, na rua; aguava as flores do vizinho, dava migalhas aos pássaros, oferecia o último cigarro a quem quer que fosse... vivia no banco de sangue oferecendo o seu para salvar o próximo.

- Na autópsia, o médico descobriu também que Ariovaldo não morrera de enfarte, conforme estavam dizendo.

- Estava tudo lá. Os corações de Ariovaldo eram 02 livros abertos... 02 diários com uma página cada 01, para cada 01 dos dias dos últimos 30 anos.

- Lá estavam: 21.900 páginas com uma única palavra em cada uma delas - Edileuza.

- Ariovaldo morrera com os corações partidos.

- Partidos pela indiferença da Prima Edileuza a quem amou, em segredo, por 30 anos e que, hoje, no dia da sua morte, casara-se, sem convites, com o Primo Percivaldo Siqueira.

- Casara-se cheinha de amor e sutilezas... com aquele vestidinho vermelho decotado, motivo dos ais e dos suspiros secretos de Ariovaldo.

- O médico descobriu 30 pequenas fraturas em cada um dos corações de Ariovaldo.

- E 02 grandes fraturas causadas por um grande terremoto - 10 graus na escala Richter - que aconteceu no peito de Ariovaldo: Os 02 corações, num estalo, partiram-se em 04.

- Ariovaldo se foi.

- No velório, a Prima Edileuza esboçou uma lágrima... e ficou nisso.

- Ariovaldo suspirou fundo... e 01 lágrima silenciosa escorreu do seu olho esquerdo.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A RUA DIREITA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Um ai

um ei
um oi
um ui
um quê
um ser
vem silencioso
no estouro
da boiada.

Não passamos
de um ir e vir
sem coração
e sem cara.


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

JOÃO-SEM-BRAÇOS

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Era uma vez um cara muito bonitinho, muito queridinho que, por ter dois braços, duas pernas, dois olhos, duas orelhas, um nariz, uma boca sorridente, etc; digo, ter todo o corpo em perfeito funcionamento, era chamado de João-Sem-Braços.

- Ele, como todo bom vivant do interior, era muito conhecido e muito vivo em questões financeiras, porém não vivia contente com tudo que tinha e fazia, porque o que queria mesmo era se tornar político.

- Então procurou um amigo:
- Ô, compadre!, queria uma informaçãozinha!
- Pois não! - disse o compadre.
- Que faço pra sê político?
- Ora, compadre, é muito fácil! - respondeu o outro. Basta que você comece a falar de política nos bares e que, nas eleições que se aproximam, apóie um dos partidos, que o dinheiro e a sua cara amiga garantem o resto.

- Assim fez João-Sem-Braços. Depois de dois anos era um grande politicozinho. Fazia comícios com dois S. Prometia asfalto com U. Pedia apoio com H. Criava comissão com Ç.

- Assim foi. O tempo passou e João-Sem-Braços tornou-se um líder imbatível na política da cidadezinha, isto, apoiado por todos os outros grandes politicozinhos.

- João-Sem-Braços, como os outros, além de fazer política, fazia também intrigas, que era a arma secreta dos partidos. "E a administração?" - perguntavam de fora. Que nada! João-Sem-Braços, como os outros, erguia o peito na rua como a dizer: "Sou o dono desta m... e não aceito opinião!"

- João-Sem-Braços, como os outros, era muito corajoso, isto era. Em época de eleição municipal metia a máscara número cinqüenta e nove e adquiria a ousadia de bater na porta da casa da gente para pedir votos.

- E dizia:
- Bom-dia, gente boa! Sô do partido tar, coisa e tar, e quero mostrá proceis a vantage de votá na gente.

- E mostrava mesmo, como se fosse vendedor de produtos Avon. Não respeitava nem mesmo a capacidade de pensar de quem votava. Às vezes, enfiava a mão no bolso (isso quando percebia que a casa era de chão batido ou pau-a-pique) e oferecia o l'argent ao pobre coitado que, ao ver a verminose dos filhos, mais que depressa pegava e jurava devoção completa ao partido.
- E era assim por diante: de casa em casa, de bolso em bolso, de sorriso em sorriso.

- Como sempre acontecia, João-Sem-Braços, como os outros, vencia a eleição, porém, como era de praxe, não fazia, ou melhor, não tinha condições de fazer nada de proveitoso, a não ser intrigas e mais intrigas.

- No meio do povo aqueles que não estavam envolvidos na política e que deveriam estar porque entendiam um pouco mais das coisas, estavam descontentes com a imensa séria de João-Sem-Braços que vinha tomando conta das coisas e já não acreditavam tanto no seu dinheiro e na sua carinha amiga.

- Um dia, um amigo mais atrevido procurou-o e disse:
- Ô compadre!, queria lhe pedir uma coisa.
- Pois peça, compadre!
- Por que você não volta a ser o que era antes?, coisa e tal, tal e coisa, digo, por que não deixa de ser político?

- Não aceitou. Ficou ofendido com o amigo atrevido e na reunião da Câmara comentou com os outros politicozinhos:
- O povo num tá contente!
- O povo não entende nada! - respondeu um deles. Toque o barco, compadre, senão ele vira e a gente se afoga.

- João-Sem-Braços que por esta passagem chata de sua vida, quase abandonou a política, ainda hoje está dentro dela fazendo promessas com Ç, administrando com I, projetando com G, tudo dentro de sua grande ingenuidade com J.

-Esta é a história de um politicozinho de interior que, com raríssimas exceções, é um verdadeiro "Político Colonial", na acepção de minha modesta palavra, pois outro dia na rua, ouvi um comentário de um dos Joãos-Sem-Braços que muito me comoveu:
- Ô compadre!, a política tá me embruiano o estamo!
- Por que compadre?
- Magina o compadre que arguém tá quereno botá posição!
- Oposição, compadre!... Oposição!
- É... é isso mesmo! Mas num tem nada não! Já tenho meu gorpe preparado pra esse ano!

- Fiquei a rir e saí de perto com medo de que toda aquela doença com dois S me pegasse com Ç, pois fiquem os leitores sabendo com C que João-Sem-Braços com S é a coisa com Z mais contagiosa com J que existe com Z dentro das Câmaras.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
(Post in João Pessoa/PB)