segunda-feira, 26 de julho de 2010

O mansinho

Vivenciano saiu para trabalhar - fingiu - e ficou na moita.

Tinha sido avisado umas 500 vezes:

"Nolita tá de fuzuê com Nélcio."

Demorou a ter dúvidas.

Hoje teve!

Por isto foi pra moita.

E na moita lembrava Nolita: doido por ela, mãe dos três filhos, morena, fogosa, cheirosa, aquela bunda! aqueles peitos! aquela xoxotinha que mais parecia um vulcãozinho em erupção... o paraíso!

Ficou excitado... pensou em desistir, deixar pra lá... seguir a vida.

Mas e Amâncio?

"Vivenciano, fica esperto, a Nolita!..."

Fincou pé!

Pensou: hoje vou fazer merda!

Macho pra caralho, começou a pensar no que ia fazer.

1º pensamento: entro lá, mato o Nélcio e a Nolita e me mato.

2º pensamento: mato o Nélcio, perdoo a Nolita.

3º pensamento: mato a Nolita, perdoo o Nélcio.

4º pensamento: não mato ninguém e deixo como está.

5º pensamento: me mato.

6º pensamento: preciso pensar noutra coisa.

Pensou, revirou, repensou, fuçou, gemeu, engendrou, maquinou.

No que pensava, ele viu Nélcio dobrar a esquina.

Nélcio olhou pra cá, pra lá... o relógio.

Apertou a campainha.

Nolita abriu a porta pela metade, Nélcio entrou.

Ele viu pela brecha da porta o penhoarzinho vermelho, lindo, que ele dera de presente de aniversário para Nolita.

Olhou para a porta que se fechava e teve o 7º pensamento: sem titubear, saiu da moita, entrou no boteco do Arlindo e pediu uma 51.

Enfiou garganta abaixo e pensou no 4º pensamento.

Pediu mais 2 cachaças, sentou-se à mesa do fundo do bar e ficou quietinho.

Feito menino que acabara de receber um castigo da mãe.

Ali ficou...

Levantou os olhos e viu quando Amâncio entrou no bar.

Engoliu, a seco, a 3ª dose de cachaça.

E virou o rosto para não ser reconhecido.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Finiquito

Você já teve um finiquito, embora a palavra não exista no Aurélio?

Sabe o que é finiquito?

O nosso, o que anda na boca do povo?

Pois é!

A gente tem 'um finiquito' por muitas coisas: dívida, esporte, traição, sacanagem, atrasos, cansaço...

Eu estou com um finiquito existencial.

Tô quieto, pensando num texto, com uns 500 na cabeça.

Penso: caralho, não vai dar tempo!

Tipo: morro e não consigo deixar este monte de idéias brilhantes para a posteridade.

E dou aquela chacoalhada interna, um terremoto psicológico... um finiquito!

Melhor dizendo: é como ter um filho aos 90 anos sabendo que você não vai ter tempo de curtir.

É isto!

Ando tendo muitos finiquitos ultimamente.

Ou estou inventado histórias demais, ou estou preocupado com a idade.

É assim!

É como um orgasmo ao contrário.

Acabo de ter um!

E está tudo perfeito... eu não fumo!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Uma bela manhã

Hoje acordei em paz.

Pulei da cama... abri a janela.

Dei de cara com a cidade amanhecendo.

E a orquestra dos elementos em execução.

Os pássaros são um espetáculo à parte!

Não são como nós!

Sempre dão boas-vindas ao dia!

Um bom humor inquestionável!

Bem-te-vis, pardais, pintassilgos, caga-sebos, coleirinhas, canários, lavadeiras, sabiás, rolinhas, bigodinhos, sanhaços, cambaxirras...

E o sol!

Lerdo, morno... lindo!

Jogava sua luz imparcial sobre as criaturas e a superfície do mar.

E se expandia maravilhoso num feixe de luz.

Que ia da praia até a linha do horizonte longínquo.

Sou suscetível à beleza pura.

Ver o milagre da vida na sua forma mais simples me toca o fundo da alma.

É como uma magia... um toque especial de uma mão que sublima.

Fiquei olhando... sentindo.

Me arrepiei, olhei para a imensidão do mundo e percebi o quanto sou privilegiado.

O quanto sou recompensado.

Só por ter amanhecido com esta manhã já não sou o mesmo.

Só por tê-la visto se despindo para o deleite dos meus olhos já valeu a pena.

E por estar presente eu levanto as mãos.

E agradeço a quem de direito por fazer parte disto.

Por estar feliz!

E por estar vivo!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Congelando a cena

Existe um dia que você tem que parar.

Parar tudo!

Congelar a vida... como se faz no cinema.

E ficar fora da cena observando você congelado na cena.

E olhar a sua volta... na cena.

Pensar, reavaliar e como se fosse um jogo de xadrez começar a mexer com as peças da cena.

Este amigo vem pra cá.

Meu filho vai pra lá.

Minha mulher fica aqui.

Boto este emprego aqui.

Mando esse pra lá.

O cachorro ali.

A casa acolá.

Os meus conceitos aqui.

Não ficou satisfeito?

Mexa de novo!

Mude a sua família congelada de rua.

De cidade.

De país.

Bata na porta daquele outro emprego.

Troque de companheiro/companheira.

Deixe o cabelo crescer.

Aprenda a tocar violão.

Vá andar pelo mundo.

Vá organizando a cena da maneira que você achar melhor pra sua vida.

Ou não organize nada!

Vire tudo de cabeça pra baixo!

Bagunce tudo!

Embaralhe!

E comece de novo!

Quantas vezes forem necessárias.

Só assim você dará alguma chance real de um pouco de felicidade pra sua vida.

E dormirá melhor.

E se sairá melhor.

Eu tô tentando.

Todos os dias eu me congelo.

E tento.

E reavalio a cena.

E vou começar a mexer as peças.

A primeira coisa que eu vou fazer é rasgar este post besta.

Que é o que eu faço de melhor na minha vida besta.

De besta mesmo!