segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Passeio noturno

Envolto pela sensibilidade da noite
caminho chutando a sujeira da rua.

Oh, ponte infinita
que liga meu apelo
aos dois extremos da angústia!

Não me interessa esta brisa pura
que vem do fundo do mundo
não me interessam as imagens
que meus olhos fabricam e procuram.

Não me interessa este estrondo agudo
que sai do meu coração
nem tampouco este suor
que me desidrata e molha.

Há muita coisa na noite
pra se lembrar e esquecer
esta noite comprida
de cigarro na boca.

A mulher me convida
com a ponta dos dedos:
não me interessa!
não quero!
Dois minutos atrás matei o amor
e joguei na sarjeta.

Eu não pertenço a esta noite
as outras me reclamam.

O sino bate - nem sei onde -
e dentro de mim bate
uma nostalgia implacável.

TõeRoberto

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Brasil, país do medo

Você quer saber?

Eu não ligava, mas, sinceramente, eu agora comecei a ficar assustado.

É tudo verdade!

A violência de que tanto falam é um fato real... e assustador.

A gente começa a se preocupar com coisas desse tipo quando se transforma em estatística real.

Eu, definitivamente, entrei pras estatísticas da violência no Brasil.

Pode ficar assustado, porque eu e minha família estamos muito envolvidos com as estatísticas.

Vejamos:

Apartamento saqueado em Santos.

Casa depenada em Santos: portas, janelas, vasos sanitários, pias.

1 filha assaltada em São Paulo.

Outra filha assaltada 3 vezes em São Paulo.

Minha ex-mulher vítima por 2 vezes, em São Paulo, de tentativa de extorsão, por motivo de sequestro, por telefone

Minha filha postiça assaltada 3 vezes em João Pessoa.

Meu filho mais novo assaltado 3 ou 4 vezes em João Pessoa.

Eu fui assaltado uma vez em João Pessoa, num bar, com um grupo de amigos.

O cartão de banco da minha companheira foi clonado, levaram tudo o que ela tinha na conta.

E, por último, fui vítima, em João Pessoa, de tentativa de extorsão, por motivo de sequestro, por telefone.

Estamos definitivamente integrados como vítimas do crime no Brasil.

Sair à rua?

Não sei!

Atender telefone?

Deus me livre!

Ter conta em banco?

Difícil!

Tô assustado!

Não queira atender, por telefone, um possível sequestro de alguém da família!

É uma das sensações mais horríveis que tive na minha vida.

Impotência total.

Desespero.

O ser humano subjugado pela prepotência do outro.

Subjugado pelo desespero.

Horrível! Horrível! Horrível!

Torço pra ninguém passar por isto.

Mas não sei não!

Afinal de contas, estamos no Brasil, o país do medo!

E bota medo nisso!

Principalmente quando acontece com você.

Pode acreditar!

A coisa é feia!

E não tem rosto!

TõeRoberto

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Delitos amorosos

Naquela manhã, sem mais nem menos, Maurinha juntou a roupa e... fui!!!

Ledo Álvaro não acreditou.

Ficou ali, boquiaberto, com a xícara de café na mão... sem palavras.

Ouviu a porrada da porta se fechando, colocou a xícara de café na pia, subiu até o quarto, abriu a gaveta, pegou o 38, abriu, verificou se estava carregado - estava - fechou, voltou pra cozinha, terminou de tomar o café - frio -, abriu a porta e desceu a rua com o 38 na mão.

200 m abaixo avistou Maurinha no ponto de ônibus.

Aproximou-se...

Maurinha virou-se, ficou branca; morena que era, e resmungou:

Ledo Álvaro!

O 1º tiro foi na cara, o 2º no peito esquerdo, o 3º no peito direito, o 4º na barriga, o 5º no meio das pernas...

Maurinha no chão, guardou a arma na cintura, subiu a rua, entrou em casa, colocou o 38 em cima da mesa, tomou mais um café, ligou a tv - no Pica-Pau - sentou-se no sofá, ouviu a sirene da polícia e começou a rir com as peripécias do passarinho, como fazia todas as manhãs.

Na mesinha de centro, Maurinha, agarrada ao seu pescoço, sorria num daqueles momentos de extrema felicidade.

E Ledo Álvaro nem aí...

Pra bosta nenhuma!

TõeRoberto

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Escancarada manhã

A escancarada manhã se faz.

E saio à rua tomado de inquietante sensibilidade.

Preciso fazer algo, algo importante para não perder a imagem desta manhã.

Uma fotografia.

Um poema.

Uma melodia.

Uma crônica.

Um guardar a 7 chaves no fundo da memória.

Um sair pelo mundo contando sobre a sua beleza.

Um mergulhar no infinito da sua claridade.

Um encher o peito e se sentir feliz.

Que manhãs assim não acontecem todas as manhãs.

Às vezes uma... ou duas vezes na vida.

Pra muitos, nenhuma!

Pra mim, a primeira!

Que manhãs desta grandeza, Deus, egoisticamente, guarda só pra ele.

E só as libera quando tomado de profunda compaixão, por nós, enche a cara à noite.

E de manhã, ressacado, as deixa escapar, por descuido, pelos vãos dos dedos.

E elas amanhecem para nós.

Com todas as suas sutilezas.

E surpresas.

Graças a Deus!

TõeRoberto

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A tristeza de Anamaria

Não posso culpar Anamaria pela sua tristeza!

Anos e anos juntos e nunca um 'eu te amo!'.

Ou um simples 'gosto de você!'.

Apenas um silêncio pacífico, alguns momentos de alegria, uns afagos 1/2 tímidos nas mãos... ou nos cabelos.

Uma convivência árida, com muitas pedras, poucas águas, muitos desertos, poucas florestas, muitos nãos... poucos sins.

E Anamaria ficou triste.

Levanta-se triste, faz o café, varre a casa, despacha as crianças para a escola, lava a roupa, faz o almoço, lava a louça...

E engole tudo num único e desconfortável momento de tristeza.

E a tristeza do seu amor, antes passiva, vai tomando vida e começa a se esparramar pelos cantos da casa.

Afetou os cachorros, a samambaia da varanda, o programa de humor da televisão... o tempero da comida.

E vai enchendo a casa...

Não há como fugir, é como uma epidemia, algo contagioso que se aloja em todos os cantos da sala, dos quartos, da cozinha, dos banheiros, do chão e do teto.

Não cabe mais na casa.

Começa a sair pelos buracos das fechaduras, por debaixo das portas, pelas frestas das janelas e começa a ganhar a rua.

A tristeza de Anamaria se locupleta, se enche de maior tristeza ainda e começa a se esparramar pela cidade amanhecida.

E toma conta de tudo: da fila da previdência, dos taxistas, das repartições públicas, das escolas, dos transeuntes, dos bancários, dos médicos, das plantas, dos animais... de todos os seres vivos da cidade.

E ganha corpo, ganha vida.

E ninguém percebe o triste amor de Anamaria se alastrando pelas ruas.

Tristes caminham pelas ruas e vão ao trabalho, à procura de emprego, do dinheiro e da felicidade... em busca do amor.

E carregam nas costas a tristeza do amor de Anamaria.

Carregam na alma a minha total negação ao amor lírico, ao amor passional, ao amor de paixão... de compaixão.

E são filhos da minha ausência, do meu 'não me declarar', do meu 'não amar', são filhos do 'querer ser amada' de Anamaria.

E a tristeza avança, toma os trens, os ônibus, os caminhões, os navios e os aviões...

E se espalha...

E vai pelo mundo...

E Anamaria deitada na rede da varanda embala com uma cantiga triste a sua tristeza universalizada.

E eu 1/2 que acariciando os seus cabelos.

Num raro momento de consideração.

TõeRoberto

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Construindo o poema

Assim se faz o poema:

silêncio
papel
pena!

Uma loucura serena
uma alma das plenas.

Nada mais!

Que o resto não é poema!

TõeRoberto

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Pensando na vida

Estou aqui às 22 horas na varanda da minha casa tomando minha cervejinha, pensando na vida.

Não consigo entender por que tenho tantas coisas pra pensar na vida.

Penso todos os dias nas coisas da tal de vida.

Tô enfastiado, esgotado de tanto pensar.

Não entendo!

Você também pensa na vida?

Adianta alguma coisa?

Se adiantasse acho que eu não pensaria na vida amanhã.

Mas não tem jeito!

A primeira coisa que vou fazer depois de acordar é pensar na vida.

E a última antes de dormir!

Acho que a vida é muito egoísta, muito exibida, muito carente.

Exige que a humanidade inteira pense nela todos os dias, sem folga!

Uma pergunta:

Será que a vida é mulher?

Brincadeirinha!!!

TõeRoberto

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Eu, Nena e nossos cachorros

Eu e minha cara-metade Nena somos apaixonados por cachorros... e outros animais.

Isto às vezes incomoda um monte de amigos que frequentam a nossa casa.

Mas, em nome da amizade, eles engolem as lambidas, os pulos no colo, a festa quando chegam à porta da nossa casa.

Até aí tudo bem!

Mas, outro dia, um amigo meu, do peito, que não é qualquer merda na vida; é advogado e jornalista saiu com esta:

"Todas as pessoas que gostam de cachorro do mesmo jeito que vocês precisam consultar um psiquiatra, pois têm sérios problemas mentais".

E me disse ainda:

"Até já dormi com cachorro na minha cama por motivos familiares, mas nunca mais esta porra vai acontecer novamente na minha vida... nem fudendo!".

Fiquei olhando.

Falar o quê?

Ele é uma pessoa extremamente inteligente, formador de opinião, escritor... e tudo mais que há de bom na vida.

Ele deve estar certo, eu errado.

Mas digo uma coisa:

Sou um sujeito que já confiou/acreditou muito na raça humana.

Vivi, sobrevivi, convivi, fiz amizades, alguns desafetos e vou observando de longe o trágico andamento dos seres humanos.

E não sei não.

Meu amigo, como eu disse, pode até estar certo... corretíssimo, mas uma coisa eu digo.

Com o passar dos anos, quanto mais eu convivo com as pessoas mais eu gosto dos meus cachorros.

É inevitável.

Dóceis, animados, amicíssimos, alegres, festivos, graciosos... apaixonados.

E me dirão:

Mas é um animal, a sua irracionalidade, é lógico, o leva a tratá-lo como um ser superior, como um dono, como o único sujeito da vida dele, já que ele não tem opção de escolher outro dono... outro amor.

Concordo, mas este não é o problema.

O problema não é a relação deles para comigo, mas sim a minha relação com eles.

São meus verdadeiros anjos, meus verdadeiros amores!

Entendem a minha linguagem da mesma maneira que eu entendo a linguagem deles.

São fascinantes.

Não os troco por nada.

Que me desculpe o meu amigo do peito.

Os meus cachorros também são os meus amigos do peito.

E não abro mão disto nunca.

Nem que para isto tenha que fazer um tratamento psiquiátrico de 10 anos.

O que não vai adiantar nada.

Porque entre um psiquiatra e os meus cachorros eu fico com os meus cachorros.

Que, com as suas presenças humildes e tranquilas, me fazem entender mais do mundo, das pessoas do que qualquer psiquiatra metido a besta.

Eu amo você de paixão, meu amigo.

Mas também amo os meus cachorros.

Só pra constar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O amor não tem fronteiras

10 segundos foi o tempo que durou aquele beijo.

Míseros 10 segundos!

E bastou!

O tesão, a paixão, o amor, a loucura subiram pelas pernas, foram até o cérebro, se organizaram da maneira mais doida do mundo e desceram pro coração de Leomário.

Lá se fixaram.

E pronto!

Um doido nasceu para o mundo.

Quirinha se afastou do beijo.

Não era bem o que queria/pensava.

Achou tudo um grande engano, se desculpou, pegou a bolsa, se despediu e ia sair.

Leomário foi até a porta, girou a chave, tirou da fechadura e guardou no bolso.

Quirinha questionou.

Leomário olhou apaixonadíssimo para ela.

Ela tentou chegar até a porta, ele barrou.

Ela questionou de novo.

Ele, sem mais nem menos:

Mulher minha não faz o que quer!

Susto, desespero... conversa.

Nada!

Irredutível!

Pra cima, outro beijo.

Não! Não! E não!

Encostada na porta:

Sai!

Não!

O corpo no corpo!

A luta.

Tentativa de sair.

Nada!

A mão no pescoço!

A falta de ar.

Um grunhido... e pronto!

O amor não tem fronteiras.

Tanto nos aproxima de Deus, como pode matar.

Ou pode convidar o diabo para o beijo apaixonado.

Ou para a dança ao luar.

Depende do caso!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Torneios sexuais

Experiências vivas na memória são sempre interessantes de relatar.

Muita gente, às vezes, não gosta disso.

Preferem guardar.

Não gostam de falar de determinadas épocas das suas vidas.

Eu adoro!

Principalmente o que não presta.

E me vem à memória uma coisa que não presta, mas maravilhosa.

Menino, 13/14 anos, Minas Gerais, a sexualidade em plena efervescência; como lidar com isto?

Alguém comeu a prima, outro viu a tia pelada, outro viu o pai comendo a mãe...

Ninguém sabia lidar com essas coisas.

Nem entender nada disso!

Uma loucura!

Meninos mais velhos no meio dos mais novos; gozação, encheção de saco e os famosos torneios sexuais organizados pelos meninos mais velhos e de pinto grande.

Um monte de moleque lado a lado.

A calça arriada, um amiguinho na parada.

Farra pra valer.

Primeiro, o campeonato de tamanho.

O amiguinho passava medindo.

Primeiro mole; depois de tanto ele pegar, duro.

Nem todos endureciam.

Ovacionado o vencedor, era hora da punheta; a 'esporrada' mais longe.

Torcida, risos, vaias.

Sempre fui lamentável em todos os quesitos.

Tanto é que cresci e me tornei o cara que eu conheço mais incompetente com mulher.

Mas nada a ver, só estava lembrando da minha infância.

E agora vou ao banheiro.

Vou bater uma pra ver se alcanço do outro lado do vaso sanitário.

O que eu duvido muito.

Incompetência é doença pra eternidade.

E não tem remédio.

Nem com a ajuda da Sharon Stone.

Ou da Bruna Surfistinha!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Meu amigo Stefan Mantu, o Piga

Hoje estava me lembrando de quando, em 1980, me mudei pra Vila Moraes, em São Paulo.

Estávamos em pleno regime militar, sob o comando do Gal. João Baptista Figueiredo, o último dos fardados a comandar o Brasil.

E fui cair justamente no meio do turbilhão político da década de 80, com as greves dos metalúrgicos do ABC em 1979 e 1980.

E no meio da fundação do PT, em 10 de fevereiro de 1980.

E lá conheci muitas pessoas que, de uma maneira ou de outra, participavam ou conviviam com quem participava do movimento sindical.

Entre eles o meu grande amigo - grande nos dois sentidos: como pessoa e no tamanho; mais de 1,90 m - Stefan Mantu -, o Piga.

O grandão doce, militante apaixonado pelo movimento sindical.

O sujeito que se ferrava pessoalmente pela sua participação no movimento e estava sempre na cabeça das listas negras dos patrões do ABC.

E batalhava pela edição do Jornal "O Trabalho", representante da classe trabalhadora.

Eram festas e festas em sua casa, pra arrecadar fundos para a manutenção do Jornal.

E lá, no meio do agito da militância política, a música corria solta.

O Grupo Acordel, do qual ele participava, e que lançou o disco Acordel, faz parte do acervo musical da boa música de São Paulo.

Arte de primeira linha.

E no meio das discussões políticas - nós, teóricas; ele, na prática - costumávamos atravessar as noites cantando, bebendo, rindo, chorando, brigando... e aprendendo, o que era mais importante.

E nos reuníamos no Boteco da Piranha na Consolação, em sua casa, na casa de outros amigos, no meu apartamento e fazíamos muita poesia... muita música, num tempo em que tudo parecia estéril, onde nada crescia, nada vingava, dada a permanente escuridão em que o Brasil estava mergulhado desde 1964.

E nestas rodadas noturnas conheci muitas pessoas.

Sua esposa Roseli, depois Isa; suas filhas Juliana, Cris e Mariana; Dalva, Sônia, Luiz, Marina, Marlena, entre outros.

O meu amigo compositor, Efraim; Inez, sua esposa; seus filhos Juninho, Claudinha, Carminha e Fabinho; seus irmãos, Adinho e Laurinho.

Com ele compus, como letrista, diversas músicas e fundamos o Grupo Violação, grande vencedor de festivais.

Plínio, Jorge, Cidinha, Goiás Brasil que participaram do Grupo Violação.

E muitos outros dos quais não me lembro agora ou já esqueci o nome, já que se passaram quase 30 anos.

Um tempo importante na minha vida.

E eu me lembrei desse tempo e me deu vontade de registrar.

E fiquei com saudade do meu amigo Piga.

Da sua voz doce ao violão, do seu sorriso tranquilo e dos tempos que éramos todos jovens.

E ainda acreditávamos num grande futuro para a gente sofrida do Brasil.

E achávamos que o PT nos levaria ao paraíso.

Sem a menor ideia de que viveríamos no purgatório.

Com a cara no chão!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sem pena

Quero um beijo frio que me leve à morte
ao meu destino, a minha sorte
te quero nua, sem desejo próprio
trazendo nos lábios o gosto do ópio.

Quero teu corpo, meu sonho/pesadelo
dentro do meu sono derradeiro
te quero desejosamente angustiada
a gemer, de costas, na cama deitada.

Quero te ter uma noite apenas
depois eu morrerei, mas não tenha pena
quero morrer em teus braços, de febre ardendo
não quero sofrer fora deles, vivendo.

TõeRoberto-são paulo/sp-24dezembro1974

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

À procura da poesia

Eu tinha um hobby interessante.

Adorava trepar, a mulher por cima, e eu fumando, bebendo... lendo poesia.

Drummond participou de diversas fodas minhas.

Fernando Pessoa.

Cecília Meirelles.

Pablo Neruda.

Bandeira.

Eu...

Tardes e tardes de Minister, Brahma, poesia... fodas.

Maravilhoso!

Interação total!

Hoje parece que eu me perdi no tempo.

Deixei de fumar, bebo menos, trepo quase nada... e acho que a poesia morreu assassinada na cama de um casal de amantes qualquer.

E veio a AIDS.

A camisinha.

A quase total falta de contato físico.

O sexo pelo sexo.

E o papo de que sexo é a palavra ou o silêncio definitivo dos casais no cio.

Ô decadência!

Ô falta de criatividade.

Ô gente que só sabe subir o pau e molhar a piriquita.

Tem dó!

Cadê o lirismo dos corpos suados?

A beleza da palavra entrando pelos poros?

As almas se fundindo no gozo poético?

Cadê o arrepio pelos gemidos de prazer?

Cadê a lágrima doce que escorria solitária dos olhos da amada?

Sublimada pelo sexo apaixonado.

Pela emoção.

E pela poesia esparramada pelos lençóis amarrotados na penumbra do quarto.

E pelos doces olhos dos amantes.

Hoje abraçados em profundo silêncio.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A ditadura da música ruim

Uma coisa é certa:

Ouvir Beethoven, Tchaikovsky, Wagner, Chopin, Mozart, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Chico Alves, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Elis Regina, Luiz Gonzaga, Caetano, João Bosco... etc etc etc 24 horas por dia seria um saco.

Ninguém merece!

Agora, aguentar Bruno&Marrone, Leonardo, Daniel, Ivete Sangalo, Xitãozinho e Xororó, Zezé di Carmargo&Luciano, Margareth Menezes, Cláudia Leite, Banda Calypso, Gaviões do Forró, Chiclete com Banana... etc etc etc na cabeça o dia, o mês, o ano inteiro é coisa pra se chamar a polícia pra acabar com a poluição sonora.

Ô bando de gente chata!

Ô horror!

Ô ditadura cruel da música ruim.

Os caras mandam nos repertórios das rádios.

Mandam em tudo!

Sou contra tudo&todos?

Não!

Todo mundo tem o direito e merece o seu lugar ao sol.

Só que no Brasil este povo de música ruim ficou com o sol só pra eles.

Não entra mais ninguém!

É negócio fechado!

Um saco!

Bem que poderíamos ouvir todos os dias Beethoven, Tchaikovsky, Wagner, Chopin, Mozart, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Chico Alves, Paulinho da viola, Chico Buarque, Elis Regina, Luiz Gonzaga, Caetano, João Bosco... Bruno &Marrone, Leonardo, Daniel, Ivete Sangalo, Xitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo&Luciano, Margareth Menezes, Cláudia Leite, Banda Calypso, Gaviões do Forró, Chiclete com Banana... e também o Mél, o Viola de Bolso e mais um monte de grandes compositores que não têm a menor chance de participar do mercado musical brasileiro.

Bem que poderia acontecer, não?

Mas o dinheiro sempre fala mais alto.

E cala algumas boas cabeças.

E silencia as boas canções.

É uma pena!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Confissões de uma puta cansada

Caro João, a vida tá foda! Tem 3 dias que eu não durmo, só fudeno. Tô com 2 aluguéis atrasados e o dono do imóvel, aquele viado, não tá mais aceitando piriquita como pagamento. O desgraçado quer em dinheiro.

Não sei como vim parar nessa vida de merda. Sempre fui responsável, inteligente. Tanto é que fiz até o 4º primário, sei ler e sei assinar o nome.

Acho que entrei nessa vida por culpa daquele corno do Zezinho que me enrolou direitinho com aquele negócio de que no cuzinho não tinha problema.

Acabei gostando daquilo e acabei perdendo o cabaço com aquele safado. E daí não parei mais. O Mário, o Carlos, o Manoel, o Roberto, o Anderson, o Carlito, o Marquinho, o Chiquinho da Rita, o Jiló, o Melchíades, o Galego, o Leporácio, o Serjão, o Antenor, o Valdir, o Antônio, o Tiago, o Azevedo, o Fuinha, o Marreta, o Pancadão, todo mundo me comeu. Até que achei desaforo dar de graça pra todo mundo e comecei a cobrar.

No começo eu achava gostoso. Era bom, muito bom! Cada hora uma pica diferente, uma chupada diferente, uma conversa diferente, uma doidura diferente e sempre um dinheirinho na bolsa.

Cerveja à vontade, cigarro, baseado, cachorro-quente na cama, às vezes um carinho... ou um tapão, mas era bom; bom a ponto de fazer carreira, não querer sair mais.

Mas sabe como é. O tempo passa, a formosura vai se acabando, o pique não é mais o mesmo... você vai ficando cansada e acabei tendo que arrumar um emprego aqui com a Dona Chica, que lá fora a coisa estava feia.

Era provisório, mas acabou virando um provisório definitivo. Aqui cheguei, nunca mais saí.

Até que teve uns tempos bons, mas agora mudou tudo. O beréu anda devagar e a coisa tá ficando preta pra todo mundo aqui.

Não sei o que anda acontecendo. Os homens tão raleando, o movimento caiu mais de 50% e o dinheiro tá curto.

Aninha, que trabalha aqui comigo e estuda pra ser advogada, me disse que é culpa da tal de internet. Que a maioria dos homens de hoje gosta mesmo é de ficar vendo mulher pelada nessa tal internet e batendo punheta. Que ficaram acostumados com isto e agora só querem viver na mão.

Aninha me disse que estão começando a esquecer o que é arregaçar a pica com uma mulher gostosa de verdade. E que muitos estão arregaçando mesmo é a pica dos amigos. Ela me disse que na escola dela tá cheio de viado.

É uma merda, não é? Eu não entendo nada disso, mas sempre achei que fuder é bom quando tem um homem, uma mulher ou vários homens e uma mulher, ou várias mulheres e um homem. Mulher com mulher e homem com homem eu nunca gostei muito disso não, porque nunca fui de gostar de viadagem.

Sei lá, tô me sentindo meio sozinha. Parece que ninguém mais presta atenção na minha pessoa e, atualmente, eu tenho aguentado muito bêbado e gente de idade que nem dá mais no coro. Às vezes me dão uma gorjetinha só pra ficarem olhando eu bater uma siririca.

Sorte mesmo teve a Walkíria que casou com o homem dela, o Maurição, o caminhoneiro. Dizem que já tem até filho e casa própria. Também com um rabo daqueles eu já tinha comprado um prédio e arrumado uns 10 maridos.

Eu cansei dessa vida, João. Já devo ter enfiado uns 3 km de pica no rabo, uns 6 na boca e uns 12 na piriquita. Tô num ponto que quando vejo um pinto me dá uma agonia danada, uma vontade doida de sair correndo e gritando! Acho que enfastiei, tô com pinto por aqui.

Eu queria poder voltar pra casa de pai e mãe. Sei que eles estão velhinhos e nunca me perdoaram por ter virado puta, já que eu não tinha necessidade disso.

Converse com eles pra mim, João. Fale pra eles que eu tô fudida. Só que não fala assim, fale de outro jeito que mãe não gosta de palavra feia, nem pai.

Faz este favor pra mim, João. Eu preciso sair dessa vida. Tô cansada! Isso aqui já deu o que tinha que dar, eu já dei o que tinha que dar e já paguei todos os meus pecados, até os que ainda vou cometer.

Ah, e vê se pai e mãe paga a minha passagem que eu tô lisinha de tudo, dinheiro nem pra comprar uma caixa de fósforos!

Faz essa caridade, João!

Da sua sempre amiga Geneilda, que muito te quer.

P.S:

Pra você eu vou abrir uma exceção. Quando chegar aí vou te pagar um boquete.

Um abraço!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ô galeguinha gostosa!

30 dias sem você foram suficientes para entender um monte de coisas.

Sinceramente, eu não existo sem você.

Você é a minha alegria.

Com você fico desinibido.

Amo a vida.

Faço poesia.

Sou romântico.

Com você fico horas e horas sentado, em silêncio, te observando, me encantando, te consumindo aos poucos.

Você é tudo o que eu quero na minha vida.

Você não me faz nenhum mal, pelo contrário.

Ficar sem você durante o dia e principalmente à noite é terrível.

Gosto do seu gosto.

Da sua temperatura.

Do seu cheiro.

Gosto da maneira que você me deixa leve, apazigua aminha alma... me faz sorrir.

Sem você não sou nada!

Apenas um homenzinho chato, solitário, amargo... inseguro.

Nunca mais se afaste de mim.

E nunca mais, minha querida, eu fico 30 dias sem você!

Venha aqui minha cervejinha!

Minha galeguinha gostosa!

Meu amor!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pensamentos grandes e idiotas

Estava pensando seriamente em parar de publicar o Falas da Boca.

Sabe, estes assuntos de trabalho demais, preocupação demais, horário, qualidade, conteúdo... responsabilidade.

Estava pensando em montar um Disk Pizza.

Pensei: é moleza!

Comprar uns troços, jogar os troços em cima do disco de pizza, levar ao forno e ir pro abraço.

Refleti, repensei, ponderei, pesquisei... e me assustei.

Olhe só:

Tinha, numa sentada só, de me transformar em empresário, gerente, administrador, economista, gestor de recursos humanos, cozinheiro, pizzaiolo, comprador, peniqueiro, vendedor, contador, patrão... e empregado de um monte de empresas.

Acompanhar o preço da farinha; qualidade da mussarela; origem do presunto; fornecedor de tomate, cebola, palmito, atum, manjericão, calabresa, bacalhau, um monte de queijos, ovo, pimentão, fermento, azeite, orégano...

Me virar com as despesas com aluguel, energia elétrica, água, gás, telefone, material de limpeza, papel higiênico, manutenção, impostos para o governo, encargos trabalhistas, contador... propina para os fiscais do governo.

Socorro!

Deus me livre!

Não nasci para os negócios!

Não nasci para ser parte da engrenagem maluca da economia do sistema capitalista.

Vou continuar sendo blogueiro.

Que é a única coisa que eu sei fazer.

1/2 que torto.

Mas pelo menos não tenho patrão nem sou patrão de ninguém.

Graças a Deus!

E, ademais, eu morro de medo de trabalhar.

Chega a me dar coceira.

Eu, hem!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Unanimidade burra

Ontem, às 21:15, saí de casa e fui até o posto de gasolina comprar uma cerveja.

Esses vícios noturnos!

4 quarteirões de casas e prédios.

Silêncio na noite, ouve-se o som de algumas casas, de alguns apartamentos.

Assustador!

Todos os sons são da novela da Globo.

Me perguntarão:

E daí?

Daí que eu acho uma verdadeira doidura!

É como se todas as pessoas lessem somente obras do Sartre, vissem somente as pinturas de Salvador Dali, ouvissem somente as músicas do Paulinho da Viola, comessem somente arroz com ovo, bebessem somente batida de coco, convivessem somente com os gatos, amassem somente as lindas, votassem somente numa pessoa, visitassem somente o museu, viajassem somente pra Inglaterra, torcessem somente pelo Palmeiras... assistissem somente um canal de televisão.

Não tem alguma coisa errada?

O grande Nelson Rodrigues dizia: "Toda unanimidade é burra!".

Concordo em gênero, número e grau.

É preciso, com urgência, repensar/diversificar/criar outro segmento de entretenimento para a família brasileira.

Acabar com a falsa regra do "é da Globo é bom!".

Conversa!

A Globo, como todo mundo tá careca de saber, é apenas uma das ferramentas de dominação cultural.

Nada mais que isso.

Só que tem uma grande arma:

Apresenta a todas as pessoas o seu lixo aculturado coberto de purpurina e glamour.

Porque é assim que se faz um país com um povo analfabetamente chique.

Sem senso crítico.

Sem opção de lazer.

E que vive engolindo merda.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amores plurais

Depois da 7ª cachaça Hilderôneo levantou-se, pagou a conta, saiu do bar, atravessou a praça - alto - a cabeça girando como uma roda-gigante, bateu na porta de Sidoneide.

Sildoneide, de camisolinha vermelha, abriu a porta e perguntou:

O que tu qué aqui, Hilderôneo?

Pedir perdão!

Perdão, Hilderôneo, por quê?

Por ter comido Gildelinda!

Tu comeu Gildelinda, Hilderôneo?

Comi, Sidoneide!

Tá perdoado, volta pra tua cachaça!

Fechou a porta na cara de Hilderôneo e correu para o quarto.

Na cama, Gildelinda às gargalhadas, perguntou por Hilderôneo.

Foi tomar mais cachaça pra sossegar o remorso.

Ô ruim!, por que não chamamos ele pra cama?

Doida?

Não, só com dó do nosso homem!

Cale a boca, minha fia, e continue chupando que de macho tô cheia!

E enfiou a cara no meio das pernas de Gildelinda.

Que gemeu baixinho!

Pensou em Hilderôneo.

E sorriu!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Depois da minha morte

Depois da minha morte, que uma coisa fique registrada.

Eu sofri em vida.

Sofri os horrores de sentir.

Sentir ao extremo cada momento da minha vida.

E não ter como, não saber como explicitar os meus sentimentos para o mundo.

E tudo ardia.

Uma grande fogueira queimava o meu coração.

E consumia minha alma em segundos.

E eu não conseguia.

Não conseguia colocar pra fora, vomitar mesmo, aquele momento cruel, duro, torturante... sensível.

Eu tentava.

Um lápis, um papel em branco... uma crônica, um poema apático e sem alma.

E vasculhava os vocabulários.

À procura de palavras que pudessem demonstrar o meu sofrer doído.

Nada!

Nenhum dicionário continha as palavras certas para mostrar o meu sentimento para com o mundo.

Um pedreiro sem prumo.

um mecânico sem ferramentas.

Um cirurgião sem bisturi.

Um jogador de futebol sem pernas.

Um político sem a língua.

Um poeta sem os versos.

Um homem sem som.

Um homem amorfo.

Um coração de vulcão.

Uma alma de furacão.

Uma sensibilidade passional.

Apenas um homem...

Que não conseguiu expelir no mundo a sua efervescência lírica.

A sua paixão desenfreada.

O seu sofrimento pleno.

A sua dor de existir.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Exigências dos tempos modernos

Algumas afirmações dos tempos modernos:

Leite de manhã pode reduzir o apetite.

Caminhar 40 minutos por dia é bom pra saúde.

Não comer picanha gordurosa é o canal.

Comer muita verdura é fundamental.

Não fumar é o que se espera do homem moderno.

Fuder... só com camisinha, ou depois do casamento.

Dormir cedo é bom pra pele.

Academia é uma necessidade do homem/mulher atual.

É impossível viver sem internet.

Sexo é bom pro coração.

Vitamina xy retarda a velhice.

Botox te deixa jovem.

Ser vegetariano é o 'tchã'.

Fique esperta com o seu namorado.

Mulher tá na crista da onda.

Os tempos mudaram, amar a gente aprende na banca de revistas.

Pratique esportes, a inteligência agradece.

Bebida alcoólica, só pra doidos.

Seja feliz, aprenda a entender o seu chefe.

Cirurgia plástica, o canal da felicidade da mulher dos tempos atuais.

Homens e carros, uma receita feliz.

O importante é o trabalho.

Homossexualidade: assuma, hoje é chique.

Chocolate, só se for escondido dos amigos.

Apartamento em 30 anos, o sonho se realiza.

Uma viagem para New York, você vai amar!

Um Honda, ai meu Deus!

Caralho!

Vida maneira a dos tempos de hoje.

Tudo pronto!

Tudo certinho!

Os 'home' tão com tudo.

Só depende de mim.

O sucesso dos caras só depende da minha estupidez.

O resto, segundo a Globo, "a gente se vê por aí".

E vamos deixar de ser gente pra ficar 'chatissimamente corretos'.

Que é o próximo passo da educação de massa...

E a destruição da sensibilidade da raça humana.

E aí, você ainda toma uma cervejinha sem remorsos?

Ou consulta algum manual?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Amor x Ódio

Aposto no ódio, cuspo no amor.

O amor, tá na cara, é doente; o ódio, saudável e promissor.

É questão de lógica: o gigante x o anão.

O amor se esquiva; sobrevive aos trancos&barrancos nos folhetins novelescos.

O ódio é real, está nas ruas; na voz que grita o assalto, na voz de quem pede a esmola, nos olhos de quem exige amor.

O amor se isola e se imola nas conversas dos que já odeiam e pensam amar.

O ódio é correto, cheio de moral.

Não se esconde de nada, ao contrário está sempre disposto a mostrar sua cara, a dar o melhor de si.

O amor se desuniversaliza.

O ódio atravessa as fronteiras, das terras e dos corações.

O amor é lerdo, negocia-se por muito tempo o seu preço.

O ódio é lépido, é de graça, não necessita negociação.

Aposto tudo o que tenho no ódio, até o meu pseudoamor, as minhas esperanças.

o amor não tem futuro.

O ódio é o nosso objetivo.

E não demora o enterro do último ser que amou.

E eu quero estar preparado, com o meu ódio em dia.

Pronto para enfrentar os tempos que virão.

Que não serão bonitos de ver, de viver... conviver.

E muito menos de sentir...

O futuro chumbo negro da alma.

E do coração.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Arroubos juvenis

Em alguma época meu coração se deliciava com a possibilidade de transformar o mundo num lugar melhor.

Parece-me que as injustiças sociais são maiores aos olhos dos adolescentes engajados na luta do bem contra o mal.

Mais velhos parece-me que enxergamos a sociedade com outros olhos.

Talvez com os olhos dos que acreditam que a sociedade - principalmente a brasileira - não tem jeito mesmo.

É má, preconceituosa, racista, egoísta, hipócrita, cínica... filha-da-puta.

Adolescente, então, escrevi um poema de protesto sob a minha ótica de adolescente.

E arrisquei-me, sem conhecer nada de português, a criar palavras que pudessem explicar a minha revolta.

E fiz!

Aí vai o poema Poederno.

Que, naquela época, era a minha paixão.

Desfomeação, poederno, desfomeação
desfomeação antes que seja tarde, desfomeação!

Estamos na rua com nosso poederno
nosso espaço-crise
nossa subsistência
nossa passeética
falsamente entalhado em nossos sorrisos patéticos
porque andamos cronometricamente controlados na rua
feito máquinas
feito marionetes.

Andemos esquizofrenicamente atabalhoados
neuroticamente arrasados
democraticamente ludibriados
esfomeadamente modernizados.

Nossa dieta mental são mil jornais
mil revistas
pressionadamente mentirosos
esteticamente sistematizados nas normas da direção.
Nossos sonhos são previsões estatísticas
graficamente inventadas
matematicamente fabricadas
por computadores humanamente controlados.

Andamos pensando em nos matar
se nós nos matamos
o povo
esta sociedade falida de idéias próprias
aprende a morrer por um ideal secularmente sonhado
e nunca realizado:
a liberdade.

Andamos desgraçadamente esquecidos na rua
esta rua de várias cores
de várias línguas
vários credos
vários sonhos
esta rua nazistamente venerada
socialistamente ideológica
marxistamente utópica
capitalistamente arrasada
por padrões desavergonhadamente falsos
e ultrapassados
que estão graficamente demonstrados e derrotados
na luta do organizar.

Andamos com inflatite nos bolsos desavantajados
andamos com sequestrites políticas
assassinites patológicas
desorganizite governamental
andamos numa rua que é uma dúzia de ovos recém-botados.
Estamos com um caos estampado em nossos passos cansados
pela nossa perturbação massal.
Estamos emocionalmente perdidos nesta entidade destroçada
pelo pensamento tecnológico.

Andamos rastejando nesta rua salarialmente falsa
estruturalmente abalada
deficientemente retratada.
Estamos assistindo à masturbação geral-mental-covarde
de um monte de mentes impotentes
para tirar do corpo desta grande mulher o fogo ardente
que queima aceleradamente
o órgão vital desta vida imensa.

Andamos controlados por pressão remota
andamos russamente abalados
americanamente desacreditados
arabicadamente petrolados
subdesenvolvidamente acorrentados
mundialmente abandonados.

Nossos dólares acabaram-se:
não dão para o ônibus e o bife.
Estamos voltando a pé pra casa:
desgraçadamente esfomeados
revolucionariamente desejosos.

Nossas mulheres sentadas na cama
desgostosamente mal vestidas
fisicamente amareladas
balançam nossos filhos magros e adoentados
esquecidamente adormecidos
friamente desagasalhados
culturalmente semi-analfabetizados
e nos esperam
para mais uma discussão conjugalmente econômica.

Não temos dólares
nem petróleo
nem petrodólares.
Temos vida
somos gente.
Temos fome
frio
sede
anseios.
Temos vontade de viver como homem como mulher.
Temos o universo predestinadamente dividido
e doado
mas eternamente castigado pela força
de falsos deuses
falsos homens.

Andamos pensando em nos matar:
assim os deuses modernos aprendem a compreender
nosso poederno
nossa liberdética
nossa dialética
nossa fome
nosso frio
nossa sede
nossos anseios
pateticamente ludibriados
abandonados
arrasados e jogados nos cofres de aço
de um monte de fanfarrões
ignorantemente cultos
desajustadamente estúpidos
que são os deuses homens que comandam nossas ruas.

Desfomeação, poederno, desfomeação
desfomeação antes que seja tarde, desfomeação!

E pronto!

Quando eu fiz este poema parecia que eu já havia feito a minha parte, cumprido com a minha obrigação social.

Arroubos juvenis!

O buraco é muito mais embaixo.

E de gente bem intencionada o inferno está cheio.

Principalmente de poetas revolucionários.

De revolucionários poetas.

E de adolescentes sonhadores.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Uma ligeira dúvida

Verdade seja dita!

Estou aqui, às 22:29, com a alma na mão.

Se você tem filhos também está, às 22:29, com a alma na mão.

Quantos filhos seus estão na rua nesse momento?

Você sabe onde cada um está?

Estão seguros?

São responsáveis?

Vão chegar inteiros em casa?

Vão chegar vivos em casa?

Um inferno, não é?

Retrato vivo do Brasil.

Pobre de nós, a população!

Sempre na mira das possibilidades.

E com um detalhe: ser bom não é suficiente.

A violência não escolhe perfis.

Simplesmente atua sobre o rico, o médio e o pobre.

Mais sobre o pobre, é obvio!

Mas é inevitável!

Não importa quem somos.

Vamos engolindo nossos medos.

Em silêncio!

Como se nada disso fizesse parte de nossas vidas.

Do nosso dia a dia.

Da nossa agonia.

Ledo engano!

Estou aqui, às 22:35, pensando em meus filhos que estão na rua.

E você?

No que pensa?

Ao longe, gritos, tiros... sirenes.

Viro-me na rede, sinto uma angústia no peito... e estremeço.

Logo eles chegarão, é o que o meu coração pensa.

E implora!

Com uma ligeira dúvida.

E você?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Saudosismo

Querido diário:

Hoje amanheci 1/2 que saudoso.

Saudoso dos meus tempos de menino lá em Minas Gerais.

Saudoso do meu carrinho de rolimã, do meu estilingue, da minha bola, do time da rua de baixo, dos meus heróis, do poço do Seu Delorenzo, do meu cavalo de cabo de vassoura, dos meus amigos que já se foram, de andar na chuva, de pescar, de apanhar goiaba no pasto, de acompanhar a chegada e a saída do velho Mogiana na estação, dos meus gibis, das minhas bolinhas de gude, da matinê dos domingos, do arrozinho com feijão da minha mãe, do pinicado da viola dos meus tios, dos passarinhos cantando na mangueira... saudoso, enfim, da minha vida daqueles tempos.

Saudoso ao ponto de sentir um nozinho na garganta.

Amanheci pensando nestas coisas que, hoje, parecem não ter mais importância pra ninguém.

Ninguém mais perde tempo com essas besteiras.

E elas ainda me tocam.

Me invadem à noite.

Na madrugada sonhei com minhas viagens interplanetárias.

Com o meu esconderijo no fundo do mar, que continua no mesmo lugar da minha infância.

Bati o maior papo com o Cacique Touro Sentado.

Lutei com o Capitão Gancho, na Terra do Nunca.

Tomei um cafezinho com o Flash Gordon.

Almocei com o Capitão Nemo.

Conversei com Alice, no País das Maravilhas.

Visitei a caixa forte do Tio Patinhas.

Afaguei a Lassie.

Brinquei com os 7 Anões.

Cavalguei no Tigger, o cavalo de Roy Rogers.

Fugi da Bruxa Malvada.

Naveguei com o Barba Roxa.

E acordei iluminado, sem a barba, sem as cicatrizes da vida...

E saudoso!

Saudoso daqueles tempos que não voltam mais.

Das belas histórias que não existem mais.

Daquela criança que eu não sou mais.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A manhã que não amanheceu

Hoje de manhã levei o maior susto.

Acordei, levantei, lavei o rosto, abri a janela do quarto e lá não estava: era de manhã, mas o dia não havia amanhecido.

E o pior: o dia não era ontem, nem anteontem, nem hoje... era dia nenhum.

Era um vácuo, um nada abstrato, um não clarear, um não ter sol, num não ventar, um não ter como sair à rua, pegar o ônibus, ir à praia, ir trabalhar.

Era um não-dia, um não-amanhecer, uma não-existência.

Da janela eu observava sem observar o dia que não havia amanhecido.

Liguei o rádio, sem som; liguei a tv, sem imagem; tomei o café, sem gosto; tomei a água gelada, sem gelo, falei comigo mesmo, sem voz; esmurrei a porta, sem dor; tentei sofrer, sem sofrimento; tentei chorar, sem lágrimas.

Nada, a vida naquela manhã não amanhecida era um completo vazio de vida, um completo não existir de existência, um completo não amanhecer de amanhecimento.

Procurei no vazio sem horizontes um sinal de que me indicasse o sonho, o pesadelo metafórico da negação da continuidade da vida.

Nada!

Nem um minúsculo ponto de esperança na tela inexistente da manhã não amanhecida.

E senti sem sentir que eu também não havia amanhecido.

Que me encontrava no limbo entre um momento qualquer da minha existência e a manhã não acontecida.

Que me encontrava na fronteira entre o ser e o não-ser.

Um ser-não-ser metafísico aprisionado na sua própria negação da vida.

Na sua própria atitude de correr atrás do rabo... eternamente.

Sem a menor possibilidade de seguir em frente.

Na turbulência lírica da ausente manhã não amanhecida.

TõeRoberto

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A respeito de manhãs

E, de manhã, o mar estendia o seu manto verde até a linha do horizonte.

Olhei... mergulhei.

E fiquei pensando:

Mais de 30 anos trabalhando em regime fechado, tipo penitenciária remunerada.

Enquanto a beleza desta manhã acontecia todos os dias.

E eu ausente.

Nem sequer sabia que existiam tantas manhãs.

Porque enquanto trabalhava nunca olhei uma manhã da maneira como olhei a de hoje.

Apenas olhava.

Naquele tempo eu não enxergava.

E fiquei triste.

Os homens estão cada dia mais idiotizados, imbecilizados, vulgarizados...

E se afundam, com avidez ímpar, na guerra pelo dinheiro, pelo poder, pelo nem sei o quê.

E esqueceu que as manhãs acontecem todos os dias.

E eles morrerão sem vê-las.

E se acharão o máximo.

Porque julgam que fazem coisas importantes.

Mas são apenas prisioneiros da prisão invisível chamada rotina.

São prisioneiros no lado inverso da vida.

Onde os tolos fixaram residência.

E se tornaram cegos.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Reminiscências

Éramos grandes naquela madrugada sem nome.
A garoa cantava firme sua canção de molhar.
Uma luz apática, quase morta,
nascia de nossos dois pares de olhos negros
de noite vazia
de noite sem o bocejo luminoso de estrelas
sem despontar de lua.

Éramos dois naquela noite vampiresca
naquela noite desprovida de expectativas.
Foi quando a carruagem passou
trazendo na boleia colorida
o fantasma de Marta
há muito tempo adormecida.

Veio-nos Guaranésia:
o pique, machucados;
o mocinho, esconderijos;
a cabra-cega, os postes.

Somos três marinheiros - agora dois!
Que vieram fazer?
- Combater!
Combate um pouquinho pra eu ver?

E combatíamos naquela noite sombria
sem elos de presente
sem necessidade de futuro
o que até aquela data
não importava pra nada.

O poeta, na noite, só amava a poesia...
amava o poema
e deliciava-se com suas perfurações terrenas
a embrenhar-se pelos corações solitários.

E depois a luz se fez
e nada se fez de nada
e nada se transformou em nada
e tudo continuou na vida
a relembrar nossas lembranças
da Guaranésia antiga
das nossas vidas antigas
naquele tempo esquecidos.

E choramos baixinho
na manhã que se fazia
como dois bichinhos perdidos
no tempo das nossas vidas.
(Cássia/mg)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O pequenino grande homem

Ontem na rua observando um senhor de seus 70 e tantos anos - catador de papelão - lembrei-me de um poema que escrevi há muito tempo para outro senhor de 70 e tantos anos - catador de papelão - em São Paulo.

Parece que o tempo não passa, os homens não mudam, o Brasil se repete... a miséria se acentua.

Parece até o mesmo velhinho de 20 e tantos anos atrás.

Acho, que no fundo, eu também sou o mesmo de 20 e tantos anos atrás.

A olhar, impassível, velhinhos catadores de papelão.

E a única coisa que faço é escrever um poema... ou outro.

Apenas para me sentir menos culpado.

E dizer: tá vendo, eu me preocupo?

Será?

O poema:

O grande homem
não nasceu para ser grande
nasceu para ser visto de longe
e ser pequenino como os astros
do universo.

Nasceu,
deste feto,
velho
trabalhou ainda criança a montanha
deu o amarelo ao trigo
o verde ao milho
o tubérculo a terra
deu forma ao mármore
consistência ao aço
construiu com os pés cansados
todos os trilhos
e nunca dormiu em berço esplêndido
nem com Cleópatra
nem com Marilyn
nem com Brigitte
nem com a mulher
de qualquer joalheiro
ou burguês respeitável.

Fortaleceu sim a força
que as sustentava
confeccionou-lhes os brilhantes
as sedas
os linhos
os sais de banho
os braceletes de ouro
e não passou de um cão esfomeado
pelas ruas e casas que construiu.

Nunca bebeu do bom e vermelho vinho
que seus pés amassaram
e suas mãos transportaram
mas ergueu as parreiras celestes
do deus Baco ainda nos tempos antigos
e do deus inglês
do deus francês
do deus americano
do deus russo
isto já nos tempos mais novos
e sempre viveu rodeado
de deuses sorridentes
que lhe castigaram
por um pedaço de pão
deceparam-lhe os testículos
por uma ideia
e esquartejaram-no por querer mais.

Nunca sonhou um sonho grande
nem pode conhecer Roma
Paris
New York
como um turista qualquer
mas sempre conviveu com elas
como um rato empesteado
comendo-lhes o lixo das entranhas
varrendo-lhes as ruas
com seu estômago de ferro.

Nunca foi além do que lhe deram
nunca comeu de manhã o pão macio
e nem sugou suavemente
o leite branco e quente
da vaca que ordenhava.

Olhou o universo e construiu pirâmides
ao som da chibata e de mil ordens
e nunca chegou ao céu.

Construiu o avião
e nunca esteve nele
sentindo como se supõe
a sensação de liberdade.

Depois construiu foguetes
com a força de seus braços
fê-los atômicos
e nunca soube o que era isto
e nunca soube
que na lua meteram uma cerca
proibindo-lhe a entrada
do mesmo modo que fizeram
aqui na parte de baixo.

Foi sempre além do que pensaram
porque com as mãos sangrando
os pés doentes
comeu poeira de estanho
sentiu o urânio na carne
e viu os seus olhos verdes
aos poucos se esbranquiçarem.

Nunca foi ele mesmo
e nunca pensou que seria outro
e nem no medo que impõe.

Foi criança através do tempo
brincou com a vida
de pique
de ciranda
de gente que comia
depois foi à guerra
lutou em vários idiomas
venceu
perdeu
matou
morreu
e mesmo matando ou morrendo
na outra manhã renasceu
porque de força e eterno
é a sua consistência.

Sofreu sentença de morte
foi enforcado no Tibete
fuzilado em quito
queimado vivo em Hong Kong
empalado na Pensilvânia
e nunca sentiu a dor
como uma forma de vingança.

Pensou-a injustiça
pensou-a justiça
e nunca sua cabeça mágica
pode imaginar
que sempre foi uma vítima.

Foi sempre o cão magricelo
que sempre através dos tempos
lambeu os pés de Napoleão
beijou as mãos de Ramsés
engordou o latifúndio e a indústria
como se eles fossem
a sua própria pessoa.

Foi traidor e traiu a si mesmo
foi herói lutando por ele mesmo
matou ou defendeu um amigo
matando e defendendo a si mesmo.

Foi homem
ainda é homem
sempre será homem
o grande e pequenino homem
que um dia vai despertar
de sua letargia histórica
e caminhará ainda como homem
por cima dos edifícios
das pontes
dos milharais
por cima dos fuzis
das bombas
dos tanques
por cima dos porcos
dos bois
dos leões
por cima das indústrias
do latifúndio
do comércio
por cima dos reis
da história
por cima da vida
da morte
e de si mesmo
e esquecerá para sempre
eternamente
os duros tempos
de subserviência.

Para todo o sempre!

O poema é apenas um desafogo de uma consciência pesada.

É apenas uma maneira de eu me desculpar com o mundo marginal que me cerca.

É apenas mais um poema no meio de tantos.

Que ninguém vai ler.

Ou se importar.

E que não serve para nada!