segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Passeio noturno

Envolto pela sensibilidade da noite
caminho chutando a sujeira da rua.

Oh, ponte infinita
que liga meu apelo
aos dois extremos da angústia!

Não me interessa esta brisa pura
que vem do fundo do mundo
não me interessam as imagens
que meus olhos fabricam e procuram.

Não me interessa este estrondo agudo
que sai do meu coração
nem tampouco este suor
que me desidrata e molha.

Há muita coisa na noite
pra se lembrar e esquecer
esta noite comprida
de cigarro na boca.

A mulher me convida
com a ponta dos dedos:
não me interessa!
não quero!
Dois minutos atrás matei o amor
e joguei na sarjeta.

Eu não pertenço a esta noite
as outras me reclamam.

O sino bate - nem sei onde -
e dentro de mim bate
uma nostalgia implacável.

TõeRoberto

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Brasil, país do medo

Você quer saber?

Eu não ligava, mas, sinceramente, eu agora comecei a ficar assustado.

É tudo verdade!

A violência de que tanto falam é um fato real... e assustador.

A gente começa a se preocupar com coisas desse tipo quando se transforma em estatística real.

Eu, definitivamente, entrei pras estatísticas da violência no Brasil.

Pode ficar assustado, porque eu e minha família estamos muito envolvidos com as estatísticas.

Vejamos:

Apartamento saqueado em Santos.

Casa depenada em Santos: portas, janelas, vasos sanitários, pias.

1 filha assaltada em São Paulo.

Outra filha assaltada 3 vezes em São Paulo.

Minha ex-mulher vítima por 2 vezes, em São Paulo, de tentativa de extorsão, por motivo de sequestro, por telefone

Minha filha postiça assaltada 3 vezes em João Pessoa.

Meu filho mais novo assaltado 3 ou 4 vezes em João Pessoa.

Eu fui assaltado uma vez em João Pessoa, num bar, com um grupo de amigos.

O cartão de banco da minha companheira foi clonado, levaram tudo o que ela tinha na conta.

E, por último, fui vítima, em João Pessoa, de tentativa de extorsão, por motivo de sequestro, por telefone.

Estamos definitivamente integrados como vítimas do crime no Brasil.

Sair à rua?

Não sei!

Atender telefone?

Deus me livre!

Ter conta em banco?

Difícil!

Tô assustado!

Não queira atender, por telefone, um possível sequestro de alguém da família!

É uma das sensações mais horríveis que tive na minha vida.

Impotência total.

Desespero.

O ser humano subjugado pela prepotência do outro.

Subjugado pelo desespero.

Horrível! Horrível! Horrível!

Torço pra ninguém passar por isto.

Mas não sei não!

Afinal de contas, estamos no Brasil, o país do medo!

E bota medo nisso!

Principalmente quando acontece com você.

Pode acreditar!

A coisa é feia!

E não tem rosto!

TõeRoberto

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Delitos amorosos

Naquela manhã, sem mais nem menos, Maurinha juntou a roupa e... fui!!!

Ledo Álvaro não acreditou.

Ficou ali, boquiaberto, com a xícara de café na mão... sem palavras.

Ouviu a porrada da porta se fechando, colocou a xícara de café na pia, subiu até o quarto, abriu a gaveta, pegou o 38, abriu, verificou se estava carregado - estava - fechou, voltou pra cozinha, terminou de tomar o café - frio -, abriu a porta e desceu a rua com o 38 na mão.

200 m abaixo avistou Maurinha no ponto de ônibus.

Aproximou-se...

Maurinha virou-se, ficou branca; morena que era, e resmungou:

Ledo Álvaro!

O 1º tiro foi na cara, o 2º no peito esquerdo, o 3º no peito direito, o 4º na barriga, o 5º no meio das pernas...

Maurinha no chão, guardou a arma na cintura, subiu a rua, entrou em casa, colocou o 38 em cima da mesa, tomou mais um café, ligou a tv - no Pica-Pau - sentou-se no sofá, ouviu a sirene da polícia e começou a rir com as peripécias do passarinho, como fazia todas as manhãs.

Na mesinha de centro, Maurinha, agarrada ao seu pescoço, sorria num daqueles momentos de extrema felicidade.

E Ledo Álvaro nem aí...

Pra bosta nenhuma!

TõeRoberto