segunda-feira, 30 de junho de 2008

OS TRISTES

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Vou baixar um decreto para a minha vida:
.
- Vou excluir gente triste da minha convivência!
- Eu quero distância de gente triste.
- Vou deixar os tristes com a sua tristeza.
- Os tristes com a sua solidão.
- Os tristes com as suas manias de entristecer as tardes... e os amanheceres.

- Gente triste é como erva daninha: onde nasce toma conta de tudo, se sobressai com a sua feiúra e o seu poder de destruir os momentos inesquecíveis.

- Para os tristes a vida é só dificuldade:
- É doença.
- Fracasso.
- É não ter sentido.
- É todos os dias serem cinza.
- Os tristes não enxergam o sol.
- A amor é um fardo.
- A música, tortura.
- O dia-a-dia impossível.
- Os tristes vivem nas cavernas escuras das suas infâncias reprimidas.
- Daquela família triste.
- Aquelas regras tristes.
- Aquele não poder nunca.
- Aquele não sorrir para sempre.

- Os tristes não sorriem; às vezes apenas riem por conveniência ou por estarem nervosos.

- São críticos ferozes "da alegria", "dos alegres", "dos fúteis", "destas pessoas que vivem rindo", "destas festas", "destes cantos sem motivos", "destas pessoas que vivem a vida de maneira irresponsável", "dos sem-vergonhas".

- Os tristes são um fardo.
.
- É pesado conviver com os tristes.

- Os tristes deveriam fazer um favor a si mesmo e aos outros.
.
- Deveriam ficar reclusos na sua solidão.
.
- Não deveriam espalhar voluntariamente sua tristeza para a vida.

- Ser triste é triste.

- Exclua os tristes da sua vida.
- Eles nos fazem mal.
- Eles enxergam a vida de uma maneira cruel.
- Não existe vida boa nem gente boa.
- Tudo é feio e tem um motivo sórdido para existir.
- Vivem num mundo escuro.
- Não conhecem a beleza.
- Os tristes são seres que transitam entre a vida e a morte.
- Entre a luz e as trevas.
- Entre você e a felicidade.
- Os tristes não amam, odeiam.
- Os tristes são passionais.
- Têm as asas de cera.
- O coração de gelo.

- Os tristes nos deixam tristes.
.
- E tristeza só é bom quando temos um motivo muito triste para ficarmos tristes.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 29 de junho de 2008

MEU CANTO, AMADA...

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Meu canto, amada,

passeia pela cidade sem alma
e descansa no porto.

A fome, embrutecida mulher,
discursa calma na periferia do porto
e espalha com pressa
sua doce mentira.

O trigo não alimenta,
ele abastece de ouro o estômago dos navios
e derrama o suor salgado do homem
no oceano de sal.

Ao longe, amada,
os guindastes transportam
o sofrimento humano
em pesadas cargas.

Os navios, criaturas pré-históricas,
chegam e partem
trazendo e levando em cada saco,
em cada container,
um pedaço de alma,
um pedaço de corpo.

E ninguém se importa.

Ninguém percebe o sofrimento duro
que os navios transportam.

Os homens procuram comida.
(uns nos bares, outros nos lixos)
e comem suas feridas estampadas no bife
e no pão amanhecido.

Estou apreensivo, amada,
amargurado e pensativo,
sentado no cais infinito.

Não penso em navios,
nem em trigo
nem em feridas.

Penso na alma dos homens,
suas vidas tristes,
seus olhos sem ritmo,
seus corpos anfíbios.

Penso neles, amada,
e no espelho das águas,
à beira do cais,
sou um deles
a vigiar navios.

Ah, amada,
como sou patético
a contar navios e navios
de sofrimento humano,
como quem conta estrelas.

E o que importa isso?
Nada os detém.
Nada os intercepta.

Longe, agora pequeninos,
eles avançam nas águas
carregados de dores
e sem qualquer importância
caem um a um
no abismo azul e profundo
do horizonte sem fim.
(Santos/Sp-29Junho1996/13:10hs/Sábado)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 28 de junho de 2008

ERISÔNIA MARILYN

ELA&EU

- Podia jurar que era Erisônia Marilyn que estava aos beijos na esquina da boate.

- Alguma coisa doeu!

- Entrou no primeiro bar que encontrou e bebeu até de madrugada.

- Alma lavada, saiu pela rua cantarolando El Dia Que Me Quieras.

- Ao longe o galo soltou a sua risada de deboche.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 27 de junho de 2008

O PINTA-BRAVA

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Outro dia eu estava em um forró, numa barraca de praia.

- Um grupo executando um forró pé-de-serra de boa estirpe.

- Estava olhando o sanfoneiro - forrozeiro nato - e me lembrei de um falar que existia em Minhas Gerais nos meus tempos de criança:

- Fulano é Pinta-Brava!

- Comentei com Mél: coitada da mulher deste sanfoneiro, o sujeito é Pinta-Brava! Ele pertence ao forró.

- É só olhar:
- O sujeito é um condor sobrevoando as montanhas.
- Um búfalo nas pradarias do velho oeste americano.
- Um tubarão cortando as águas do oceano.
- Um carioca assistindo a um FlaFlu.
- Um brasileiro que ganhou a mega-sena.
- É um homem livre.

- O gingado do corpo, o manuseio da sanfona, a voz, o sorriso, a simpatia nata, o jeito com as mulheres, o repertório colocam o sujeito numa noutra esfera.

- Não é um sujeito comum.
- Não nasceu para fazer contas em bancos.
- Usar a picareta na rua.
- A enxada na roça.
- A caneta no escritório.
- O bisturi no hospital.
- A voz na tribuna.
- Não nasceu para fabricar bens.

- Nasceu para tocar sanfona.
- É um xifópago.
- Nasceu grudado com ela.
- Nasceu para fabricar sonhos.

- São carne&unha.
- Romeu&Julieta.
- Tristão&Isolda.
- Marco Antônio&Cleópatra.
- Mar&horizonte.

- É um sujeito fora das leis do universo.
- Não é pobre nem rico.
- É apenas um sujeito com o seu ritmo.
- Com a sua música.
- A sua alma despojada de tristeza.

- Vive acima dos vis mortais que - sem importar a idade - encantados com a sua magia dançam, cantam, pulam e se rendem aos encantos de um homem que nasceu para sublimar.

- Domingo eu vou de novo.

- Quero me render aos encantos do Pinta-Brava.

- E reencontrar o meu ritmo - que há muito tempo perdi!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 26 de junho de 2008

O MAR NÃO SATISFAZ AS AVENTURAS...

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

O mar não satisfaz as aventuras

nem a ventura de cavalgar
pelo seu dorso.

Preciso mais,
talvez dez mares acorrentados
aos meus pés
em silêncio
sem gaivotas, sem marés.

Eu quero muito
estou tão vago
tão vazio e tão profundo
que o eco da memória
me assusta.

Eu quero mares
ou estrelas, ou desertos
(desertos não!)
que estou pleno de aridez.

Eu quero muito
muito mesmo desta vida
eu quero tudo que preencha almas vazias
eu quero cosmos
quero sóis
quero infinitos
eu quero amores
quero ódios
violências
mas quero algo em que acredite
e me dê forças
pra acreditar que as aventuras não morreram
e que a ventura de viver não é só um fardo
que carrego pelas tardes feito o asno
que não percebe que sua carga é impossível.
(Santos/Sp-05:09hs/Terça-feira)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 25 de junho de 2008

O PÁSSARO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- O Pássaro estava lá - no alto - planando - pipa de menino que sonha um dia ter asas.

- Majestoso, enorme, imponente - quase que parado no ar sobre a praia do Tambaú.

- Observava.

- Com sua magnitude me observava.

- Eu também o observava.

- Um acompanhava o outro: ele com as asas - eu com minhas raízes.

- Observei que a única diferença entre ele e eu - além da sua beleza, do seu senso de liberdade e da sua leveza era a certeza de que todos os horizontes do mundo são os seus alvos.

- Aqui embaixo mal vejo os horizontes e tenho a minha vida presa às questões menores que nada têm a ver com beleza, liberdade, leveza e muito menos com certeza em relação a alguma coisa.

- Ele, em sua plenitude, é apenas um Pássaro; eu, na minha pequenez, sou apenas um homem... um Pássaro ao contrário.

- Nasci com o dom das asas, mas os pesos da vida plantaram os meus pés no chão - e as raízes nasceram.

- As asas enfraqueceram e hoje construo máquinas para voar.

- E íamos pela praia.

- No que pensaria o Pássaro?

- Creio que só me admirava tomado de profunda compaixão.

- Um ser tão iluminado deve ser capaz de humana humanidade.

- Eu o observava.

- De repente acho que ele se cansou de mim.

- Acho que percebeu que eu não valia a pena.

- Voou mais baixo, me encarou e num vôo rápido, rasante, disparou como uma flecha rumo ao horizonte azul do mar de João Pessoa.

- Eu fiquei ali - parado - frustrado, com dó de mim mesmo.

- Fiquei olhando sua trajetória até que ele rasgou a parede do horizonte e desapareceu no meio da grandeza do mar.

- Ali sozinho senti como sou nada diante da grandeza infinita das criaturas aladas.

- Das criaturas livres!

- Dos seres maiores!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 24 de junho de 2008

AMORA PÂMELA

ELA&EU

- Ah, Amora Pâmela, sempre fui apaixonado pela paixão!

- Não tenho 1/2 termo, ou pulo de cabeça no abismo inesgotável da loucura, ou bebo até cair de 4 e tento me matar com o sofrimento dos que não têm no peito a fonte do fogo da paixão.

- Por Anaximandra Nicole, minha 1ª paixão, eu viajei pelas estrelas.

- Por Fidalguina Amorosa, minha... não sei que paixão, eu babei feito cachorro louco.

- Por Austriquiniana Margareth, eu perdi o sentimento da leveza e a noção de livre-arbítrio.

- Por você, Amora Pâmela, eu viajei pelas estrelas, babei feito cachorro louco, perdi o sentimento da leveza e a noção de livre-arbítrio e outras coisas mais.

- Por você eu me mudei da vida, fechei os olhos para os horizontes e apaguei no peito a fonte de todas as minhas outras futuras paixões... e me acabei!

- De paixão, Amora, na minha vida só sobrou você... e estou apaixonadamente apaixonado pela paixão que ainda vai me matar.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 23 de junho de 2008

MINHA CABEÇA

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Você não faz a menor idéia do que tenho dentro da minha cabeça.

- Não faz a menor idéia do meu acervo pessoal - do que vai morrer comigo quando eu parar de respirar.

- Tem idéia dos prazeres, das alegrias, dos horrores, das tristezas... de tudo, enfim, do que sou feito?

- O arquivo pessoal de um homem é algo espantoso e assustador - não deveria morrer com ele.

- Fosse eu um HD e você acessasse, ficaria eufórico e horrorizado:

- Fotos, textos, falas, montanhas, praias, rios luares, pores-do-sol, comidas, pessoas, esportes, crianças, flores, frutos, florestas, festas, risos, bebidas, paixões, amores, abraços, carinhos, afetos, risos, sonhos... testemunhas plenas de toda a parte boa da vida de um homem.

- As guerras da Coréia, Vietnã, Iraque I, Iraque II, Afeganistão, Líbano, Malvinas; fome, terremotos, maremotos, secas, inundações, ira, vingança, mágoas, rancores, tragédias, dores, mortes, torturas, traições, violências, egoísmos... testemunhas plenas de toda a parte ruim da vida de um homem.

- Este é o fardo que carrego vida afora: o meu testemunho vivo da riqueza cruel da dualidade do ser humano.

- Às vezes a parte boa me toma e me faz vivenciar um belo final de semana ao lado daqueles que eu amo.

- Outras vezes a parte má vem à tona e declaro guerra ao meu vizinho, à minha esposa, aos meus filhos... aos meus amigos.

- Às vezes declaro guerra a mim mesmo.... às vezes faço um tratado de paz e ergo um muro entre as minhas duas metades.

- E vou, aos trancos e barrancos, carregando na consciência o peso da minha culpa e a leveza da redenção dos meus pecados.

- E digo a quem estiver disposto a ouvir: nesta vida maravilhosa e cruel não existe ninguém inocente... nem culpado!

- Só existem os tolos que acreditam no bem e no mal... como eu.

- O que não me impede de lhes dizer: você não faz a menor idéia do que tenho dentro da minha cabeça.

- Só posso dizer que pesa, dobra a minha coluna, mas também me faz flutuar e deixa minha alma branca... pura.

- Sou apenas um homem falando sobre a memória da sua vida.

- Nada mais, nada menos!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 22 de junho de 2008

AH, SERENA LOCURA!...

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Ah, serena loucura!
Contemporânea dos meus filhos
mãe das adversidades.

Sozinho te procuro entre os escombros
da cidade adormecida.
E já não te encontro.

Carne e concreto se fundiram
e a sombra do furor se diluiu
na fumaça dos teus olhos.

Ah, cálida loucura!

Senhora dos meus gestos
caminho dos meus sonhos!

Estás perdida.
Sozinha, no meu ego
és um lamento esquecido.

E sou teu!
Comandas a mim com tua paz

e às vezes te confundo com a alma
e me ajoelho à procura do perdão.

Ah, etérea loucura!
A morbidez da tua fala
é o meu discurso.

E falo pela noite sem platéia
e os aplausos me projetam
ao teu encontro.

Meu desejo é mordiscar a tua boca
e chupar a tua língua com a língua
e gozar o teu segredo de mulher.

Ah, sublime loucura!
Somos dois tolos:
eu, por amar o teu silêncio
tu, por me amares em silêncio.

Mas somos um e isto basta.
Juntos, caminhamos pelas veias

pelos nervos e intestinos da cidade.

E vamos rindo!
Como é boa esta harmonia
entre o ser e essa besta alucinada.

Ah, suposta loucura!
Como te amo!
E nem percebes quão patético me tornei
pra convivermos com clareza nosso caso.

E nem te opões
quando procuro destruir tua presença
mesmo querendo que em eterna
te transformes.
(Santos/Sp-14novembro1995/09:23hs/Terça-Feira)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)

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sábado, 21 de junho de 2008

IZICLEIDE SERENA

ELA&EU

- Ah, Izicleide Serena, hoje não tô de papo!


- Quem manda sou eu... e pronto!

- É bom você continuar lavando as minhas cuecas... em silêncio!

- ???????!!!!!!!

- Ah, Izicleide, você sabe que, de vez em quando, eu gosto de bancar o engraçadinho!


(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 20 de junho de 2008

O BOLERO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- A música:

"Tanto tiempo disfrutamos este amor
nuestras almas se acercaron tanto asi
que you guardo tu sabor
pero tu llevas tambien sabor a mi..."

- Definitivamente! Na outra encarnação eu fui puta!

- Porque vou te dizer uma coisa: vai gostar assim de um bolero lá não sei aonde!

- A qualquer hora o bolero me inflama, me leva pra dentro da noite, aos bares escuros dos becos, à fumaça negra do cigarro - no ar - às bocas pintadas passionalmente, aos passos da dança suave que me faz flutuar.

- O bolero me faz vivo, entra no peito - onda de calor - esquenta o coração e faz doer aquela dorzinha escondida nos cantos dos anos.

- O bolero nos dá a fêmea volátil, aquela de doer os cornos, fazer nego beber, soluçar e se matar na base do prozac e da punheta.

- O bolero e a fêmea se entrelaçam aos olhos notívagos da nossa eterna boemia - o terno de linho - branco - a cachacinha tomada a conta-gotas à luz dos mistérios da lua, ao som da orquestra suicida que queima com suas notas melancólicas a alma inocente da noite.

- O bolero me mata aos poucos, me afunda no buraco negro dos meus amores esquecidos, me engasga com os sessenta cigarros que já abandonei e me afoga na cerveja tomada aos montes nas madrugadas insones.

- Já fui puta - isto eu tenho certeza - porque ao som do bolero me vem às narinas o cheiro dos perfumes baratos, o odor dos suores fétidos dos homens do porto, o toque da cédula de U$20, o estalo do tapa no rosto, o gosto salgado das lágrimas na ponta da língua e a angústia da solidão sem fim.

- O bolero é o meu limite entre o viver e o existir. O bolero é a minha alma, a minha cólica renal, a minha dor de dente, a minha dor de cotovelo, o meu tesão pelo que não fui.

- Deixe o bolero fluir ao som do vento e, no silêncio da noite, deixe o bolero trazer em suas mãos atormentadas a possibilidade dos amores que choram em silêncio, nas notas da melodia, as suas dores mais lindas.

- Deixe o bolero sofrer no fundo passional dos seus amores brutos.

"Pasáran más de mil años muchos más
yo no sé si tiene amor la eternidad
pero hoy tal como ayer
em tu boca llevarás sabor a mi..."

- E vista o seu terno de linho - branco - e se lambuze na febre indecente das bocas avermelhadas da sua alma de puta.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 19 de junho de 2008

CÁLCULO

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Calculo o tempo sem tempo
atrasado para o meu encontro com a tarde
trabalho rápido
computadores em fogo
e legiões de mensagens elétricas
aos turbilhões me esmagando
e eu corro
preciso calcular o tempo
o tempo ágil e complexo
interposto entre mim e minhas paixões
meus delírios de poeta
distúrbio matemático das teclas
dos Bios, Hds e Drivers
peças do coração eletrônico
que afoitamente bate em meu peito
de matriz passiva
incolor
com 60 tons de cinza
e um vermelho escorrido
como um quadro inacabado
de um artista de sarjeta
nomeado por mim de impostor
de vírus insaciável da alma
do cálculo matemático do tempo
que é preciso calcular
antes do meu encontro com a tarde
mas é tarde
os megas dos meus sonhos se acabaram
e o tempo
maldição da eternidade
teima em não aceitar o cálculo
e cai
t
e
m
p
o

letra por letra no fundo incomensurável
da tela da agonia do meu ser moderno
extremo resplendor da raça
enterrada na CPU irrequieta
de um ACERNOTE sem amor
de um ACERNOTE sem paixão
de um ACERNOTE sem perdão
para com o meu tempo incalculável
para com o meu encontro com a tarde
última razão de existir
prova concreta que estou vivo
e fora dos mecanismos amorfos
de um tempo sem fronteiras
entre o coração e a máquina.
(Santos/Sp-21abril1995/12:24hs/Sexta-Feira)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 18 de junho de 2008

O PÃODEAÇÚCAR

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Tem coisa que precisa ser dita.

- Por mais chata que seja.

- Então vou dizer!

- O PãodeAçúcar, pelo menos o 24 horas de João Pessoa, é um supermercado interessante - no sentido negativo.

- Raras não foram as vezes que comprei queijos e outros frios, dentro do prazo de validade - vencidos, principalmente queijo parmesão.

- E sempre trocam com a maior cara de santo.

- Os preços são diferenciados - o cliente paga o ar-condicionado e as luzes 24 horas em dobro.

- Tudo é extremamente caro e ainda obrigam o cliente a empacotar as próprias compras.

- A falta de caixa é endêmica.

- Se arvora em ser o "Deus dos supermercados" - "tudo fresquinho!", "tudo bonitinho!", "tudo limpinho!" - "garantimos a qualidade e a origem dos nossos produtos!".

- A propaganda é tanta que a gente confia nos caras.

- Confia tanto que outro dia achei um desaforo.

- Eles vendem carne da seguinte maneira: a peça inteira é um preço, o pedaço é outro e o bife, por exemplo, outro.

- Eles cobram para cortar a carne!!!

- Comprei uma bandeja de bife de chã-de-dentro com a "qualidade PãodeAçúcar" ,

- Cheguei em casa, bati os bifes, temperei e fritei.

- Quando fui comer - sola de sapato das boas - só faltavam os pregos. Nem serra elétrica deu jeito.

- Fui ao lixo, peguei a embalagem - lá estava: chã-de-dentro, o original!

- Porra!, pensei, isto é um desacato.

- Não vai ficar assim!

- Fritei mais dois bifes, fiz um arrozinho à grega, uma saladinha de rúcula, uma saladinha de tomate, um suco de acerola.

- E fiz uma marmita.

- Dirigi-me ao PãodeAçúcar e mandei chamar o gerente.

- Demorou, mas veio!

- Levei o bichinho até as mesas da lanchonete, sentei-me, pedi que sentasse e lhe entreguei a marmita.

- E disse: come!, eu quero ver você comer o bife que me vendeu!

- Me olhou assustado, não entendeu nada! - ou tudo!

- Também não expliquei nada, mas tive um orgasmo ali mesmo na lanchonete.

- Confesso, a história dos queijos é verdadeira.

- A do bife duro, também.

- A marmita foi uma fantasia que eu criei pra me vingar do PãodeAçúcar.

- Mas que deu vontade, deu!!!

- E seria bem mais gostoso se o Abílio Diniz comesse os bifes - provasse do seu próprio veneno.

- Ô Abílio Diniz que não toma jeito!!!

- Falei!!!


(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 17 de junho de 2008

TRANQÜILA VALÉRIA

ELA&EU

- Ah, Tranqüila Valéria, eu sou um homem muito fácil!

- Por qualquer olhar eu caio de 4.

- Por um colinho, de 8.

- Por um abraço, 16.

- Por um beijo "daqueles" eu flutuo, apanho a lua, pinto a Via Láctea de verde, e tomo café da manhã com o diabo.

- Ah, Tranqüila, a minha carência não tem cura... é terminal!!!

- Estou sempre caindo de 4, de 8, de 16... de 128!

- Nem você - nem ninguém - preenche, com exatidão, o grande vazio do meu coração necessitado.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 16 de junho de 2008

O MANSO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Com calma, Emerenciano disse:

- Pô, Maria Alice, tu saiu com o Marcão! Que merda!

- Foi só um chamego, Emê! Um chameguinho de nada! Tu viajou, demorou. Tu sabe que eu num gosto de ficar sozinha.

- Mas o Marcão? Logo o Marcão, que vive me chamando de corno?

- É o que eu tinha na mão, meu nego! A próxima vez eu procuro outro, pode ser até o Lorinaldo!

- O Lorinaldo? Mas logo o Lorinaldo, que vive me chamando de frouxo?

- É não, meu dengo! Tu sabe que tu é meu rei! É só uma safadagenzinha. Eu me amarro mesmo é em tu! Fico toda arrepiadinha quando tô perto de tu.

- Faz isto não, Maria Alice! Fica só comigo!

- Dá não, meu precioso. Tu viaja, demora... tu sabe que eu num gosto de ficar sozinha! Então eu me enrabicho. Mas tu já prestou atenção? É tu chegar e eu corro que nem uma cadelinha pros teus braços. Au! Au! Au! Meu cachorrão!

- Ah, minha cadelinha safada! Minha cabritinha sirigaita. Num sei por que agüento tu!

- Tu me agüenta por que eu sou a tua quenguinha, a tua rapariguinha, o teu amorzinho e tenho aquilo que tu mais gosta... a tua cheirosinha. Chega aqui meu Francisco Cuoco de 30 anos, que eu vô te dá um trato. Vô te dá um banho de cheirosinha! Do jeitinho que tu gosta! Vem cá minha cervejinha gelada, meu pirão de carne, minha farinheira, meu final de semana. Meu pedação de mau caminho!

- Tu é muito safada, Maria Alice! Safadinha!!! Safadin...! Safa...!

- Ah, Emê! Tu é a minha tapioca de coco! O meu acarajé apimentado! O meu sovaco-de-cobra! O meu baião-de-dois! O meu Visa sem débitos.

- Ah, Maria Alice! Minha cheirosinha sem-vergonha!

- Ah, Emê! Gianechine dos meus sonhos! Meu Paul Newman de 18 anos! Minha perdição! Tu viaja quando, mesmo?

- Segunda, minha cheirosinha, segunda!

- Ah, meu croquetezinho!...
.
- Ah, minha cheirosinha!....

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 15 de junho de 2008

POR NÓS (Nem direitos, nem Deveres)

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Idolatrados são os sonhos, os nossos!


Profundos vôos,

claras crateras,
asas azuis,
iluminadas borboletas.

Pobre do homem sem sonhos!
Sem profundezas,
sem raríssimas delícias:
negras memórias de remotas épocas,
verdes esperanças de cenas
de metamorfoses viscerais,
de risos...de vida!

Sozinhos nascemos.
Sozinhos mergulhamos no infinito nada,
nos aborrecidos segredos das tristezas.

Os homens!
Ah, nós os homens!
Poças de sangue represadas,
suspiros coloridos, inertes,
pequenas coerências de miséria,
olhares indecisos, cegos mesmos;
e somos homens!,
elementares desertos de certezas
da fumaça do cigarro sobre a mesa.

E cantamos!
Bebemos goles de delícias
sobre o corpo acidentado dos desejos.
E vivemos!
Observem como vivemos!
Vivos conduzimos nossos erros,
alimentamos, sem vontade, nossos olhos
com as imagens distorcidas dos segredos.

Às vezes penetramos as entranhas

do mistério ensimesmado dos resíduos,
estas partículas espalhadas pela alma,
pedaços do que somos e não somos.
Estas coisas penduradas nos arquivos
das nossas desprezíveis atitudes,
pequenos atos, confusos, obscenos,
contínuas violências gratuitas
fantasmas habitantes do instinto.

Mas sempre somos!

Alguma coisa nos conduz a sempre sermos
objetos de fatais indecisões.

Corrompemos, muitas vezes, a clareza
do que nascemos,
que vivemos,
que amamos,
sempre hostis às nossas imensas emoções.

Caminhamos, nós os homens, muitas vezes,
pelas artérias, essas quentes avenidas,
à procura do amor ou do sorriso,
todos aqueles levianos arrepios
da nossa alma, puta vã, cosmopolita.

E somos tolos!
Construímos altos muros,
branco aço,
cidadelas de angústias
e nos perdemos noite adentro de nós mesmos,
sempre sonhando ver o dia clarear.

E até amamos!
Imaginem que amamos!
Somos vertigens no silêncio de um quarto,
somos lembranças, ajuntamentos de pedaços,
e somos corpos relutando com os corpos,
e somos crises de sozinho que ficamos,
e imaginem!, até choramos bem quietinhos nosso medo
após olharmos se a porta está trancada.

E há pedaços de carinhos espalhados
por todo o quarto amanhecido na ressaca,
e nossos olhos, essas tristes aberturas,
que nunca fecham pra barrar a nossa mágoa,
estão, agora, à luz do dia, estatelados,
de tão cansados de pôr água em nossa barba.

E pobre do homem que não ama!,

que não consegue um sofrerzinho de querer,
aquele homem que só olha um ponto fixo
e não entende que seu olhar já nada vê.

Precisamos nos partir em mais pedaços,
em muitos cacos,
todos brilhos, muita luz.
Precisamos aumentar nossas reservas
de sorrisos, de tesão, de bem querer,
ter mais vontades, mil sentidos, 10 mil almas
para nos darmos num sem fim até morrer.

Mas somos pobres!
Não há muito pra se dar, só pra querer,
há uma erosão de sentimentos em nosso corpo
nos corroendo dia-a-dia e a fazer
de cada parte ainda viva nas entranhas
um feroz lobo que de nós só quer o ter.

Como gritamos, nós, os homens!
quando, sozinhos, nos pegamos
a sorver feroz melancolia,
astutas armadilhas do silêncio.
E gritamos! E ninguém ouve, mas gritamos!
Esperneamos, encolhemos, blasfemamos
e não adianta - ninguém vê.

Somos nós mesmos mergulhados na fumaça
de um passado acomodado na memória
que proibimos de sair pra ninguém ver.

E como ficamos ridículos!
E como ficamos trêmulos!
E como, à noite, os temores nos assustam.

O que fazem de nós, os temores!
Chicoteiam-nos, passam a mão na nossa bunda,
cospem-nos na cara
e nos chamam de covardes.

E como ficam enormes!
Como se agigantam!
Como dançam, cinicamente, à nossa frente!
E como, corajosos de medo ficamos!
E como levantamos, acendemos a luz,
acendemos o cigarro,
abrimos a cerveja
e madrugada adentro ficamos sós,
ficamos sós,
nós e nossos temores,
mergulhados na tênue linha dos mortais,
no fumo e no álcool (um procurando o outro)
numa festa macabra e sem final.
(Santos/Sp-00:01hs/Segunda-Feira)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 14 de junho de 2008

O TELEFONEMA

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Triiiiiimmm. Triiiiimmm! Triiiiimmm!

- Alô!

- Mr. TõeRobert, do Blog Meidi in Breizil?

- Quem é?

- Bush!

- Quem!

- Bush!

- Bush, aquele?

- Yes!

- O que you quer?

- Speak avec you!

- Hablar comigo! Why?

-Yo estoy chateado!

- Mas you is o Bush mesmo? O loco?

- Yes! Yes!

- Yo no gusto de ti!

- Mas Mr. TõeRobert, o Blog Meidi in Breizil speak very mal de la minha persona, de moi. My imagem está very mal no world.

- You merece! You make very cagada, Bush! Par l'amour de Dieu, man! Es un hombre que só make mierda!

- Not! Not! I soy apenas un man sem love! Mi madre non gustava de moi e mi padre abusava de moi quando niño. E look que el miembro de mi padre é mui grande... ah!, mui grandon! You conhece mi padre?

- Su padre is o Bush da war de Iraque I?

- Yes! Yes!

- Tu padre tem cara de loco!
.
- Yes! Yes! Mi padre es mucho loco, bebe en la boca de la botija e ainda come mi madre! Please, Mr. TõeRobert, habla bien de moi no Blog Meidi in Breizil!

- Non! Non! non es posible! Yo não vou com tuya cara!

- You ganha um job na Onu!

- No! - Substitui a Condolissa!

- Tô fora!

- I faço um boquete per ti!

- Eca!

- I...

- Ô Bush, why you no vai se fudê? Yo quero mismo é comer lo rabón de tu madre.

- Mas Mr. TõeRobert, yo soy un hombre sincero!

- Sincero? Ô Bush, la grande mierda que tu padre fez en la vida foi non tirar o pau de la coño de tu madre en la hora de tuya confección!

- Ah, Mr. TõeRobert, i te dou o Afeganistão de souvenir... ou una pedacito de la Amazônia!

- Sai dessa, Bush! En la primera opportunité you joga um monte de bombas in my head.

- No! No!

- Oui! Oui!

- Ah, Mr. TõeRobert, i soy un man fudidon, i soy um veadon enrustido! I quiero tu amor!

- Bush, you necessita de un negron brazilian pra te make confidências in the nigth.

- Ah, Mr. TõeRobert, e o Meidi in Breizil?

- Continua, Bush! Continua te fudendo!

- Ah, Mr. TõeRobert!

- Ah, Bush, vê se you consegue:

- Chupar ice-cream sozinho.

- Beber soup de canudinho.

- Usar cup de vidro.

- Limpar el bundon bien limpinha.

- Ah, Mr. TõeRobert!

- Ah, Bush, why you não vai tomar in tu culo e no volve para la periquitón de la perra de tu madre?

- Hello! Hello! I don't understand ! I don't understand!

- Tu...tu...tu... tu... tu...

- You understand, yes, seu corno!

- E vê se não me liga mais!

- Ó pra tu!!!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 13 de junho de 2008

SUAVE É A NOITE...

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Suave é a noite

com seus cabelos negros debruçados
sobre os ombros do horizonte
e, longe, na face oculta das trevas,
enormes verrugas luminosas
são holofotes sem nomes,
são os olhos dos deuses encarcerados em agonia
na verticalidade dos sonhos,
e nós somos os gritos longínquos do passado,
atormentados em nossa visão noturna da catástrofe
que se aproxima inexoravelmente dos povos,
entediados pelo calor das sombras,
movimentos sutis das almas feridas,
tremendas fissuras de horror,
estampadas carinhosamente
no fundo dos olhos assustados dos seres,
todos os seres que observam sem atenção
a suavidade da noite,
mágica enganadora dos tempos,
último sinal de que estamos ainda vivos,
pelo menos até a manhã desabar
sua luminosidade sem nexo
sobre a face embrutecida dos magos.
(Santos/SP-21Abril1995/11:49hs/Sexta-Feira)


(Fonte:Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 12 de junho de 2008

O NAMORO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Eu também já fui namorado. Amei, fui amado, mandei flores, ganhei creme de barbear, fiz serenatas, comi pipoca no cinema, namorei no portão... dei e recebi muitos amassos.

- Nunca levei namorada pra comer pizza, porque naqueles tempos, graças a Deus, isto não existia. A gente saía comido de casa e o chique, depois do cinema, era namorar no banco do jardim de baixo, no lugar mais escondidinho possível.

- Naqueles tempos também não tinha motel. A transa também era pouca. A maioria das mulheres só dava depois de casadas. No máximo eram uns apertos bem arrochados no portão da donzela, de olho na porta da casa, porque naqueles tempos os pais não dormiam antes de os filhos e as filhas chegarem em casa.

- Namorar no sofá era um atraso: a tv preto&branco - I Love Lucy, A feiticeira, Mister Ed - o sogro cochilando de um lado, a sogra de outro e o pentelho do cunhadinho - parte com o diabo - enchendo o saco de minuto em minuto.

- Mariquinha/maricota/com a direita/com a canhota. Descabelar o palhaço todos os dias, depois do namoro, era um ritual sagrado e importantíssimo: tirava a dor dos colhões.

- Transar com a moça levava somente a duas coisas: casamento na marra, na delegacia - o delegado de padrinho; ou casar numa boa - na igreja - com a presença das famílias e dos amigos.

- Casamentos na marra eram mais comuns entre o carnaval e os nove meses seguintes.

- Tudo era muito diferente. A libido era selvagem, natural e não precisava de nenhum tipo de afrodisíaco para explodir. A mulher, naqueles tempos, era o melhor saquinho de amendoim que existia.

- Mário Moreno, o Cantinflas, num de seus filmes, ao ver passar uma moça com um vestido um pouquinho acima dos tornozelos, diz: "Antigamente a gente olhava uma mulher e ficava imaginando como ela seria pelada; hoje a gente olha uma mulher e fica imaginando como ela seria vestida."

- É o que se passa nos dias de hoje.

- Mas, sinceramente, gosto mais dos tempos modernos; somos mais livres, mais abertos a novas experiências; vamos e voltamos mais vezes; vivenciamos questões sexuais com menos traumas; convivemos ou não com casamentos que nos incomodam; as mulheres, justiça seja feita, estão mais inseridas no contexto social e o conservadorismo de antigamente, ainda muito comum no nosso dia-a-dia, vai revendo seus conceitos e vai se adequando aos novos tempos.
.
- E uma coisa eu digo: namorar é bom em qualquer época, independente de ser no banco do jardim de baixo, no portão da donzela, no sofá do sogro ou no motel.

- Namorem bastante e tenham um bom-dia!

- P.S: Por favor: creme de barbear, não!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 11 de junho de 2008

HERANÇAS

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Minha neta nasceu - já comuniquei o fato no Made In Brazil, de 03/06/2008.

- Andei dando uma olhada na bichinha.

- O meu egoísmo genético é impressionante!

- Ô sei lá o quê forte!

- É tudo meu!!!

- A bichinha nasceu com tudo meu - só não tem pinto!

- A cabeça bonitinha.
- Os olhos verdes.
- Os cabelos loiros.
- A boca delicada.
- O narizinho empinado.
- A orelhinha organizada.
- A mãozinha pequena.
- Os pezinhos de fada.
- Linda da cabeça aos pés!
- Tudo meu!!!

- Achei até sacanagem.

- Nada!, não sobrou um detalhe de mais ninguém: nem dos avós, nem dos filhos, nem do pai, nem da mãe, nem dos antepassados.

- Tudo do que foi feito a minha neta veio de mim!

- A inteligência!
- A bondade!
- O despojamento!
- A humanidade!
- A cidadã exemplar!
- A poetisa!
- A blogueira!
- A viajante!
- A sonhadora!
- A beleza!

- O fodão!!!

- Eu sou foda, meus amigos!

- Foda! Foda! Foda!

- Só tenho dó da bichinha numa coisa:

- Vai ser uma dura na vida!

- Pela carinha de folgada, em questões de sobrevivência, também puxou pra mim.

- Fazer o quê?

- Nem tudo na vida é perfeito!

- E por falar nisto, faço mais um comunicado.

- O nome da gata é Nayanna.

- É minha neta!

- E segurem os seus cabritinhos em casa!

- Que a cabritinha tá no pedaço!

- Arrebatando corações!!!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 10 de junho de 2008

THAZIÊ LAURINDA

ELA&EU

- Ah, Thaziê Laurinda, me ensinaram - digo ensinaram porque não sei quem, se minha mãe, meu pai, os parentes, a escola, a tv, os amigos, a literatura - que um homem deve ser homem, macho independente, solitário, resolvido... fodão!

- Estilo Marlboro - macho pra caralho, viril com as mulheres, violento, afetuoso e auto-suficiente.
.
- Não sei não!

- Não assimilei muito bem essa idéia de macho-man!

- Eu morro de medo da minha masculinidade, mesmo com você que só tem olhos pra mim... e é a paixão da minha vida.

- Acho que sou apenas um homenzinho acuado, mutilado dos seus afetos.

- Sabe, Thaziê, não nasci pra erguer o pau pra provar nada pra ninguém; nasci apenas pra ser um homem comum que, na melhor das hipóteses, de vez em quando te faz feliz... e sorri!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 9 de junho de 2008

O 'ENCHER LINGÜIÇA'

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- O humorista Juca Chaves dizia, há muito tempo, que o futebol era o ganha-pão da imprensa.

- Muitos jornalistas não gostavam da afirmação: não sei se com ou sem razão.

- Mas Juca Chaves num ponto tinha razão: que a imprensa às vezes é fraquinha, isto é.

- Você, com certeza, já ouviu falar no termo 'Encher Lingüiça'. Pois é o que parte da imprensa faz para encher jornal e sobreviver.

- Passe os olhos na Internet, Folha, Estadão, Jornal do Brasil, Globo, Estado de Minas, Diário de Pernambuco, entre outros.

- Nas revistas Veja, Isto É, Época ou outra qualquer.

- Na Rede Globo, na Band na Record ou qualquer outro canal de TV.

- Observe quantas matérias inúteis, quantos assuntos fúteis são publicados e falados diariamente.

- A imprensa alimenta a violência, deixa bandido famoso. Faz de pessoas, sem nenhum predicado, astros da noite para o dia. Valoriza demais idiotas como a Britney Spears. Encheu o saco com o gol mil do Romário. Dá muito canal pra corrupto falar. Dá muita trela pra essa turminha horrorosa do BBB. Cuida muito da saúde dos outros. Enfia a colher no que eu vou comer no almoço. Dá pitacos na minha cervejinha. Trata novela como se fosse arroz com feijão de brasileiro. É apaixonada pelas merdas do Michael Jackson. Divulga música ruim. Dá ênfase a filmes de 2ª categoria e principalmente... 'Enche Lingüiça'.

- E o pior de tudo: a imprensa sabe que tem gente que gosta e consome estas merdas.

- Mas o pior de tudo mesmo é que eu também acabei de 'Encher Lingüiça'.
.
- Ô falta de assunto!!!

- Me perdoem: o Made In Brazil também precisa sobreviver!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 8 de junho de 2008

AO LONGO DOS TEMPOS

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Ao longo dos tempos fui me tornando amargo

sem um buquê de flores para o meu amor
dancei nas estrelas com miss Share Stone
e pulei dos Andes com o meu bisavô.

Ressenti o branco pelos meus cabelos
destrocei memórias de felicidades
naveguei nos mares dos antepassados
cultivei sujeira e muitos rancores.

Desisti da história de querer ser brilho
anoiteci nos desertos da minha vida cega
caminhei as estradas do meu Che Guevara
e terminei sentado no banco da praça.

Perdi os dentes ao morder as carnes
engoli a língua por falar demais
fui ficando cego de tanto encanto
me afoguei nas águas do querer ser homem.

Cativei pessoas e as deixei na estrada
adotei 100 cães e os pus pra fora
sucumbi ao germe da infelicidade
e busquei a fúria como verdadeira.

Não tenho história certa pra contar
às vezes me sinto como um devaneio
um homem que veio sem necessidade
viver num mundo que não é seu meio.

Um homem que vive com o seu veneno

um grande patife, patético, demente
desmesurado e farto de tanta tolice
que sonha à noite que às vezes é gente.
(Eunápolis/Ba-19Fevereiro1999/15:14hs)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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sábado, 7 de junho de 2008

ESTELASOLIS LUCINDA

ELA&EU

- Ah, Estelasolis Lucinda, a gente quando ama não mede esforços para agradar a pessoa amada.

- A gente senta, deita, rola, finge de morto.

- Fica de barriga pra cima, planta bananeira, usa chapéu de palhaço... e é palhaço!

- Compra anel de brilhante com o cartão de crédito, come no melhor restaurante com o cartão de crédito, compra aquele vestido com o cartão de crédito.

- A gente muda de religião, de time, de amigo... larga de beber... fumar.

- Ah, Estelasolis, por você eu fui mais longe: saltei de Bungee Jump, escalei o Everest, votei no Maluf, sorri para o Bush e aplaudi o Lula!

- Por você eu cultivo um jardim de rosas vermelhas no meu coração... com espinhos afiados!
.
(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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sexta-feira, 6 de junho de 2008

LERO-LERO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Bebeu mais uma cachaça, o engov durante - já tinha bebido o antes - e fixou os olhos em Androalva - acompanhada de Mano Brother - guarda-roupas assumido.

- Falou alto com Meleandro - seu amigo:

- Aquela mulher é um tesão!

- Fala baixo! - criticou Meleandro.

- Tesão!...

- Lero-Lero, cala a boca!

- O marido tem cara de corno!

- Lero-Lero!

- Viaaadooo!

- Puta que pariu!

- Boqueteiro!

- Cacete!

- Vou comer aquela mulher... e o viado do marido!

- Tô fora! - Meleandro levantou-se e foi para o balcão.

- Lero-Lero levantou-se e dirigiu pra mesa de Androalva e Mano Brother.

- Aproximou-se, baixou os olhos e olhou bem nos olhos verdes de Androalva e disse... sussurrando:

- Pode ser ou tá difícil!

- Androalva olhou para Mano Brother, para Lero-Lero, para Mano Brother.

- Silêncio.

- No balcão, Meleandro rezava baixinho.

- Lero-Lero ficou olhando para Androalva, abaixou-se novamente e repetiu... sussurrando:

- Pode ser ou tá difícil!

- E completou: tesão!

- Androalva olhou para Mano Brother, para Lero-Lero, para Mano Brother.

- Silêncio...

- Medo...

- Respiração presa...

- Música de suspense no ar...

- O próximo capítulo é amanhã.

- Se a Globo pode fazer isto com você, eu também posso.

- E fiz!!!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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quinta-feira, 5 de junho de 2008

FOTOGRAFIA

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Nossa fotografia, aquela, na parede
com o mar ao fundo
está em movimento.

O mar agitado prenunciando tempestades
balança o barco
e seus cabelos esvoaçam ao vento.

Seus olhos, a cada noite, ficam maiores
e o cigarro que tenho na mão diminui
a cada dia.

Sua barriga cresce, a filha se anuncia
o mar muda suas cores
o meu cabelo embranquece.

Aquela fotografia vive os dias,
o barco parece à deriva
distancia-se da terra.

Distantes vamos ficando:
um do outro
e do mundo.

Mas a fotografia é vida
estamos mergulhados nela
no meio do oceano imenso.

Meu rosto procura uma ilha
o seu procura galáxias
nós dois estamos sem rumo.

Nossa fotografia resiste
ao sol, à chuva, ao frio
aos anos que ela existe.

Juntos, parecemos tristes
às vezes damos um sorriso
que alguém de longe assiste.

Mas valha o seu movimento
somos nós e nossas vidas
no mais esmerado momento.
(Eunápolis/Ba-19Fevereiro1999/14:50hs)


(Fonte:Poema - Autoria de TõeRoberto)
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quarta-feira, 4 de junho de 2008

EVICLEIDE&JUDISLAU

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Evicleide, 1,55 ms; Judislau, 1,80 ms.

- Evicleide, mulata; Judislau, branco.

- Evicleide, flamenguista; Judislau, vascaíno.

- Evicleide, católica; Judislau, evangélico.

- Evicleide, sal; Judislau, doce.

- Evicleide, cerveja; Judislau, coca-cola.

- Evicleide, Só Pra Contrariar; Judislau, Gospel.

- Evicleide, feijoada; Judislau, pirão de carne.

- Evicleide, xote; Judislau, bolero.

- Evicleide, praia; Judislau, rio.

- Evicleide, buraco; judislau, dama.

- Evicleide, sorriso; Judislau, cara amarrada.

- Evicleide, novela; Judislau, igreja.

- Evicleide, sol; Judislau, chuva.

- Evicleide, calor; Judislau, frio.

- Evicleide, 69; Judislau, papai-e-mamãe.

- Evicleide, pt; Judislau, psdb.

- Evicleide, noite; Judislau, dia.

- Evicleide, magro; Judislau, cheinha.

- Evicleide, conversa; Judislau, silêncio.

- Evicleide, carnaval; Judislau, retiro.

- Evicleide, discussão; Judislau, diálogo.

- Evicleide/Judislau&Judislau/Evicleide.

- Amanhã, Bodas de Ouro: 50 anos de casamento.

- Os opostos se atraem: verdade absoluta.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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terça-feira, 3 de junho de 2008

VIOLANTE ROXANE

ELA&EU

- Ah, Violante Roxane, definitivamente ponho-me a chorar por nós dois!

- Pelo reprimido!

- Pelo não dito!

- Pelo desastre da vida adormecida!

- Pelo gozo matinal, mecânico, impreciso... indeciso!

- Nada pior que vidas apenas vivendo... esmagando simetricamente o existir.

- Ah, Violante, o que foi feito das palavras no ouvido?

- E das coxas entre as coxas... o nosso ritmo?

- E das nossas asas... as nossas vidas?

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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segunda-feira, 2 de junho de 2008

COMUNICADO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- Comunico a quem possa ou não interessar no Iraque, no Afeganistão, no Líbano, nos Estados Unidos, na China, em Cuba, na França, na Itália, na Inglaterra, na Argentina, na Oceania, no Canadá, na Alemanha, na Índia, no Chile, no Brasil - para todos os cantos do mundo, enfim - que a minha Neta nasceu.

- Uma criança... apenas uma criança!

- Com sua carinha indefesa, seus olhinhos fechados, sua boquinha sedenta pela seiva da vida - o seio materno.

- Uma criança nasceu!...

- Comunico ao Bush, ao Sarkozy, à Merkel, ao Papa, à Rainha Elizabeth, aos donos da Volks, da GM, da Chevrolet, da IBM, da Microsoft; aos donos da Telemar, da Peugeot, da Boeing, da Tam, da Shell, da Texaco; aos donos do Barcelona, do Manchester, do Milan; ao Fidel, ao Chaves, ao Kirchner, à Bachelet, ao Lula que a minha Neta nasceu.

- Um acontecimento simples e fantástico: a minha Neta nasceu!

- Eu sei que vocês não entendem, da minha parte, tamanha desfaçatez.

- Devem pensar que sou louco... ou, simplesmente... louco!

- Mas digo: será que os negócios das bolsas, o valor do Dólar, do Euro, do Marco, do Iene, do Peso; o sangue das guerras inacabáveis, as disputas desiguais pelo petróleo, a globalização, o avanço tecnológico, o dinheiro guardado nos paraísos fiscais, a exploração inexorável dos trabalhadores na Ásia, a expansão burra e mesquinha do agronegócio, a hipocrisia da Globo, a insensibilidade dos políticos e dos empresários brasileiros; será que tudo isto é mais importante que o nascimento da minha Neta?

- Senhores, por favor!

- Parem tudo!

- Minha Neta nasceu!

- Querem algo maior que ser dono de todo o petróleo do mundo?

- Muito melhor que ser dono da Microsoft?

- Mais prazeroso que jogar bombas no Iraque?

- Mais lindo que o maior pôr-do-sol do mundo?

- Mais romântico que uma noite de lua cheia?

- Mais gratificante que ser um operário e governar o Brasil?

- Senhores, por favor?

- Parem as suas guerras, os sofrimentos dos povos, as fábricas de miséria, a construção de mísseis, a confecção de armas biológicas, as reuniões intermináveis, o fundamentalismo religioso e econômico, a destruição do planeta e venham prestar homenagens à vida - venham para Natal - Rio Grande do Norte - Brasil - América do Sul - Terra - entrem na fila, peçam licença e olhem - apenas olhem - por um segundo, aquele rostinho iluminado e mágico e percebam - que apesar de todas as suas misérias - misérias de vocês - a raça humana ainda pode ter solução.

- E que as suas questões de poder - de todos vocês, crianças más - perto destes olhinhos verdes, não passam de fumaça na curta existência humana.

- Por favor, sejam humildes!

- Dobrem o espinhaço e façam reverências!

- A minha Neta nasceu!

- A vida se esmera... e o planeta não é mais o mesmo.

- Nem eu!!!

- Bem-vinda, Nayanna ou Jaya, o mundo te aplaude de pé!

- E fiquei mais rico - já tenho dois, agora três!...

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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domingo, 1 de junho de 2008

PALAVRAS

POESIA: O INVENTÁRIO DAS ROTAS

Aquelas palavras doeram:

secas, molharam olhos
e queimaram sonhos;
rápidas, chegaram antes
e fecharam portas;
azedas, estragaram o leite
e deixaram fome;
enormes, esmagaram risos
e deformaram caras;
ferozes, destruíram vidas
e cavaram covas;
carnívoras, mastigaram a carne
e cuspiram os ossos.
(Eunápolis/Ba/09Fevereiro1999/06:52hs)


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
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