quarta-feira, 25 de junho de 2008

O PÁSSARO

CRÔNICAS&CONTOS: COM A SUA LICENÇA

- O Pássaro estava lá - no alto - planando - pipa de menino que sonha um dia ter asas.

- Majestoso, enorme, imponente - quase que parado no ar sobre a praia do Tambaú.

- Observava.

- Com sua magnitude me observava.

- Eu também o observava.

- Um acompanhava o outro: ele com as asas - eu com minhas raízes.

- Observei que a única diferença entre ele e eu - além da sua beleza, do seu senso de liberdade e da sua leveza era a certeza de que todos os horizontes do mundo são os seus alvos.

- Aqui embaixo mal vejo os horizontes e tenho a minha vida presa às questões menores que nada têm a ver com beleza, liberdade, leveza e muito menos com certeza em relação a alguma coisa.

- Ele, em sua plenitude, é apenas um Pássaro; eu, na minha pequenez, sou apenas um homem... um Pássaro ao contrário.

- Nasci com o dom das asas, mas os pesos da vida plantaram os meus pés no chão - e as raízes nasceram.

- As asas enfraqueceram e hoje construo máquinas para voar.

- E íamos pela praia.

- No que pensaria o Pássaro?

- Creio que só me admirava tomado de profunda compaixão.

- Um ser tão iluminado deve ser capaz de humana humanidade.

- Eu o observava.

- De repente acho que ele se cansou de mim.

- Acho que percebeu que eu não valia a pena.

- Voou mais baixo, me encarou e num vôo rápido, rasante, disparou como uma flecha rumo ao horizonte azul do mar de João Pessoa.

- Eu fiquei ali - parado - frustrado, com dó de mim mesmo.

- Fiquei olhando sua trajetória até que ele rasgou a parede do horizonte e desapareceu no meio da grandeza do mar.

- Ali sozinho senti como sou nada diante da grandeza infinita das criaturas aladas.

- Das criaturas livres!

- Dos seres maiores!

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB

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