segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sem palavras

Anteontem fui dormir sem palavras.

Sonhei sem palavras.

Acordei, ontem, sem palavras.

Fui ao banheiro sem palavras.

Escovei os dentes sem palavras.

Tomei banho sem palavras.

Vesti a roupa sem palavras.

Conversei com meu amor sem palavras.

Tomei café sem palavras.

Saí pra rua sem palavras.

Entrei no ônibus sem palavras.

Trabalhei sem palavras.

Almocei sem palavras.

Trabalhei de novo sem palavras.

Voltei pra casa sem palavras.

Tomei banho sem palavras.

Comi sem palavras.

Assisti à novela sem palavras.

Fui pra cama sem palavras.

Transei com meu amor sem palavras.

Dormi sem palavras.

Sonhei novamente sem palavras.

Acordei, hoje, sem palavras.

Escrevi este post sem dizer palavra.

E você, caro leitor, ficou sem palavras!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A demolição da Casa Mourisca

Anos atrás, no início da década de 80 - não sei precisar quando - escrevi o poema 'A Demolição da Casa Mourisca'.
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A casa, em questão, era um dos casarões da Avenida Paulista, em São Paulo, que estava na mira da Secretária da Cultura para ser tombada pelo patrimônio histórico e foi demolida pelos proprietários para evitar o tombamento.
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Pela sua beleza, seu valor arquitetônico e histórico criou-se uma resistência contra a sua demolição porque três outras casas já haviam sido demolidas pelo mesmo motivo.
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Briga pra cá, briga pra lá, uma madrugada, ao retornar de táxi pra casa, fui testemunha do início da demolição.
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Vi de perto o 'Senhor Capitalismo' trabalhando na calada da noite com todo o seu furor e ganância.
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Do táxi pude observar o interior do banheiro superior da casa, já que a parede estava no chão.
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Observei também uma das salas do térreo, sem parede.
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O jardim, antes lindo, cheio de entulhos.
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E eu comecei a pensar nas pessoas que nela viveram... independente de questões político-sociais.

O táxi seguiu, a casa morrendo... o poema nasceu.

Assim:

O que farão com o tempo que passa na Casa Mourisca?
Passarão uma borracha, jogarão borrão de tinta?

O que farão com as paredes que erguem a Casa Mourisca?
Erguerão um novo templo, contando histórias vividas?

O que farão com o telhado que cobre a casa Mourisca?
Construirão novos abrigos, por todos os seus sentidos?

E os fantasmas das avós que habitam a casa Mourisca?
Gostarão do espigão que ali será erguido?

E o choro da criança aflita que enche a casa Mourisca?
Chorará na eternidade entre o concreto e o vidro?

E o rangido das portas antigas que assustam na Casa Mourisca?
Habituarão com o óleo que virá nas dobradiças?

O que farão com os afetos que dormem na Casa Mourisca?
Acordarão com o barulho do martelo demolindo?

O que farão com os sonhos que vagam na Casa Mourisca?
Colocarão num caixote, jogarão numa piscina?

O que farão com os mortos que jazem na Casa Mourisca?
Desenterrarão os seus ossos, levarão para a polícia?

E os beijos apaixonados que estalam na Casa Mourisca?
Agüentarão os estalos da máquina de datilografia?

E os abraços fogosos que aquecem a Casa Mourisca?
Não ficarão resfriados com o frio do alumínio?

E os coitos angustiados que marcam a Casa Mourisca?
Não ficarão sem orgasmo no frio da secretaria?

O que farão com a vida que foi a Casa Mourisca?
Transformarão em poeira, queimarão os registros?

O que farão do orgulho do rosto da Casa Mourisca?
Baterão com o ferro, racharão sua superfície?

O que farão com os cantos que cantam na Casa Mourisca?
Levarão pra praça pública, condensarão em um disco?

E o chá das quatro horas que alegra a casa Mourisca?
Será transformado em café, comprado na padaria?

E os jantares de gala que cheiram na Casa Mourisca?
Sucumbirão perante o queijo, o presunto e a lingüiça?

E os talheres de prata que brilham na Casa Mourisca?
Perderão todo o seu brilho, será o mesmo que lixo?

O que será deste mundo de todas as casas Mourisca?
Também não será respeitado, também não terá justiça?

O que será desses homens que roubam a casa Mourisca?
Viverão impunemente seus dias de confraria?

O que será desses homens que matam a casa Mourisca?
Receberão no fim do mês seus salários de assassinos?

O que será de nós todos, amigos da Casa Mourisca?
Choraremos sua queda, pra esquecer em seguida?

Enfim, foi só uma casa... só um poema!

Mas às vezes a vida nos chama às falas!

E, de uma maneira ou outra, temos que conversar.

Foi o que fiz!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Minhas boemias

Sempre fui boêmio de carteirinha.

'Fui da noite' em muitas cidades do Brasil:

Florianópolis, Camboriú, Blumenau, Piçarras, Itajaí, Barra Velha.

Vila Velha, Ponta Grossa.
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São Paulo, Itararé, Tietê, Sumaré, Americana, Campinas, Nova Veneza, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Franca, Bauru, Mococa, Casa Branca, Lins, Bauru, Tupi Paulista, Panorama, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Iguape, Ilha Comprida, Guarujá, Bertioga, Caraguatatuba, Ubatuba, São Sebastião.

Belo Horizonte, Guaranésia, Arceburgo, Guaxupé, São Sebastião do Paraíso, Passos, Cássia, Capetinga, Pratápolis, Itaú de Minas, Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, São Lourenço, Caxambu, Varginha, Cambuquira, Três Corações, São João Del Rei, Barbacena.

Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Parati, Mangaratiba, Ilha Grande, Niterói, São Pedro da Aldeia, Rio das Ostras, Macaé.

Vitória, Anchieta, Guarapari, Cachoeiro de Itapemirim, Marataízes, Itapemirim, Domingos Martins, Venda Nova dos Imigrantes, Jacaraípe, Guriri, Conceição da Barra, Itaúnas.

Salvador, Prado, Caraíva, Caravelas, Arraial d'Ajuda, Porto Seguro, Trancoso, Cabrália, Santo André, Belmonte, Eunápolis, Itamaraju, Teixeira de Freitas, Itabuna, Ilhéus, Itacaré, Canavieiras, Olivença, Camamu, Barra Grande, Valença, Guaibim, Itaparica, Nazaré, Lençóis, Mangue Seco.

Aracaju, São Cristóvão, Laranjeiras, Propriá.

Maceió, Maragogi, Porto de Ruas.

Recife, Olinda, Porto de Galinhas, Barra do Sirinhaém, São José da Coroa Grande, Gaibu, Maria Farinha, Igarassu, Itamaracá, Goiana, Ponta de Pedras, Paulista, Gravatá, Caruaru, Jaboatão, Carpina, Tracunhaém.

João Pessoa, Baía da Traição, Jacumã, Monteiro, Cabedelo.

Natal, São José do Mipibu, Praia de Pipa, Baía Formosa, Pirangi do Sul, Genipabu, Muriú, Maracajaú, Touros, São Miguel do Gostoso, Galinhos, Mossoró.

Fortaleza, Caponga, Canoa Quebrada, Aracati, Iguape, Jericoacoara.

Brasília.

Goiânia, Inhumas, São Luiz dos Montes Belos.

Entre outras dezenas de cidades onde exerci o meu dever cívico de boêmio.

Fora um incidente recente em João Pessoa, eu e meus amigos nunca fomos vitimados por qualquer ato de violência.

Mas conheço trocentas pessoas que foram assaltadas, na noite, nos últimos 5 a 10 anos.

Ser boêmio na época em que o Brasil 'era pobre' era bem mais seguro.

Agora que o Brasil 'parece estar ficando rico' não existe mais segurança pra se praticar a boemia.

Me responda algumas coisas:

Por que quando o Brasil, segundo diziam, 'era mais pobre' a violência era menor?

Por que quando o Brasil, segundo estão dizendo, 'ficou mais rico' a violência aumentou?

Não parece que o Brasil é o único país do mundo que corre na contramão da história?

Todos os países do mundo que aumentam a riqueza e distribuem melhor a renda não diminuem os índices de violência?

O que rola por aqui?

Manipulação de dados?

O Brasil 'está ficando mais rico', mas só os mais ricos?

Os pobres continuam olhando com os olhos e lambendo com a testa?

Me responda se você for capaz.

Que eu vou ao supermercado buscar uma loirinha pra tomar em casa, porque lá fora a coisa tá feia!

Com um 38 na mão!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Soluções&cervejas

Eu sempre desconfiei que criatividade é tudo!

Não existe um programa na tv que se chama "Pequenas Empresas, Grandes Negócios"?

Onde, quase sempre, a criatividade é a alma do negócio?

A solução às vezes está na cara e a gente não enxerga.
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Mas não foi o que aconteceu com um homem da cidade de Fulda, na Alemanha.

O cara matou a cobra e mostrou o pau.

O sujeito de 39 anos, um verdadeiro amante da cerveja, solucionou com criatividade o alto custo do seu consumo diário da loirinha.

Passou a alugar a esposa de 32 anos, ao vizinho de 60, em troca de um engradado diário de garrafas de cerveja.
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Não se sabe se a esposa gostava.

Mas a polícia, desmancha prazeres, não gostou.

E o beberrão e o vizinho comedor de vizinha foram em cana.

Eu também saquei um grande negócio.

Eu quero ser alugado para a minha vizinha.

Nem que for de graça!

Eu quero ser prisioneiro 'daquela coisa!

E não quero ser salvo de jeito nenhum!

Manda a polícia à merda!
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Quero me tornar um homem-objeto!

Sem direito a final de semana!

Nem aposentadoria!