segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sem pena

Quero um beijo frio que me leve à morte
ao meu destino, a minha sorte
te quero nua, sem desejo próprio
trazendo nos lábios o gosto do ópio.

Quero teu corpo, meu sonho/pesadelo
dentro do meu sono derradeiro
te quero desejosamente angustiada
a gemer, de costas, na cama deitada.

Quero te ter uma noite apenas
depois eu morrerei, mas não tenha pena
quero morrer em teus braços, de febre ardendo
não quero sofrer fora deles, vivendo.

TõeRoberto-são paulo/sp-24dezembro1974

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

À procura da poesia

Eu tinha um hobby interessante.

Adorava trepar, a mulher por cima, e eu fumando, bebendo... lendo poesia.

Drummond participou de diversas fodas minhas.

Fernando Pessoa.

Cecília Meirelles.

Pablo Neruda.

Bandeira.

Eu...

Tardes e tardes de Minister, Brahma, poesia... fodas.

Maravilhoso!

Interação total!

Hoje parece que eu me perdi no tempo.

Deixei de fumar, bebo menos, trepo quase nada... e acho que a poesia morreu assassinada na cama de um casal de amantes qualquer.

E veio a AIDS.

A camisinha.

A quase total falta de contato físico.

O sexo pelo sexo.

E o papo de que sexo é a palavra ou o silêncio definitivo dos casais no cio.

Ô decadência!

Ô falta de criatividade.

Ô gente que só sabe subir o pau e molhar a piriquita.

Tem dó!

Cadê o lirismo dos corpos suados?

A beleza da palavra entrando pelos poros?

As almas se fundindo no gozo poético?

Cadê o arrepio pelos gemidos de prazer?

Cadê a lágrima doce que escorria solitária dos olhos da amada?

Sublimada pelo sexo apaixonado.

Pela emoção.

E pela poesia esparramada pelos lençóis amarrotados na penumbra do quarto.

E pelos doces olhos dos amantes.

Hoje abraçados em profundo silêncio.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A ditadura da música ruim

Uma coisa é certa:

Ouvir Beethoven, Tchaikovsky, Wagner, Chopin, Mozart, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Chico Alves, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Elis Regina, Luiz Gonzaga, Caetano, João Bosco... etc etc etc 24 horas por dia seria um saco.

Ninguém merece!

Agora, aguentar Bruno&Marrone, Leonardo, Daniel, Ivete Sangalo, Xitãozinho e Xororó, Zezé di Carmargo&Luciano, Margareth Menezes, Cláudia Leite, Banda Calypso, Gaviões do Forró, Chiclete com Banana... etc etc etc na cabeça o dia, o mês, o ano inteiro é coisa pra se chamar a polícia pra acabar com a poluição sonora.

Ô bando de gente chata!

Ô horror!

Ô ditadura cruel da música ruim.

Os caras mandam nos repertórios das rádios.

Mandam em tudo!

Sou contra tudo&todos?

Não!

Todo mundo tem o direito e merece o seu lugar ao sol.

Só que no Brasil este povo de música ruim ficou com o sol só pra eles.

Não entra mais ninguém!

É negócio fechado!

Um saco!

Bem que poderíamos ouvir todos os dias Beethoven, Tchaikovsky, Wagner, Chopin, Mozart, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Chico Alves, Paulinho da viola, Chico Buarque, Elis Regina, Luiz Gonzaga, Caetano, João Bosco... Bruno &Marrone, Leonardo, Daniel, Ivete Sangalo, Xitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo&Luciano, Margareth Menezes, Cláudia Leite, Banda Calypso, Gaviões do Forró, Chiclete com Banana... e também o Mél, o Viola de Bolso e mais um monte de grandes compositores que não têm a menor chance de participar do mercado musical brasileiro.

Bem que poderia acontecer, não?

Mas o dinheiro sempre fala mais alto.

E cala algumas boas cabeças.

E silencia as boas canções.

É uma pena!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Confissões de uma puta cansada

Caro João, a vida tá foda! Tem 3 dias que eu não durmo, só fudeno. Tô com 2 aluguéis atrasados e o dono do imóvel, aquele viado, não tá mais aceitando piriquita como pagamento. O desgraçado quer em dinheiro.

Não sei como vim parar nessa vida de merda. Sempre fui responsável, inteligente. Tanto é que fiz até o 4º primário, sei ler e sei assinar o nome.

Acho que entrei nessa vida por culpa daquele corno do Zezinho que me enrolou direitinho com aquele negócio de que no cuzinho não tinha problema.

Acabei gostando daquilo e acabei perdendo o cabaço com aquele safado. E daí não parei mais. O Mário, o Carlos, o Manoel, o Roberto, o Anderson, o Carlito, o Marquinho, o Chiquinho da Rita, o Jiló, o Melchíades, o Galego, o Leporácio, o Serjão, o Antenor, o Valdir, o Antônio, o Tiago, o Azevedo, o Fuinha, o Marreta, o Pancadão, todo mundo me comeu. Até que achei desaforo dar de graça pra todo mundo e comecei a cobrar.

No começo eu achava gostoso. Era bom, muito bom! Cada hora uma pica diferente, uma chupada diferente, uma conversa diferente, uma doidura diferente e sempre um dinheirinho na bolsa.

Cerveja à vontade, cigarro, baseado, cachorro-quente na cama, às vezes um carinho... ou um tapão, mas era bom; bom a ponto de fazer carreira, não querer sair mais.

Mas sabe como é. O tempo passa, a formosura vai se acabando, o pique não é mais o mesmo... você vai ficando cansada e acabei tendo que arrumar um emprego aqui com a Dona Chica, que lá fora a coisa estava feia.

Era provisório, mas acabou virando um provisório definitivo. Aqui cheguei, nunca mais saí.

Até que teve uns tempos bons, mas agora mudou tudo. O beréu anda devagar e a coisa tá ficando preta pra todo mundo aqui.

Não sei o que anda acontecendo. Os homens tão raleando, o movimento caiu mais de 50% e o dinheiro tá curto.

Aninha, que trabalha aqui comigo e estuda pra ser advogada, me disse que é culpa da tal de internet. Que a maioria dos homens de hoje gosta mesmo é de ficar vendo mulher pelada nessa tal internet e batendo punheta. Que ficaram acostumados com isto e agora só querem viver na mão.

Aninha me disse que estão começando a esquecer o que é arregaçar a pica com uma mulher gostosa de verdade. E que muitos estão arregaçando mesmo é a pica dos amigos. Ela me disse que na escola dela tá cheio de viado.

É uma merda, não é? Eu não entendo nada disso, mas sempre achei que fuder é bom quando tem um homem, uma mulher ou vários homens e uma mulher, ou várias mulheres e um homem. Mulher com mulher e homem com homem eu nunca gostei muito disso não, porque nunca fui de gostar de viadagem.

Sei lá, tô me sentindo meio sozinha. Parece que ninguém mais presta atenção na minha pessoa e, atualmente, eu tenho aguentado muito bêbado e gente de idade que nem dá mais no coro. Às vezes me dão uma gorjetinha só pra ficarem olhando eu bater uma siririca.

Sorte mesmo teve a Walkíria que casou com o homem dela, o Maurição, o caminhoneiro. Dizem que já tem até filho e casa própria. Também com um rabo daqueles eu já tinha comprado um prédio e arrumado uns 10 maridos.

Eu cansei dessa vida, João. Já devo ter enfiado uns 3 km de pica no rabo, uns 6 na boca e uns 12 na piriquita. Tô num ponto que quando vejo um pinto me dá uma agonia danada, uma vontade doida de sair correndo e gritando! Acho que enfastiei, tô com pinto por aqui.

Eu queria poder voltar pra casa de pai e mãe. Sei que eles estão velhinhos e nunca me perdoaram por ter virado puta, já que eu não tinha necessidade disso.

Converse com eles pra mim, João. Fale pra eles que eu tô fudida. Só que não fala assim, fale de outro jeito que mãe não gosta de palavra feia, nem pai.

Faz este favor pra mim, João. Eu preciso sair dessa vida. Tô cansada! Isso aqui já deu o que tinha que dar, eu já dei o que tinha que dar e já paguei todos os meus pecados, até os que ainda vou cometer.

Ah, e vê se pai e mãe paga a minha passagem que eu tô lisinha de tudo, dinheiro nem pra comprar uma caixa de fósforos!

Faz essa caridade, João!

Da sua sempre amiga Geneilda, que muito te quer.

P.S:

Pra você eu vou abrir uma exceção. Quando chegar aí vou te pagar um boquete.

Um abraço!