quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Obrório

Obrório sentou-se e ficou ali olhando Bidinha.

Bonita, jovem... uma marca de nascença junto ao olho direito.

Passou a mão pelos cabelos, o dedo indicador nos lábios... um movimento lento e circular.

Pegou, com cuidado, a cabeça e colocou no colo.

Passou a mão direita na testa... depois beijou.

Bidinha parecia dormir.

Debruçou-se sobre ela e a abraçou forte, mas com ternura.

Ficou ali, na penumbra do quarto, num profundo silêncio.

Não mais se mexia.

O abraço mais longo da sua vida.

O sentimento mais visceral.

01 dia, 02 dias, 03 dias... ali!

Nem água nem comida.

Necessidades ali mesmo, do jeito que estava.

Telefone tocava, campainha tocava... nada!

04 dias!

Abraçado.

No 5º dia saiu do abraço.

Deitou-se lado a lado com Bidinha.

Fechou os olhos, balbuciou silenciosamente uma das poucas orações que conhecia.

Duas lágrimas: uma em cada olho.

Pegou a mão de Bidinha e segurou forte.

A noite começou a invadir sua alma.

Mas ainda ouviu quando, num estrondo, a porta da rua veio abaixo.

Ainda ouviu quando invadiram o quarto.

Ainda ouviu quando disseram: Que horror! Que tragédia! Bidinha sabia que isto acabaria acontecendo!

Ainda sentiu quando enfiaram a agulha no seu braço e o levantaram da cama.

Suspirou... apenas um suspiro, mais nada!

E ouviu, longe, quando alguém se apiedou da sua alma.

.
TõeRoberto

Nenhum comentário: