domingo, 30 de agosto de 2009

Marizilda

Solteirona - 38 anos - Marizilda, desde os 07 anos de idade andava à procura de Jesus.

Ninguém sabia se ela O havia encontrado porque, com certeza, não era muito convincente nos seus discursos do dia a dia.

Mal-humorada, tensa, nervosa... irritadiça... às vezes O negava em suas preces secretas.

Poucos amigos, igreja de segunda a segunda.

Canais de tv só os que transmitiam programas religiosos.

Livros, só a Bíblia ou similares.

Penitências, novenas.. terço na mão onde estivesse.

Uma mulher de 38 anos, traços bonitos, recatada - sufocada pelo mar da fé.

Uma manhã, a fatalidade: o sacristão da igreja da comunidade se foi - ataque cardíaco fulminante.

Choros, velório, enterro... mas a vida continua.

Foi providenciado outro sacristão.

15 dias depois, Marizilda, ao chegar à igreja, deparou com um rapazote dos seus 28 anos fazendo uma arrumação no altar.

Marizilda ficou olhando.

O rapaz era bonito - pensou - e ficou corada.

E levava jeito no arranjo das flores, na arrumação geral do ambiente.

Ficou ali de pé.

Olhava, com curiosidade, a arte do rapaz.

Nisto, ele se vira e crava os olhos verdes - como os de Jesus - nos olhos azuis de Marizilda.

Ela corou novamente e deixou cair o terço - nervosa.

Ele se aproximou, abaixou-se, pegou o terço e entregou a Marizilda.

Ela corou novamente.

Ele se apresentou: sou o novo sacristão, meu nome é Jesus.

Corou 450 vezes sucessivamente, ficou tonta, o chão faltou-lhe, agarrou no encosto do banco pra não cair, e sentou-se.

Zonza, ainda ouvia a voz do rapazote: "sou o novo sacristão, meu nome é Jesus".

Não conseguia entender o que se passava com ela.

Rezou em silêncio 09 ave-marias, 11 pais-nossos, 05 salve-rainhas e mais umas 30 orações que conhecia.

Jesus ficou ali tentando acudi-la.

E quanto mais ele pegava as mãos de Marizilda pra confortá-la, mais tonta ela ficava, mais ela rezava intimamente, menos ela entendia o que se passava com ela.

E do nada, com Jesus segurando suavemente as suas duas mãos e com os olhos verdes cravados nos seus olhos azuis, Marizilda sentiu um fogo, uma onda quente subir pelas pernas, passar pelas coxas, pelo meio das pernas, pela barriga, pelos peitos e subir para a cabeça.

Amoleceu de vez e teve um arrepio que chacoalhou seu corpo inteiro e, por um segundo, pensou estar tendo um ataque epiléptico.

E teve outro...

E outro...

E outro...

E outro...

Sem perceber, havia encontrado Jesus.

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TõeRoberto

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