segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Somente isto

Quando nasci, no momento da dor, do rompimento do meu elo com a minha mãe, no momento do tapa, do choro... eu me perguntei:

Nascer é somente isto?

E lá na frente, quando sozinho me vi na escola, sem o apoio da minha mãe, do meu pai, os colegas infernizando... eu me perguntei:

Sentir-se sozinho é somente isto?

E depois, na formatura da universidade, no meio da festa, da euforia, eu me olhei no espelho, e segurando o diploma bonito... eu me perguntei:

Sentir-se realizado é somente isto?

E quando arrumei um emprego, o salário dos sonhos, poder, futuro garantido, olhando da janela para o topo da cidade sem fim... eu me perguntei:

Ser alguém na vida é somente isto?

E, um dia, diante do mar, o verde, o ir e vir, a espuma branca no fundo dos meus olhos, sentindo a alma vibrar... eu me perguntei:

A beleza é somente isto?

E quando o meu amor me deixou, eu, por meses, desesperado, pensei que fosse morrer, mas quando não morri, sentindo meu coração que sofria... eu me perguntei:

O amor é somente isto?

E quando no desemprego, na queda do topo do mundo, eu me vi no chão da cidade dura, com os meus pés no chão, olhando minhas roupas rotas... eu me perguntei:

O fracasso é somente isto?

Doente, sem meios de curar a dor, a dor lancinante que comia o meu corpo, dilacerava minha alma, quando me vi numa cama... eu me perguntei:

A dor é somente isto?

E um dia, os olhos fechando, a vida se esvaindo aos poucos, um som rouco na garganta, sentindo o coração que parava... eu me perguntei:

A morte é somente isto?

A vida é somente isto?

E eu sou somente isto?

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