Ser poeta não é navegar pela mente
à procura de ilhas e sereias,
não é sentir-se poderoso e grande
na ansiedade, no desespero
e na angústia que domina o coração.
Não é falar de amor
e se sentir amado,
não é contar belezas de um mundo novo,
não é chorar em forma de palavras,
tampouco é mostrar glórias,
tristezas, um doce cantar
ou viver do lirismo
de uma flor a desabrochar.
Ser poeta não é ouvir o mar
e dedicar-lhe versos,
não é observar crianças
e senti-las infinitas,
não é sentir no peito
a condição de sofredor,
não é sentir nos olhos
todas as formas de amor.
Não é se trancar no quarto
e fazer um verso à pessoa amada.
Não é viver da poesia
pela poesia
na nostalgia de uma saudade.
Não é observar o horizonte
e senti-lo nas mãos,
nem é passar pela vida
fabricando-lhe exaltações;
tampouco é sentir nos olhos
a grandeza do universo
e fazer com que ele caiba numa folha
ou no fundo de um verso.
Ser poeta é mais que tudo isto,
é trazer no peito a própria razão,
é o jeito de se sentir sozinho
com o próprio coração.
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