segunda-feira, 20 de abril de 2009

VELHO...

Velho
perplexo
patético
contemplo o mundo
e nem por isso nada
se salvará.

Tudo se diluirá
no silêncio das horas
no calor do sol
no balanço do mar
e na tua inefável atitude
perante o teu medo da vida
o teu medo do amor
a tua velha armadura
de gestos
palavras
frases
o teu promíscuo rancor
os teus afagos já gastos
as tuas mordidas de gelo
os teus olhares nefastos.

Tudo se divide agora
enquanto contemplo o mundo.

O tédio é vida e é morte
o sonho é raso e é fundo
a corpo é pedra e é pena
e nem por isso se salvarão
da nossa dura sentença
dos teus sorrisos amargos
das tuas lembranças doídas
dos teus pesares noturnos
dos teus desejos confusos
dos teus pesados tributos
à vida que te escolheu
aos passos que te andou
à fome que te comeu.

Tudo se dilui agora
no negro fundo dos olhos
no gosto azedo da língua
no frio canto da alma
no velho ranço sem nome
no pranto que te envolveu.

Não
nem por isso
nada se salvará
que nada mantém importância
nada no fundo é segredo
nada no fundo é mistério
tudo é desenho de medo.

O vão vazio do instinto
o minuto de silêncio
o crime de sermos presos
ao nada
ao desespero
de sermos pó de estrela
de sermos sangue na veia
de sermos um grito na noite
uma estátua sem modelo
um vento que não esfria
os corpos quentes
sem zelo
de pele que não avalia
o incrível tédio do preso.

Não
de nada adiantará
o sermos alguma coisa
ou sermos coisa nenhuma
pois nada se salvará
nem corpos
almas
nem credos
que o mundo já se perdeu
ao parirmos
ao nascermos
num canto qualquer de um sonho
nossa vida
o degredo
num ponto qualquer desse tédio
nosso silêncio esse medo
de sermos nada que valha
um afago
ou um apego
de sermos nada que sinta
no instante
o desespero.

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TõeRoberto-recife/pe-junho1985-post in férias por aí/br

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