terça-feira, 22 de abril de 2008

O MAR

CRÔNICAS&CONTOS: SOBRE NÓS&OS OUTROS

- Ontem à tarde, sentado diante do mar de João Pessoa - aquela cervejinha gelada - me veio à cabeça o poema "Privilégio do Mar", de Drummond.

"Neste terraço mediocremente confortável
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis
.Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja."

- Declamando o poema mentalmente, aconcheguei-me na cadeira, sorvi vagarosamente, aos goles, aquela maravilhosa cerveja e bati o pé no chão.

- Realmente, o edifício era sólido e pessoas, com ar de cansadas, respiravam a brisa fresca do mar.

- E na baía, diante de mim, no horizonte azul do mar de João Pessoa, apenas 01 ou 02 velas brancas - longe - e 01 ou 02 gaivotas - em vôo calmo - ameaçavam a paz da humanidade.

- Em Brasília, nada disso sabem.

- Sabem apenas que o Brasil é deles e navega em águas mansas - marinheiros fidelíssimos - e esquadras cordiais.

- A cerveja, não sei se Skol, desceu redonda e eu senti no peito o privilégio de estar diante do mar e de - afinal de contas - ser brasileiro, mesmo que honradamente...

- O garçom, sem nada saber, me trouxe outra cerveja.

- No horizonte, velas e gaivotas se fundiram e o cavalo negro da noite sobrevoou o verde mar de João Pessoa com suas asas enluaradas.

(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
Post in Jampa/PB

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