sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A FERA

POESIA: SOBRE HOMENS&PÁSSAROS

Para Luciana Caravieri

Fera escondida os olhos, no peito
na mão que afaga, fere, apedreja
no pé que caminha, come a poeira
no som da viola, no canto, no beijo
no braço que abraça, na voz que corteja.

Fera incontida, inserida, sangüínea
que habita, desliza a boca, o dente
fera impossível, inclemente, impassível
que come, acorda o sonho, o visível
ronda com raiva o sono, o equilíbrio
mata, arrefece o amor e o cio.

Fera que ruge, dá arrepios
vive na noite, na tarde, no dia
muda de cor, de forma, de vista
anda nos becos, nos sons, nas revistas.

Fera contida no tempo, no espaço
na carne, no sangue, no grito, no aço
fera que arranha o coito, o feto
que lambe, lanha o fechado, o aberto.

Fera aflita, sem língua, sem pátria
que fere, arrebenta, alicia, destrata
o branco, o preto, o amarelo, o mulato.

Fera que anda nas furnas, nos matos
na ave que voa, no peixe que nada
no frio da chuva, no sol que maltrata
nas tábuas de Deus, no livro dos ratos.

Fera insensível, que avança, ataca
o homem que explora, o que luta, trabalha
fera que prende, tortura, amordaça
fera que rouba da vida o mormaço.

Fera que rompe. tritura, estilhaça
o papel, o poema, a luz do teatro
fera que agita a rua, o plenário
que anula, violenta o pio do canário.

Fera de pedra, de ferro, de massa
de fogo, neve, vidro, fumaça
que agride, consome o homem, a praça
e serve de arma nas ruas, nas casas.

Fera atrevida sem classe, sem zelo
que avilta, consome o pão, o padeiro
e rouba, condena o rei, o guerreiro.

Fera que anda nua, em pêlos
que corre, circula, nos caules nas veias
e rói como traça o sono, a centelha
de todos aqueles que são seus herdeiros.

Fera que é dura, é negra, é vermelha
é fome, é peste, é sol, é estrela
que amassa, com força, a alma, os pentelhos
as mãos, as palavras, o canto, os cabelos
que explode nas plantas, nos bichos, nos dedos
afoga no escuro os livres, os presos
que às vezes, por honra, é muda, segredo
crime, silêncio do sóbrio e do bêbedo
e que aqui por a termos mordendo no peito
a chamaremos pra sempre comumente... MEDO!!!


(Fonte: Poema - Autoria de TõeRoberto)
Post in João Pessoa/PB

Nenhum comentário: