sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

DA COR DO PECADO

- Naquela manhã Alzeredo contrariou Risoneide pela 3ª vez.

- Risoneide só olhou com o rabo dos olhos, jogou a roupa suja no tanque e começou a esfregar.

- Fervendo por dentro, começou a contabilizar mentalmente as roupas:

- Calça de Alzeredo... Calcinha de Risoneide... Camisa de Alzeredo... Vestido de Risoneide... Cueca de Alzeredo... Cueca de Alzeredo... Blusinha de Risoneide... Meia de Alzeredo... Camisa de Alzeredo; parou, ficou pensativa, levou a camisa no nariz e sentiu o perfume... respirou fundo.

- Levou novamente a camisa no nariz e cheirou novamente... lá estava o cheiro: claro, cristalino, forte, barato... de mulher!

- Contou até 10, mas não se virou.

- Ficou de pé, com a barriga no tanque, com a camisa na mão; branca - morena que era - como uma vela.

- Alzeredo, no banheiro, fazia a barba.

- O café estava na mesa: suco de laranja, leite, café, bolacha de maizena, pão, manteiga, goiabada e queijo.

- Alzeredo, no banheiro, cantarolava:

" Este corpo moreno cheiroso, gostoso que você tem..."

- Risoneide, com a camisa na mão, o coração querendo sair pela boca... uma coisa ruim por dentro, uma vontade de arrancar aquele tanque com uma porrada, de cortar os pulsos... tomar veneno.

- No tomar veneno olhou na prateleira, acima do tanque, e viu uma embalagem verde, com a foto de um rato... uma caveira desenhada.

- Ficou sem fôlego, mas pensou... que pensou, pensou!

- Ficou 1/2 que sem jeito com o pensamento.

- Alzeredo, no banheiro:

"É um corpo delgado da cor do pecado que faz tão bem..."

- O sangue fugiu dos lábios de Risoneide.

- E fixou novamente os olhos na embalagem verde, com a foto de um rato... uma caveira desenhada.

- Um troço ruim percorreu todo o corpo: como uma onda começou na cabeça e terminou nos pés... e sacudiu o sangue.

- Furiosa - em silêncio - jogou a camisa no tanque, pegou a embalagem verde e foi para a sala.

- A mesa de café: suco de laranja, leite, café, bolacha de maizena, pão, manteiga, goiabada e queijo.

- Olhou para o suco de laranja, com a embalagem verde na mão.

- Num movimento rápido, fez o sinal da cruz, despejou o troço no suco de laranja, mexeu e correu de volta para o tanque... o coração saindo pela boca.

- E continuou esfregando e contabilizando: Bermuda de Alzeredo... Sutiã de Risoneide... Camisa de Alzeredo...

- E, no banheiro, Alzeredo:

"Este beijo molhado escandalizado que você me deu..."

- Risoneide esfregou a camisa perfumada com força.

- E ouviu quando Alzeredo saiu do banheiro, passou pela mesa de café, pegou o copo de suco de laranja... e cantarolou:

"Tem um sabor diferente que a boca da gente jamais esqueceu..."
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TõeRoberto-05:06-post in jampa/pb

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