segunda-feira, 10 de novembro de 2008

SOBREVIVÊNCIAS

CRÔNICAS&CONTOS: SUA ALMA, SUA PALMA

- Houve um tempo em que eu não contava estrelas.

- Nem admirava os olhos de uma bela mulher.

- Nem dava a mínima atenção à lua.

- Não enxergava o desabrochar das flores.

- Não ouvia o canto dos pássaros.

- Nem o ruído manso da chuva na vidraça.

- Não afagava os animais.

- E não tinha a menor idéia que havia amanheceres.

- Que havia raios de sol no entremeio das folhas da relva.

- Eu me lixava pras felicidades.

- Comer era um gesto mecânico para sobreviver.

- Não deixava a música penetrar no meu íntimo.

- Lacrava em caixas os livros de poesia que encontrava.

- O riso era encarcerado.

- O bom-humor, artigo de luxo.

- O querer bem uma fatalidade.

- Houve um tempo em que eu me neguei como pessoa.

- Me entreguei ao mundo dos ausentes.

- E passei momentaneamente pela vida como um viajante sem bagagens.

- Um viajante sem rumo.

- Um homem que simplesmente necessitou sobreviver.

- E os que sobrevivem não têm tempo para encantamentos, se perdem no pântano das necessidades diárias e reais e não enxergam, à sua frente, o lado simples e mágico da vida.

- Houve um tempo em que sobrevivi a mim mesmo.

- Hoje ainda carrego marcas da minha sobrevivência.

- Mas já consigo sentir um pequeno arrepio a cada manhã.

- Consigo enxergar o sol.

- A delicadeza da água.

- Os olhos do meu filho.

- Sinto as asas crescerem.

- Qualquer dia acordarei anjo.

- E voarei pelas minhas entranhas à procura dos meus arrebóis.

- E me tornarei novamente uma pessoa.

- Sem remorsos!
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(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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